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China: Igreja Clandestina chora a morte do Padre Peter Wei
Semente de fé
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São muitos os padres, religiosas e bispos pertencentes à Igreja Clandestina, fiel a Roma, que estão detidos na China. Muitos, simplesmente desapareceram. No início do mês, o corpo de um padre apareceu a boiar nas águas de um rio. “Suicídio”, apressaram-se a dizer as autoridades.

 

Tinha apenas 41 anos. Todos os que o conheceram descrevem-no como uma pessoa inspiradora, incansável, sempre preocupado com os outros, especialmente os mais pobres, os mais vulneráveis. O Padre Peter Wei morreu. O seu corpo apareceu a boiar no passado dia 6, no rio Fen, um afluente do rio Amarelo que passa na cidade de Taiyuan, na província de Shanxi. As autoridades apressaram-se a dizer que Peter teria cometido suicídio. Todos os que o conheceram negam essa hipótese. Peter Wei HePing pertencia à Igreja Clandestina, fiel ao Papa e ao Vaticano, que o regime de Pequim não reconhece nem tolera. Na verdade, o Padre Peter terá escrito a sua própria sentença de morte pela forma entusiástica como viveu o sacerdócio, como se entregou à missão de evangelização, fundando um seminário clandestino, mobilizando jovens, levando-os em memoráveis peregrinações a pé, ao longo de muitos e muitos quilómetros, lançando até um “site” com notícias da Igreja Católica no mundo.

 

Uma ameaça

O Partido Comunista, em Pequim, conhecia o seu trabalho e desconfiava do seu entusiasmo. Peter era uma ameaça. Importava afastá-lo. Sobra agora a tese de suicídio das autoridades e a certeza dessa mentira entre os seus amigos. A Fundação Cardeal Kung, com sede em Stamford, nos Estados Unidos - instituição que tem como missão auxiliar a Igreja Católica perseguida na China -, exigiu de imediato “um inquérito” para se apurar o que realmente terá ocorrido. O Padre Peter Wei incomodou o regime com a sua alegria, a sua perseverança, o seu testemunho. Nos últimos tempos, Peter Wei organizava peregrinações com os jovens. Uma publicação dos “missionários sem fronteiras” dá-nos conta da energia que este jovem sacerdote colocava em tudo o que fazia. E do atrevimento de quem ousava ir sempre mais além mesmo sabendo que os seus passos estavam a ser vigiados pela polícia.

 

Verdadeira ousadia

Sábado, 1 de Junho de 2013. As palavras foram escritas pelo Padre Wei. “Com grande alegria informamos que, com a graça abundante de Deus, fomos capazes de fazer, e pela sexta vez na China, uma peregrinação neste mês de Maio. Começamos a viagem na ilha de Shangchuan (Sanchoão), onde São Francisco Xavier morreu. Cerca de 400 anos mais tarde, durante este Ano da Fé, nós, 47 peregrinos, fizemo-nos a caminho para encontrar a raiz da fé na China.” Foi uma verdadeira ousadia na China nos dias de hoje. Levar, pelas ruas, o nome de Jesus, sabendo que todos os que se mantêm fiéis ao Papa são severamente perseguidos. A lista de padres e bispos que continuam detidos na China é uma verdadeira infâmia nos dias de hoje.

 

Com os mais pobres

O Padre Peter nunca se acobardou. Nasceu na véspera do Natal de 1974, oriundo de uma família católica na província de Shanxi. Toda a sua formação foi junto da Igreja Clandestina. Entrou para o seminário em 1993 e, passado uns anos, foi enviado para a Europa, para continuar os seus estudos. Formou-se com um mestrado em Direito Canónico e foi ordenado sacerdote clandestinamente no dia 24 de Agosto de 2004, em terras da China, por um bispo também ele da Igreja fiel ao Papa. Ultimamente estava em missão em Yunnan. “Há 3 anos comecei a visitar os católicos de Miao Yi e grupos étnicos na província de Yunnan, perto da fronteira com o Vietname, que vivem em condições de extrema pobreza, sem qualquer assistência e segurança social. Algumas destas regiões remotas não têm um sacerdote mais de 40 anos, mas, ainda assim, conseguem manter a fé católica, transmitida através das tradições familiares. Quando cheguei, fiquei surpreendido ao ver o fervor religioso destas pessoas.”

 

Semente de fé

O Padre Peter Wei, dizem os amigos que com ele privaram, estava sempre cheio de energia. Lançou um seminário clandestino para que a China pudesse oferecer mais sacerdotes ao Papa, criou um “site” de notícias para todos conhecerem as posições do Vaticano sem filtros do Partido Comunista, abraçou as populações esquecidas da província de Yunnan, e comoveu-se ao ver a fé intacta daquelas pessoas apesar de não terem contacto com nenhum padre há tantos anos. Sempre sorrindo, sempre generoso, encarava cada dia como uma bênção. Pergunta agora a Fundação Cardeal Kung, que monitoriza a vida da Igreja Clandestina na China: “poderia um pastor tão zeloso e com uma fé tão forte cometer suicídio?”
Nunca se saberá o que aconteceu nesse dia 6 de Novembro, mas ninguém tem dúvidas de que o Padre Peter Wei viveu heroicamente a sua fé em Cristo e a sua fidelidade ao Papa. Morreu, mas nunca mais será esquecido por todos os que o conheceram. São muitos os sacerdotes, religiosas e bispos ainda presos na China. São muitos, também, os que estão desaparecidos, os que morreram nos cárceres do regime. São, porém, cada vez mais os que abraçam a fé em Jesus.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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