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O Ano Santo da Misericórdia já chegou à cidade de Alqosh
O desafio do Padre Dankha
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Rezar pelos inimigos não é fácil. Muito menos quando eles, os jihadistas, estão a apenas 15 km de distância e todos têm ainda na memória os dias em que tiveram de fugir para salvar a vida. Há centenas de cristãos refugiados em Alqosh. É para eles – e para nós - que se dirige o desafio do Padre Dankha: Perdoar os inimigos e rezar por eles

 

O Padre Dankha Issa é monge da Ordem Caldeia, em Alqosh. Esta cidade, situada no norte do Iraque, permanece intacta no que diz respeito às suas raízes cristãs, como se a sombra do Mosteiro da Virgem Maria a protegesse de todos os perigos que a rodeiam. E são muitos. A apenas cerca de 15 km de distância, situa-se a linha da frente do auto-proclamado “Estado Islâmico”. A vida mudou muito em Alqosh desde o Verão do ano passado. Então, o avanço dos jihadistas na região levou à fuga desordenada de milhares de pessoas. Centenas refugiaram-se nesta pequena cidade. Ainda hoje vivem por lá. Quase todos são cristãos. Não há, por ali, ninguém que não transporte consigo a memória desses dias de terror. O próprio Padre Dankha teve de fugir quando Mossul foi tomada, com estrondo, pelos jihadistas. Um ano depois, o sobressalto continua, como se os dias de medo tivessem acampado por ali, em Alqosh. Com os jihadistas tão próximos, nunca se sabe o que pode acontecer. No Iraque vivem-se dias de guerra, tudo é provisório. É como se todas as pessoas tivessem sempre as malas prontas para partir. Nunca se sabe o que pode acontecer. Nunca se sabe quando chega a nossa vez.

 

Histórias de dor

O Padre Dankha conhece as histórias de quase todas as pessoas que vivem por ali. Ele próprio sabe o que é ter de fugir, deixar tudo para trás. O Padre Dankha conhece até alguns dos segredos mais profundos daqueles homens e mulheres e sabe como quase todos não escondem a raiva pelo que lhes aconteceu e não conseguem esquecer a forma como foram expulsos de suas casas, da vida que levavam, como perderam familiares e amigos. Por ali são todos sobreviventes. São todos como náufragos. Mas o Padre Dankha tem um sonho: “O Jubileu da Misericórdia dá-nos uma nova esperança”, diz ele. “Esperemos que este ano apague o fogo do ódio e nos traga a paz.”
O Padre Dankha Issa quer transformar este ano jubilar num tempo de perdão, e quer envolver toda a comunidade nesse desafio. O facto de se estar numa cidade situada tão perto da linha da frente da guerra, de onde se podem ver, durante a noite, até as luzes dos movimentos dos jihadistas, faz com que este desafio tenha de ser encarado com verdade. Para o Padre Denkha, este é um tempo propício para que todos cresçam na fé e sejam exemplo uns para com os outros do que a misericórdia pode fazer. “Deus perdoa-nos. Porém, isto significa que também temos de nos perdoar uns aos outros. E isso inclui igualmente os jihadistas que tanto mal nos causaram. Como cristãos temos de amar os nossos inimigos.”

 

Rezar pelos inimigos

O Padre Dankha sabe que não vai ser fácil convencer as populações de Alqosh a aceitarem o seu desafio. “Falando humanamente é quase impossível. Porém, torna-se mais fácil através da fé. Deus consegue tudo.” O Padre Dankha tem ainda um desejo: que neste Ano Santo, inaugurado solenemente a 8 de Dezembro, em Roma, pelo Papa Francisco, se transformem também os corações dos jihadistas do auto-proclamado ‘Estado Islâmico’.

O Mosteiro da Virgem Maria é, nos dias de hoje, o local de abrigo de dezenas de famílias. São refugiados que perderam tudo o que tinham, mas conservaram a fé em Deus. Agora, o Padre Dankha quer continuar a ajudar estas populações distribuindo-lhes, como sempre tem feito, com a ajuda dos benfeitores da Fundação AIS, “alimentos, roupa, medicamentos… Mas agora, quero mais: desejo que passemos a rezar juntos, todos os dias, sobretudo o Rosário. Assim, como membros do Corpo de Cristo, estaremos unidos com o nosso próprio sofrimento à Igreja universal e ao Papa”.
O Padre Dankha agradece o apoio que tem vindo a receber através da Fundação AIS. Sem essa ajuda seria quase impossível auxiliar tantas famílias de desalojados. Mas tão importante quanto isso é a certeza de que em todo o mundo há quem esteja unido em oração pelos Cristãos perseguidos por causa da sua fé. E ali, em Alqosh, o padre Dankha conhece todos estes cristãos até pelo nome. Conhece as suas histórias, os seus lamentos, as suas lágrimas. E é em nome deles que agradece também as nossas orações. Por eles e pelos jihadistas, que estão a apenas 15 km de distância.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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