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P. Manuel Barbosa, scj
Basta a misericórdia!

Cá andamos, e ainda bem, em Ano da Misericórdia, dito santo e extraordinário. E estamos em final do mês que encerrou o Ano da Vida Consagrada, ao qual gostaria de ainda aludir, pois os seus dinamismos estão, ou deveriam estar, para durar enquanto peregrinos nesta térrea vida.

As celebrações finais, quer em Roma com o Papa Francisco a nível da Igreja universal, quer nas Igrejas locais com os nossos Pastores, quer na Igreja em Portugal em peregrinação nacional a Fátima constituem momentos significativos do que se viveu ao longo de catorze meses nas comunidades cristãs e religiosas, nas dioceses e vigararias, nos movimentos e famílias. Destaco dois exemplos destas celebrações.

Aqui em Lisboa, em belíssima coincidência com a visita da imagem da Virgem Peregrina, estivemos em Odivelas, num pavilhão multiusos (neste caso, para uso da celebração da fé cristã na relevante devoção a Maria) repleto de alguns milhares de pessoas a celebrar o encerramento da Vida Consagrada. A Mãe da Misericórdia, na imagem da Senhora de Fátima, a todos nos acolheu como mãe de fecunda ternura. Foi emocionante sentir os aplausos aos consagrados e consagradas que celebraram jubileus de 25, 50, 60 e 75 anos de vida consagrada. Maria a todos abraçou no seu manto materno. D. Manuel Clemente a todos agradeceu pelo dom de vidas doadas ao serviço da Igreja no Patriarcado de Lisboa.

Em Roma, o Papa Francisco encontrou-se com milhares de consagrados e consagradas para celebrar o essencial apelo à misericórdia de Deus na vida de todos os seguidores de Criso. Salientou a continuidade dos mesmos dinamismos vividos: «o Ano que estamos para concluir contribuiu para fazer resplandecer ainda mais na Igreja a beleza e a santidade da vida consagrada, intensificando nos consagrados a gratidão pelo chamamento e a alegria da resposta. Estamos gratos ao Senhor por quanto nos proporcionou viver neste Ano tão rico de iniciativas. O Ano concluiu-se, mas continua o nosso compromisso a permanecer fiéis ao chamamento recebido e a crescer no amor, no dom, na criatividade».

O Santo Padre acrescentou três palavras indicativas de atitudes que devem pautar esses andamentos: profecia, proximidade e esperança.

A profecia chama os consagrados a proclamar, mais com a vida do que com palavras, a realidade de Deus. «Se por vezes Ele é rejeitado ou marginalizado ou ignorado, devemos questionar-nos se talvez não fomos suficientemente transparentes ao seu Rosto, mostrando pelo contrário o nosso. O rosto de Deus é o de um Pai compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor».

A proximidade concretiza-se na misericórdia e bondade, na simpatia e amor, nunca no afastamento pelo terrorismo e mexeriquice nas comunidades. «E se, neste Ano da Misericórdia, cada um de vós conseguisse nunca ser o terrorista mexeriqueiro ou mexeriqueira, seria um sucesso para a Igreja, um grande sucesso de santidade! Tende coragem! Proximidade!».

A esperança leva a testemunhar Deus e o seu amor misericordioso: «com a graça de Cristo podeis infundir esperança nesta nossa humanidade marcada por diversos motivos de ansiedade e temor e por vezes tentada ao desânimo. Podeis fazer sentir a força renovadora das bem-aventuranças, da honestidade, da compaixão; o valor da bondade, da vida simples, essencial, cheia de significado. E podeis alimentar a esperança também na Igreja».

O Ano da Vida Consagrada que finalizou deve continuar a ser levado na misericórdia de Deus, a única que conta. Já vi e ouvi, escrito e dito, que «basta de misericórdia!» Como assim? É da essência que se trata, a misericórdia praticada nas suas obras; as catorze corporais e espirituais, que são de Deus para nós e de nós para os outros.

A Quaresma é tempo favorável para mudarmos, se é caso disso, o registo do «basta de misericórdia» para o «basta a misericórdia!» Mãos à obra, com o coração bem acolhedor do Coração de Deus e pleno de misericórdia para com os próximos do nosso peregrinar!