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Sudão do Sul: depois da festa da independência, o caos absoluto
“Rezem por nós”
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A Igreja denuncia a crise humanitária que está a assolar a região. A guerra civil, no Sudão do Sul, é a última tragédia para a vida de milhares de pessoas que só conhecem a violência, o terror e a miséria. O Padre David Samy telefonou-nos angustiado: “Enquanto estamos a falar, estão a morrer pessoas… Rezem por nós”.

 

21 de Fevereiro. Oitenta e nove crianças foram raptadas de uma escola no Sudão do Sul. Desde então desconhece-se o paradeiro destes rapazes e raparigas. O rapto ocorreu durante o dia, na escola de Wau Shilluk, por homens armados. O mais certo é que, agora, os rapazes venham a ser forçados a entrar em combates ou, pelo menos, a servirem os soldados, enquanto que a sorte das meninas pode ser ainda mais trágica.
O Sudão do Sul é praticamente um não-país. Ganhou a sua independência face ao vizinho do Norte, o Sudão, em 2011, no dia 10 de Junho. Mas, desde então, tudo tem corrido mal. O mais jovem país do mundo mergulhou numa temível guerra civil há dois anos. Ninguém imagina como esta história vai acabar, mas sabe-se o que aconteceu desde então. Esta guerra tem contornos étnicos. De um lado estão os Dinka e, do outro, os Nuer. De um lado estão as tropas fiéis ao presidente, Salva Kiir, que pertence à etnia Dinka. Do outro estão os rebeldes do ex-vice-presidente Riek Machar, um dos líderes dos Nuer. Pelo meio está o povo. Faminto, assustado, obrigado a fugir. Quase 40% da população precisa de ajuda humanitária. O país está em colapso. O número de refugiados cresce de dia para dia. É assustador. Em Dezembro de 2013, contabilizavam-se 114 mil pessoas que procuraram refúgio nos países vizinhos. Um ano depois, já eram mais de 600 mil. A maioria vai para a Etiópia, Uganda, Sudão e Quénia.

 

Demência à solta

Estes refugiados são pessoas em fuga. Fogem da guerra, de atrocidades, da violência. Muitos estão apavorados. Fala-se em barbárie. Há casos de mulheres e raparigas violadas, de famílias queimadas vivas nas suas casas, até de uma criança enforcada numa árvore. No Sudão do Sul a demência está à solta. Uma mulher recorda o dia em que os rebeldes entraram na sua aldeia e queimaram tudo. “Não pouparam ninguém, nem crianças nem velhos. Ninguém”, diz Nyakouth, que agora vive num campo de refugiados das Nações Unidas, em Bentiu. Só num dos estados que compõem este país, o estado de Unity, calcula-se que mais de 1500 mulheres tenham sido sequestradas apenas desde Maio, e mais de 1300 jovens foram violadas, enquanto mais de 15 mil rapazes terão sido recrutados por grupos armados. Apenas desde Maio.
O Padre Duarte Carraro é o director dos Médicos para a África Cuamm. Esta organização é responsável pelo único hospital existente na região de Equatória Ocidental. Os sucessivos ataques têm tornado impossível o trabalho. “A situação está tensa e muito confusa, não se entende quais são as forças em campo e quem decide – diz o Padre Dante. As pessoas estão aterrorizadas e com medo.

 

“Roubaram tudo”

Todas as histórias têm esse denominador comum: o medo. “Na área que circunda o hospital, existem cerca de 20 a 30 mil deslocados que necessitam de tudo”, explica o sacerdote. A sua equipa tem-se esforçado por ajudar estas pessoas que procuram agora encontrar abrigo nas matas e na selva. “Temos procurado levar-lhes água, comida, cobertores, porque de noite faz frio. É preciso que alguém os socorra e cuide deles. O objectivo agora é a sobrevivência.
Quem também tem alertado o mundo para o caos que se vive no Sudão do Sul é o Padre David Kulandai Samy, da comunidade dos Missionários da Imaculada Conceição. Este sacerdote, cujo trabalho é apoiado pela Fundação AIS, tem vindo a alertar que, especialmente na região de Mundri, as “populações fugiram para a floresta e estão a passar por enormes dificuldades, especialmente as crianças.” O seu relato impressiona: “Não temos água, nem comida, ou assistência médica. Os campos foram devastados e roubaram tudo o que podiam, incluindo os animais.”
Só nesta região calcula-se que mais de 80 mil pessoas fugiram por causa dos conflitos tribais. “Numerosas famílias católicas tiveram de fugir de suas casas e procurar refúgio nas igrejas”, explica o Padre Samy, numa dramática conversa telefónica para a sede internacional da Fundação AIS. “Enquanto estamos a falar estão a morrer pessoas.”
O Padre David pediu aos benfeitores da Fundação AIS para rezarem pela paz no Sudão do Sul e, muito particularmente, pelos milhares de desalojados.
“É preciso que esta situação normalize para se conseguir trabalhar no reencontro das famílias católicas obrigadas a fugir e das várias comunidades tribais. Rezem por nós! Gostaria de pedir as vossas orações por todos nós, pela nossa comunidade que atravessa tempos de enorme sofrimento e dificuldades.”

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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