Mundo |
Uma Páscoa sangrenta, do Paquistão até à Escócia…
Lahore aqui tão perto
<<
1/
>>
Imagem

No Domingo de Páscoa, em Lahore, centenas de cristãos morreram ou ficaram feridos em consequência de um atentado suicida. Três dias antes, na Escócia, um muçulmano foi assassinado por ter desejado uma Páscoa feliz aos seus clientes e amigos. O assassino viajou 300 km apenas com o propósito de o esfaquear.

 

Faltavam apenas três dias para a Páscoa. Já era de noite quando alguém reparou no corpo de um homem deitado no chão na rua Minard, em Shawlands, na Escócia. Passavam exactamente cinco minutos das nove da noite quando deram o alarme. Já foi tarde. Os bombeiros chegaram rapidamente, assim como agentes da polícia. Ao lado do corpo daquele homem alastrava uma poça de sangue. Depressa a notícia alastrou pelo bairro. “Aquele homem” era o senhor Shah, do quiosque dos jornais. Todos o conheciam bem. Todos o estimavam. Levado de urgência para o hospital Queen Elisabeth, Asah Shah não resistiu aos ferimentos e morreu pouco depois. Faltavam apenas três dias para a Páscoa. Shah fora esfaqueado.

 

“Uma Páscoa feliz”

O crime deixou a comunidade local perplexa. Shah, de 40 anos, paquistanês, casado, era muçulmano mas, acima de tudo, era conhecido por ser um bom homem, tolerante, simpático, afectuoso. Tão afectuoso que, na sua página no “facebook”, decidiu publicar uma mensagem dirigida a toda a comunidade local, aos clientes e amigos, aos seus vizinhos, desejando-lhes uma Páscoa feliz. Este lojista de origem paquistanesa escreveu apenas: “Desejo uma feliz Páscoa a esta amada nação cristã”. Quem o conheceu, não terá dúvidas em dizer que Shah escreveu muito provavelmente esta mensagem a sorrir, como estava quase sempre que atendia alguém, procurando tratar todos os clientes pelo seu nome, interessando-se pelos problemas de cada um, sendo solícito.

 

Anatomia do crime

A polícia depressa descobriu o autor deste crime e prendeu um homem, de 32 anos, também muçulmano, que terá viajado desde Bradford apenas com o objectivo de pôr fim à vida de Shah. Para as autoridades, o assassino fez a viagem, de cerca de 300 km, apenas para calar aquele homem de voz livre que abraçava todas as religiões e que se preocupava genuinamente com os outros. No relatório da polícia, o crime foi descrito como tendo origem em “preconceitos religiosos”. Asah Shah foi assassinado apenas 4 horas depois de ter colocado aquele “post”, aquela mensagem de Boas Festas de Páscoa no seu “facebook”. Faltavam três dias para a Páscoa.

 

Lágrimas e flores

A reacção da comunidade local à notícia do assassinato de Asah Shah não poderia ter sido mais eloquente. Centenas de pessoas reuniram-se em vigília junto ao seu quiosque, acenderam velas, depositaram flores. Choraram juntas. Três jovens, Lauran, Ellanor e Katie, que praticamente todos os dias eram cumprimentadas pelo sorridente Shah, decidiram fazer uma recolha de fundos para apoiar a sua família. Ao fim de poucos dias, já tinham recolhido mais de 80 mil euros. A mulher e os irmãos de Asah Shah não sabem agora bem o que fazer das suas vidas. Estão perdidos, têm sentimentos confusos, não conseguem entender ainda o que lhes aconteceu. Para mais, as autoridades policiais aconselharam-nos a tomar precauções e eles próprios afirmam temer pelas suas vidas. Já não se sentem seguros em Shawlands…

 

O atentado

Lá longe, no Paquistão, provavelmente ninguém terá sabido deste crime. Três dias depois, no Domingo de Páscoa, em Lahore, uma cidade com uma razoável população cristã, depois das cerimónias religiosas, centenas de pessoas decidiram reunir-se num parque público. Já era o fim da tarde quando um bombista suicida se fez explodir e, na sua loucura, arrastou para a morte mais de setenta pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, e provocou ainda três centenas de feridos, alguns ainda em estado grave. Poucas horas depois, o atentado foi reivindicado pelo grupo taliban Jamaat-ul-Ahrar: “O alvo eram os cristãos”, disse um porta-voz deste grupo terrorista à agência Reuters.

 

É difícil perceber

É difícil imaginar o que pode motivar alguém a cometer um crime por “preconceito religioso”. É difícil imaginar alguém percorrer cerca de 300 km para esfaquear até à morte um conterrâneo apenas porque ele desejou uma “Páscoa feliz” aos seus vizinhos cristãos. É difícil imaginar alguém fazer-se explodir, no meio de um parque público, cheio de centenas de pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, que estavam a brincar, apenas para castigar uma comunidade religiosa. É difícil imaginar tanto ódio por causa da religião. Afinal, Lahore está aqui tão perto…

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES