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Isilda Pegado
A Política

1 – Ao longo da História temos visto que cada tempo tem as suas formas de organizar a vida em Sociedade, a que chamamos Política. Com a Globalização, as especificidades de cada região e País tornam-se mais esbatidas e irrelevantes. O paradigma continua a ser a Europa (Ocidental) e o Continente Norte Americano. No Ocidente as “agências de comunicação” dominam a opinião pública, e a Política “serve” e é “servida” por essa opinião.

2 – Hoje não há “pensadores sociais e políticos” que mostrem o que pensam, nem ideologias identificáveis. Tudo o que se faz é em nome de um deus chamado “pragmatismo”. Os políticos (em geral) assumem-se ausentes dos debates ideológicos porque o que é preciso é “resolver os problemas das pessoas”. Sendo que, “as pessoas” cada vez têm mais problemas. No início dos anos 90, a ONU, através das grandes Conferências (Pequim, Cairo), declarou o “fim das ideologias”. O Governo deve ser de “peritos”.

3 – Isto é, a Política demitiu-se da sua grande função – fixar os princípios, valores, prioridades e pilares que estruturam a Sociedade. Copiam-se estratégias, campanhas, modelos, procedimentos cuja origem não foi discutida nem se conhece o autor. A Política, em geral, dá eco àqueles que mais alto gritam, sem um juízo de valor que o sustente. A Política, regula alguns mercados por razões estratégicas, aponta metas económicas, cobra impostos, distribui dinheiros com critérios nem sempre transparentes e faz obras públicas.

4 – Porém, o mundo fervilha com novas formas de vida, novos usos e costumes, comportamentos sociais onde o individualismo é a regra, e o Social é esquecido. Tais formas de vida radicam em decisões que têm grandes efeitos na “Polis”.

A Política (à excepção de uma certa esquerda radical, que faz destes individualismos bandeira) omite um juízo sério sobre tais questões estruturantes. A estas questões chamam-lhes “fracturantes”.

5 – Pretende proteger-se o Ambiente e o Homem através de uma política que limita o “uso do saco de plástico”. Mas, em contrapartida, há raparigas de 20 anos a serem submetidas a estimulação hormonal ovárica, para “doação” de ovócitos a troco de 800,00 euros. E nisto “a Política não se mete”. Porque é a “autonomia”.

Incentiva-se, pelo subsídio e gratuidade, a prática do aborto num País com uma taxa de Natalidade miserável. E, nisto a Política não se mete.

Aprovam-se leis nestas matérias, com base na “consciência” dos eleitos, sem que estes a tenham declarado ao eleitorado.

6 – A Política, limita-se a formular as questões (em geral levantadas por franjas sociais), a declarar que a decisão é individual e, daí lava as mãos. Tudo isto a coberto de uma pseudoliberdade que em nada liberta, mas antes escraviza. Esta “ilusão”, patrocinada pela Política, de que o Homem não está limitado por uma Natureza, mas antes pode fazer-se a si próprio, sem limites nem consequências, serve a desresponsabilização de quem está na condução da Polis.

8 – Esta “miragem” de uma Sociedade que é apenas e tão só a soma dos individualismos, padronizados pelos “opinion makers”, terá consequências futuras. Quais? Qual o limite? Sem valores tuteláveis, como se obtém o bem-comum? Que consequências antropológicas? Ninguém sabe…

9 – A falta de liderança eticamente fundamentada, deixa o Povo entregue ao acaso ou, à mercê dos “dizentes de opinião” sem rosto, que usam os conceitos de consenso, ciência, cidadania global, boa governança, etc. para se manterem no Poder a qualquer preço. É isto a Política?