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Terminou em Roma o Sínodo dos Bispos sobre a família
Luz na escuridão do mundo
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O Papa Francisco deseja que a Igreja caminhe junta para “levar a toda a parte do mundo” a “luz do Evangelho”. No discurso de conclusão do Sínodo dos Bispos sobre a família, o Papa assinalou que este encontro de três semanas não encontrou “soluções exaustivas para todas as dificuldades e dúvidas que desafiam e ameaçam a família” e garantiu que “o desafio” que a Igreja tem “pela frente é sempre o mesmo: anunciar o Evangelho ao homem de hoje”.

 

O Sínodo dos Bispos sobre a família terminou no Vaticano, no passado sábado, 24 de outubro, com o desejo de que a Igreja caminhe junta. “Na verdade, para a Igreja, encerrar o Sínodo significa voltar realmente a «caminhar juntos» para levar a toda a parte do mundo, a cada diocese, a cada comunidade e a cada situação a luz do Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio da misericórdia Deus!”, observou o Papa, no discurso conclusivo.

Francisco partilhou, na sua reflexão, a questão (ver caixa) que foi colocando durante todo o encontro, que teve início a 4 de outubro. “Enquanto acompanhava os trabalhos do Sínodo, pus-me esta pergunta: Que há-de significar, para a Igreja, encerrar este Sínodo dedicado à família? Certamente não significa que esgotámos todos os temas inerentes à família, mas que procurámos iluminá-los com a luz do Evangelho, da tradição e da história bimilenária da Igreja, infundindo neles a alegria da esperança, sem cair na fácil repetição do que é indiscutível ou já se disse. Seguramente não significa que encontrámos soluções exaustivas para todas as dificuldades e dúvidas que desafiam e ameaçam a família, mas que colocámos tais dificuldades e dúvidas sob a luz da Fé, examinámo-las cuidadosamente, abordámo-las sem medo e sem esconder a cabeça na areia”.

 

Defender a família

Aos padres sinodais, o Papa sublinhou que “o desafio” que a Igreja tem “pela frente é sempre o mesmo: anunciar o Evangelho ao homem de hoje, defendendo a família de todos os ataques ideológicos e individualistas”. “A experiência do Sínodo fez-nos compreender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão. Isto não significa de forma alguma diminuir a importância das fórmulas – são necessárias –, a importância das leis e dos mandamentos divinos, mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos trata segundo os nossos méritos nem segundo as nossas obras, mas unicamente segundo a generosidade sem limites da sua Misericórdia”, destacou o Papa Francisco, lembrando igualmente que “o primeiro dever da Igreja não é aplicar condenações ou anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus, chamar à conversão e conduzir todos os homens à salvação do Senhor”.

 

Relatório Final

O Sínodo da Família, que teve duração de três semanas, concluiu com a votação dos padres sinodais ao documento ou Relatório Final. “Amplo consenso sobre o Relatório Final do Sínodo dos Bispos sobre a família. Em 94 pontos, a Assembleia Sinodal dos Bispos reuniu o seu mais recente documento sobre a Família, após 2 anos de intenso debate e participação das comunidades. Todos os pontos foram aprovados com maioria qualificada. Em particular, os parágrafos dedicados às situações familiares difíceis foram aprovados no limite dos dois terços dos votos expressos”, descreve a Rádio Vaticano (RV).

No número 84 do Relatório Final, “os padres sinodais propõem uma maior integração dos divorciados recasados nas comunidades cristãs, sublinhando que a sua participação pode ser ao nível dos diversos serviços eclesiais”, refere a RV. “A esta situação específica dos casais em segunda união, o número 86 do Relatório Final faz referência a um percurso de acompanhamento e de discernimento espiritual com um sacerdote”, acrescenta a informação.

Luz na escuridão do mundo – é desta forma que o Relatório Final do Sínodo define a família, “num texto que se apresenta com uma atitude positiva e acolhedora, onde é reafirmada a doutrina da indissolubilidade matrimonial”. “Contudo, para as situações de maior complexidade familiar é recomendado o discernimento dos Pastores e uma análise em que a ‘misericórdia’ não seja negada a ninguém”, lembra a Rádio Vaticano.

O documento sinodal “não cita expressamente o acesso à Eucaristia para os divorciados recasados, mas recorda que esses não estão excomungados”. Quanto às pessoas homossexuais, “é reafirmado no Relatório que não devem ser discriminadas, mas é declarado que a Igreja é contrária às uniões entre pessoas do mesmo sexo”.

De evidenciar também “o reforço da preparação para o matrimónio apresentando a necessidade de uma formação adequada à afetividade, sendo chamada a atenção para a ligação entre ato sexual e ato de procriação, do qual os filhos são o fruto mais precioso porque transportam em si a memória e a esperança de um ato de amor”.

Realce ainda, segundo a Rádio Vaticano, “para a educação sexual e para a promoção de uma paternidade responsável”. “Neste particular, é feito um apelo às instituições para tutelarem a vida. Aos católicos comprometidos com a política é-lhes pedido que defendam a família e a vida. A este propósito, o Sínodo reafirma a sacralidade da vida e chama a atenção para as ameaças à família, tais como, o aborto e a eutanásia”, lembrou a RV.

No final do Relatório Final, “os padres sinodais afirmam oferecer o documento ao Santo Padre para que avalie e pondere a eventual continuação deste caminho com um seu documento”.

 

 

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A presença portuguesa no Sínodo dos Bispos sobre a família

 

“Jesus Cristo pronuncia-se claramente pela indissolubilidade do matrimónio (‘Não separe o homem o que Deus uniu’). Nós somos cristãos e disto não podemos sair. Por outro lado, há as situações concretas, as famílias refeitas, há os recasados. Estes nossos irmãos e irmãs que se recasaram não estão fora da Igreja, são batizados, não estão excomungados. Por isso, não estão excluídos de tudo o mais que é a vida da Igreja.”

Cardeal-Patriarca D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal, à Renascença

 

“Estou com muita expectativa para ver como é que o Papa, com uma exortação apostólica pós sinodal, ou como ele entender, vai pegar em todas estas reflexões e dizer o que havemos de fazer. Qual a abertura que vai ser dada a esses nossos irmãos e irmãs que não pudendo aceder à Eucaristia podem aceder a tudo o mais.”

Cardeal-Patriarca D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal, à Renascença

 

“Temos de dar muito mais importância às famílias, à preparação para o matrimónio, ao acompanhamento das famílias cristãs, mesmo aquelas que vivem em rutura, para vermos o que podemos consertar com a ajuda de todos.”

Cardeal-Patriarca D. Manuel Clemente, presidente da Conferência Episcopal, à Agência Ecclesia e Família Cristã

 

“As dioceses estão empenhadas, estão preocupadas e todos queremos que a família ocupe o seu lugar, sinta o valor que tem e se ajude a promover e a defender.”

D. Antonino Dias, presidente da Comissão Episcopal Laicado e Família e Bispo de Portalegre-Castelo Branco, à Renascença

 

“Sublinharia, do primeiro capítulo do documento, uma grande crítica ao individualismo, num momento em que o mundo todo tende para o individualismo, a família surge como antídoto e, ao mesmo tempo, ameaçada por este individualismo. No segundo capítulo, focaria a questão da família como uma vocação, quer a vocação do marido e da mulher, que têm a vocação para casar-se, quer a vocação que a própria família tem a ser neste mundo, um sinal de amor e de aliança. No terceiro capítulo, diria que a grande força é a insistência na importância do acompanhamento, o acompanhamento dos jovens que se preparam para o casamento, acompanhamento dos casais nos primeiros anos, casais com dificuldades, com filhos doentes, ou com idosos, ou em situações de crise, ou divorciados, ou recasados, portanto acompanhar as pessoas.”

Padre Duarte da Cunha, secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa

  

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Papa Francisco: Que há-de significar, para a Igreja, encerrar este Sínodo dedicado à família?

- Significa que solicitámos todos a compreender a importância da instituição da família e do Matrimónio entre homem e mulher, fundado sobre a unidade e a indissolubilidade e a apreciá-la como base fundamental da sociedade e da vida humana.

- Significa que escutámos e fizemos escutar as vozes das famílias e dos pastores da Igreja que vieram a Roma carregando sobre os ombros os fardos e as esperanças, as riquezas e os desafios das famílias do mundo inteiro.

- Significa que demos provas da vitalidade da Igreja Católica, que não tem medo de abalar as consciências anestesiadas ou sujar as mãos discutindo, animada e francamente, sobre a família.

- Significa que procurámos olhar e ler a realidade, melhor dito as realidades, de hoje com os olhos de Deus, para acender e iluminar, com a chama da fé, os corações dos homens, num período histórico de desânimo e de crise social, económica, moral e de prevalecente negatividade.

- Significa que testemunhámos a todos que o Evangelho continua a ser, para a Igreja, a fonte viva de novidade eterna, contra aqueles que querem «endoutriná-lo» como pedras mortas para as jogar contra os outros.

- Significa também que espoliámos os corações fechados que, frequentemente, se escondem mesmo por detrás dos ensinamentos da Igreja ou das boas intenções para se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas.

- Significa que afirmámos que a Igreja é Igreja dos pobres em espírito e dos pecadores à procura do perdão e não apenas dos justos e dos santos, ou melhor dos justos e dos santos quando se sentem pobres e pecadores.

- Significa que procurámos abrir os horizontes para superar toda a hermenêutica conspiradora ou perspetiva fechada, para defender e difundir a liberdade dos filhos de Deus, para transmitir a beleza da Novidade cristã, por vezes coberta pela ferrugem duma linguagem arcaica ou simplesmente incompreensível.

 

Papa Francisco, no discurso conclusivo do Sínodo dos Bispo sobre a família

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Ricardo Perna | Família Cristã
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