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A cultura da globalização

Conjugar as novas tecnologias com a transmissão da fé é uma das questões de fundo que ocupa, e preocupa, actualmente a vida da Igreja. É significativo que o assunto faça deslocar bispos de todo o mundo a Roma, tendo como objectivo dar uma resposta concreta ao desafio lançado por Bento XVI para o próximo Dia Mundial para as Comunicações Sociais, a 24 de Maio. É certo que se torna cada vez «mais claro que o objectivo principal de hoje não está ligado à tecnologia, mas à cultura que eles põem em prática.»

Neste sentido, podemos dizer que João Paulo II e Bento XVI, nos seus escritos, nos dão chaves de decifração para entendermos o “mundo em rede”. Já em Tríptico Romano – livro de poemas sobre a Capela Sistina – João Paulo II coloca-nos perante a grande questão da arte unida à palavra e fala-nos do “primeiro Vidente” que é o Verbo. Lança também um apelo aos “videntes” de todos os tempos. Mas, quem são estes “videntes” a que João Paulo II se refere? Antes de mais Miguel Ângelo. Depois, está implícito no livro um apelo aos artistas e à mística cristã. Arte e mística conjugam-se nestes poemas. Em meados da década de 80, o grande teólogo Hans Urz von Balthasar já nos tinha também chamado a atenção para a importância da “estética teológica” no Cristianismo. A Igreja, supostamente perdeu terreno, face a esta cultura tecnológica, porque desconsiderou o amplo património artístico e místico como parte integrante da formação catequética e das metodologias do ensino. Com a inovação tecnológica deixámos de ter em conta a arte e a mística cristã como mediação entre o mundo visível e o invisível. E foi aqui que a cultura se impôs. A imagem tecnológica, virtual, parece substituir a intuição do artista e a visão mística. Quando hipervalorizamos a percepção sensível do olhar, através da fantasia, da imaginação e das possibilidades tecnológicas que a potenciam, estamos a tornar absoluta uma única dimensão do ser humano. Somos levados a pensar que a substância tecnológica, a rede, criada pelo poder da ciência, é mais perfeita do que o Ser subsistente. Estamos assim convencidos de ter dado um grande passo em frente na aquisição de conhecimento. Porém, uma coisa é ver na substância tecnológica, e outra, é a capacidade de visão no Ser subsistente.

Por este motivo, é necessário desenvolver uma análise entre as possibilidades tecnológicas e as visões espirituais e intelectuais da arte e da mística cristã, no âmbito das noites místicas e dos fenómenos extraordinários. Não nos passa, talvez, pela cabeça que a nova cultura se tenha apropriado de conceitos e categorias de linguagem próprias do Cristianismo para dimensionar o mundo novo. Mas fê-lo. Trata-se da apropriação da escatologia cristã para dinamizar o “mundo perfeito” através da arte e da mística. Da linguagem pictórica de Wittgenstein até aos fundamentos da Teologia da Imagem; do Livro do Génesis ao Apocalipse, passando pela Suma Teológica, tudo isto é utilizado como matéria nas linguagens publicitárias e em artigos de revistas nacionais e internacionais.

O desafio lançado este ano, por Bento XVI, aos Meios de Comunicação Social, supõe um alerta para a desintegração do real provocado pelas novas formas de socialização virtuais. É tudo uma consequência das correntes ideológicas que dominam a nova cultura e que têm como objectivo a total transformação da pessoa humana. O problema está no desnível abissal entre os “criativos” que dominam a ciência, a técnica e a arte da imagem, nas linguagens publicitárias e da comunicação social, e os consumidores que não tiveram acesso, nos programas curriculares, ao estudo dessas mesmas linguagens.

É precisamente para mostrar e formar sobre a estrutura desta cultura que se preparou o curso Cultura Arte e Globalização para o próximo ano lectivo 2009/2010 no Instituto de Artes e Ofícios da Universidade Autónoma de Lisboa. O curso vai ser apresentado, a todos os interessados, no dia 25 de Maio pelas 19 horas no local do Instituto.