Aos 81 anos, Julius Jia Zhi Guo, Bispo de Zhengding, fiel ao Vaticano e, como muitos na China, não reconhecido pelo Governo de Pequim, continua a exercer o seu ministério apesar das ameaças das autoridades das constantes detenções de que tem sido alvo. Nada disso parece ser capaz de alterar, porém, o sentido da sua vida.
Fala pausadamente, com uma serenidade extraordinária se nos lembrarmos que este homem de aspecto frágil já conheceu as piores prisões do regime comunista da China. No princípio foi pior. No tempo da Revolução Cultural, de Mao tsé-Tung, foi mesmo condenado a trabalhos forçados. Era o habitual para todos os que ousavam desafiar a liderança do “grande líder”. “Os problemas começaram quando era seminarista” – recorda. “De 1963 a 1978 fui condenado a trabalhos forçados em lugares perdidos, frios e inóspitos.” Nos últimos anos, a repressão do regime tornou-se mais branda. Mas, apesar disso, Zhi Guo não deixou de ser preso – tantas vezes que já lhes perdeu a conta - sempre com o mesmo argumento: ser um bispo fiel ao Papa.
A fórmula secreta
Desses tempos mais tenebrosos da Revolução Cultural, Zhi Guo nunca mais esqueceu a fórmula que o manteve vivo sem perder a fé, ganhando a força que era impossível descobrir no seu corpo franzino, conquistando a coragem para enfrentar os algozes do regime, e o sofrimento que todos os dias lhe estava reservado. “Era suficiente ter Deus no coração. Foi isso que me sustentou e protegeu ao longo de toda a minha vida.”
Quando terminaram os trabalhos forçados, foi ordenado Bispo de Zhengding. Foi uma ordenação clandestina, que o Governo de Pequim não reconhecia – pior, que considerava uma afronta -, mas, apesar disso, decidiu dirigir-se ao departamento local dos assuntos religiosos e apresentou-se como sendo o novo bispo da diocese. “Riram-se na minha cara, dizendo que, na China, ninguém pode servir como bispo a não ser que seja reconhecido pelo Governo.” As gargalhadas dos funcionários não esfriaram a sua vontade e continuou o seu trabalho, clandestino, junto do povo de Deus. Afinal, para os que atendiam às suas missas, para os que o escutavam, para os que o acompanhavam no serviço aos mais pobres da comunidade, ele era o bispo. O verdadeiro bispo, unido a Roma e ao Papa. Desde então, foram inúmeras as vezes que Zhi foi detido, sempre com o mesmo pretexto, sempre com as autoridades a procurarem amolecê-lo, a tentarem vergá-lo na sua obstinada fidelidade ao Papa e ao Vaticano. Sem resultado…
“Estamos tranquilos”
Nos últimos tempos, apesar da aparente maior brandura de métodos, as autoridades de Pequim continuam vigilantes sobre o trabalho dos bispos e sacerdotes da chamada “Igreja Clandestina”. Ainda em Maio do ano passado, Zhi Guo foi preso uma vez mais. Culpa? A ordenação de alguns sacerdotes para a sua diocese. “Expliquei-lhes que essa era a minha vida, o meu trabalho. Os sacerdotes são ordenados pelo bispo e eu sou o bispo. Não há nada que eu possa fazer acerca disso…” Esteve preso durante alguns dias numa casa pertencente às autoridades. Procuraram, uma vez mais, demovê-lo, dizendo que ele não era o bispo, que não tinha a aprovação do Governo. Mas Zhi Guo lá respondeu, uma e outra vez, que o povo de Deus o reconhecia como Bispo e isso é que contava. Libertaram-no, dias mais tarde, para celebrar a Missa de Pentecostes. Aos 81 anos, Zhi Guo acompanha com “entusiasmo” o ministério do Papa Francisco e a vontade de se encontrar pessoalmente com o presidente chinês, Xi Jinping. “Confiamos no Papa porque confiamos no Senhor que sustenta e guia a Sua Igreja e nos encomendamos a Ele. Fala-se, há muitos anos, de como resolver este problema. É uma questão complexa, porém, está tudo nas mãos de Deus e nós estamos tranquilos. Não nos preocupamos.”
Dar testemunho
O que preocupa, efectivamente, Zhi Guo é o funcionamento do orfanato que dirige na sua diocese há já duas décadas. Por lá vivem cerca de 70 órfãos, alguns com problemas físicos e mentais, num trabalho que mobiliza 26 irmãs e que também recebe a ajuda, da comunidade budista local. Vivem da caridade. Não recebem dinheiro mas apenas géneros alimentícios, roupa e medicamentos. É a população que sustenta esta obra. “Para mim, esta é a obra mais importante”. O bispo, que já perdeu a conta às vezes que foi detido, acredita que é assim, ajudando os mais pobres, os mais fragilizados da sociedade, que a Igreja dará o seu testemunho. “Assim, todos podem ver o amor gratuito de Jesus por cada um e por todos nós. E podem reconhecer que a Igreja está presente em todo o mundo, até na China, para o bem de todos.”
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