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Monsenhor José de Freita: Arroios em memória escrita em dois volumes
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Aos noventa anos de idade e com quase setenta de sacerdócio, monsenhor José de Freitas não consegue parar e continua o seu trabalho pastoral e apostólico. Apanhou a veia de escritor e no próximo dia 5 de Junho, às 18:30 horas, na igreja de Arroios, em Lisboa apresenta o seu terceiro livro.

Razões para aparecer e ler? “Foram 47 anos a trabalhar na paróquia e muita gente vai gostar de se ver retratada e nomeada no livro”, refere em entrevista ao JORNAL W. Recusa peremptoriamente apelidar-se de escritor e garante que só conseguiu terminar a obra com a ajuda de várias pessoas que lhe iam sugerindo alguns acontecimentos e iam passando a limpo. Computador é coisa que não existe no quarto da casa sacerdotal, da Avenida 5 de Outubro, onde vive actualmente. Por companheira tem uma caneta e vários papeis distribuídos por pastas onde se encontram as memórias do passado.

 

Mas para quê escrever um livro sobre o passado? Não seria melhor olhar para o futuro? Monsenhor José de Freitas acredita que recordar o passado faz com que as pessoas apreciem melhor a história e a memória. No primeiro volume sobre a sua presença na paróquia de Arroios que é lançado esta semana, monsenhor recorda os momentos principais… Quando chegou à paróquia havia apenas uma pequena capela que não chegava para os habitantes e os fiéis. “Eram outros tempos… chegámos a ter sete padres a celebrar missa”, confessa.

Mas o desafio de construir a Igreja não foi o mais duro da sua vida. O antigo pároco de Arroios lembra que ao longo dos anos, houve um conjunto de leigos que foram o seu braço direito. “Homens e mulheres dedicados a Deus e à Igreja” que não deixaram o pároco sozinho a construir a Igreja, a organizar a catequese e a montar a assistência social. Aliás, essa é uma das obras que refere como sendo a sua menina dos olhos: “Quando cheguei era preciso retomar o que era nosso e agora estava na posse da junta de freguesia para podermos montar a acção social”. Teve de convencer o presidente da junta – mas confessa que não foi difícil. Aliás, houve uma grande colaboração. A paróquia para reaver o prédio que lhe pertencia ajudou a freguesia a pagar um novo edifício: “mas o presidente pagou-nos tudo até ao último tostão. Era um homem muito sério”.

 

Um homem em movimento

Foi vigário pastoral para o Oeste durante três anos e é conhecido na diocese como um dos homens mais dinâmicos e fecundos pastoralmente. Fundou com outros padres a Escola de Leigos, foi presidente diocesano e nacional dos Cursilhos de Cristandade e passou por vários movimentos dando assistência espiritual. Acha que os Cursilhos de Cristandade foi a grande aposta da sua vida e que mais frutos viu crescer na árvore pastoral da sua vida. Não se arrepende da vida que deixou naquelas actividades, mesmo sentindo que às vezes os paroquianos reclamavam maior presença na paróquia e sentiam alguns ciúmes das actividades extra-Arroios. 

Os movimentos e as obras pastorais não lhe deram descanso. O lema da sua vida está no evangelho: “deixai vir a mim as criancinhas”. Monsenhor José de Freitas perseguiu sempre esta palavra e procura vive-la todos os dias. Mesmo aos noventa anos, acredita que pode viver simplesmente como uma criança. Sabe que é o melhor que pode fazer: viver na simplicidade, sem maldade, sem intrigas. Só criança…

Mas nem tudo na sua vida foram rosas. Os espinhos que rasgaram a carne do seu coração começaram logo no início do seu ministério. Ordenado de fresco foi viver para um castelo. Um jovem padre com um castelo só para si. O problema é que não havia mais ninguém dentro das muralhas. Quando quis rasgar com o passado histórico e começar a viver junto do povo as pessoas não viram com bons olhos. Afinal o lugar do padre era dentro do castelo, ao lado da Igreja, tendo os mortos por companheiros. Trouxe muitos sofrimentos, mas eram outros tempos, refere.

A sua vinda para Arroios depois da passagem por Sesimbra foi uma novidade muito grande. Na mouraria, onde nasceu, tinha deixado amigos e o seu velho prior que tanto admirava. Vir para Lisboa tornou possível reatar antigas amizades deixadas para trás depois de ter seguido para o outro lado do Tejo. Chegado a Arroios viu crescer a comunidade, as crianças, os jovens.

 

 

 

Um ano sacerdotal

 

Os casamentos e baptizados, mas também os aniversários de casamento, afinal trata-se de quase meio século como pároco no mesmo local. Muitos passaram pelas suas mãos para o baptismo, mas também para a primeira comunhão, o casamento e outros ainda para a morte. Quando lhe perguntamos pelos anos que passaram, não hesita e responde prontamente: “Vale a pena!”. Monsenhor José de Freitas vive o seu sacerdócio com grande intensidade e não tem o menor problema em desafiar os jovens a seguirem a Cristo, se assim for a vontade dele.

Não é um homem agarrado ao passado. Gostou de viver o que viveu. Gostou de colocar tudo por escrito. A sua história em Arroios será publicada em dois volumes. Mas acha que hoje a Igreja é muito diferente daquela que viveu em tempos no início do seu ministério há quase setenta anos. Quando volta à paróquia agrada-lhe perceber que os jovens não têm complexos e começam a aproximar-se de Jesus. Ele próprio garante que a aproximação a Cristo se fará pela agitação frenética da cultura contemporânea: “Retiram Deus da vida das pessoas, elas vêem agora à procura desse Deus escondido”. Monsenhor acredita que a própria cultura empurrará as pessoas para a Igreja e para o encontro com Cristo, porque é impossível viver sem a fonte de onde brotam as águas da vida.

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