Lisboa |
Sínodo Diocesano 2016
Coerência de vida para ser testemunho
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Os relatórios das respostas aos Guiões de Leitura 2, 3 e 4 do Sínodo Diocesano 2016 centram a família no papel evangelizador e apelam uma “melhor articulação entre os vários agentes pastorais”. Os documentos publicados online, esta semana, pela Comissão Preparatória do Sínodo Diocesano – resultado da reflexão da Exortação Apostólica ‘Evangelli Gaudium’ – referem que um dos desafios para “falar de Deus” aos outros passa pela “coerência de vida”.

 

GUIÃO #2 / janeiro a março de 2015: ‘Na crise do compromisso comunitário’

“Melhor articulação entre os vários agentes pastorais”

O relatório agora publicado, sobre o Guião #2, começa por analisar o mundo contemporâneo onde se destaca “a primazia do imediato e dos valores materiais, assim como a secularização da fé”. Esta constatação, segundo o relatório, é motivada pelo “ritmo frenético em que se vive”, originando “uma grande confusão de valores”, onde a vivência religiosa “não é considerada uma prioridade”, levando assim a um desprezo pelo “encontro familiar”.

A partir de um olhar para dentro da Igreja, uma das constatações aponta para um excesso de normas e burocracia. “Continua a dar-se respostas velhas aos problemas novos. Muitas iniciativas não são continuadas”, lê-se no documento que indica a procura de caminhos individuais para a vivência da fé. “A descoberta de Deus é feita isoladamente. Há uma grande procura de intimismo religioso. As pessoas procuram outras formas de vivência religiosa porque nas comunidades não encontram vivências que as atraiam”. Na pastoral juvenil, o relatório do Guião #2 observa uma “crise de líderes” para acompanhar os jovens na sua caminhada cristã.

Quanto aos desafios ou propostas que foram apontados pelas milhares de pessoas que se reuniram, por toda a Diocese de Lisboa, para refletirem o sobre Guião de Leitura #2, foi apresentada a piedade popular como “instrumento importante para a evangelização nas cidades”, e sublinhada a “importância dos sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Penitência”.

Na dimensão profética, é apontado o “desajuste da linguagem utilizada com aquela percetível para os ouvintes” e apelou-se a uma “melhor articulação entre os vários agentes pastorais, para uma maior partilha de experiências e assim acontecer um mútuo enriquecimento”. Sobre os sacerdotes, o relatório assinala que as homilias “devem ser um testemunho alegre e destemido” e a necessidade de os padres “serem próximos dos fiéis, sendo esta uma forma de kerygma ou primeiro passo para tal”.

O relatório assinalou também “a grande importância da pastoral familiar como forma privilegiada de evangelização e de transmissão da fé”. Para os jovens, considera-se necessário apresentar a Igreja “como casa aberta e acolhedora” e, na pastoral social, assinalou-se a importância dos centros sociais e equiparados, sem esquecer a necessidade de se “desenvolver o compromisso pessoal na ajuda ao próximo”. Na vida paroquial, salientou-se a “necessidade de suscitar a corresponsabilidade e a integração de todos no desenvolvimento” das diferentes pastorais da Igreja local.

 

Ensaios

- Comunidades CEG (Comunidades Evangelli Gaudium), para refletir a Exortação Apostólica. Reúnem-se quinzenalmente.

- Oração na cidade: proposta de oração, à segunda-feira, no Centro Comercial das Amoreiras, em Lisboa.

- Comemoração e festejos do Dia de São José, juntando as comunidades paroquiais e a restante população.

- Famílias acolhem a cruz de Jesus durante a Quaresma. Em cada casa, a cruz permanece um dia.

- Adesão da paróquia ao projeto ‘Refood’.

 

 

GUIÃO #3 / abril a junho de 2015: ‘O anúncio do Evangelho’

“Evangelização em família”

No terceiro trimestre da caminhada sinodal da Diocese de Lisboa, centrado no tema ‘O anúncio do Evangelho’, as respostas constatam uma presença forte do consumismo e de uma “cultura do descartável”, onde a solidariedade não é um exclusivo dos cristãos. “Muitos não-cristãos vivem a generosidade e a disponibilidade para a luta em favor dos direitos humanos e da dignidade, procurando estabelecer a fraternidade e a justiça social”, lê-se no relatório.

É também constatada uma comunicação “tendencialmente amadora” a nível diocesano e paroquial, que apela por investimento. Por parte de algumas comunidades paroquiais é reconhecida a “dificuldade em acolher, dialogar e compreender a etnia cigana e as culturas africana, chinesa e islâmica, embora alguns testemunhem, no sentido inverso, que a integração multirracial acontece favoravelmente”.

Transversalmente, nos vários âmbitos da vida paroquial, é apontada a dificuldade de integração da novidade. “Alguns referem que a escuta das opiniões, das angústias, das dúvidas, é um ponto fraco nas comunidades, ao que se associa a dificuldade de integrar pessoas que, por diversas razões, possam fugir aos padrões idealizados”. Em várias comunidades é constatado um “sobrecarregar de atividades eclesiais” por parte dos seus pastores, fazendo com que “deixem de estar disponíveis para um acompanhamento espiritual”. Nalguns casos também é reconhecida uma “falta de cuidado” das comunidades pelos seus pastores.  

Falta de “tempo e de oportunidades” são os fatores apontados por muitos cristãos para a falta de acompanhamento das atividades paroquiais que não se ajustam à conciliação com “turnos e a responsabilidades familiares”.

Por várias vezes, nas respostas enviadas sobre o Guião #3, trabalhado entre abril e junho de 2015, é referida a “urgência de uma evangelização em família”. É também feito um apelo por “mais propostas pastorais, dirigidas às gerações mais velhas”. Na vida política é desejada uma “maior participação”, em particular, na “vida política local” e é feita a constatação da falta de um “confronto pessoal com a Palavra”. “A Palavra de Deus não é central na oração pessoal, estando o único contacto limitado à Eucaristia, que alguns justificam com a falta de preparação ou de tempo”, sustenta o relatório.

No campo dos desafios previstos, foram enunciados algumas sugestões que acentuam a necessidade de uma formação permanente, em particular daqueles que “exercem ministérios”. A criação de “grupos de oração e partilha de vida, onde se confronte a Palavra com a atualidade” e de um “itinerário catequético que se leve a ver o Crisma como sacramento que prepara para a maturidade”, sustentado pelos “testemunhos”, também foram desafios enumerados pelos grupos sinodais. A “coerência de vida” é, segundo o conjunto de respostas ao Guião #3, um fator determinante para “falar de Deus” aos outros.

Para um melhor acolhimento, são apontadas a criação de “diferentes estratégias” que envolvam os “distintos grupos da mesma comunidade”, sempre “adaptadas à linguagem dos grupos a quem se dirigem” e não o contrário.

Na família, são propostas formações específicas para os tempos litúrgicos e é feito o alerta para “não excluir os divorciados recasados”. Neste capítulo, no campo da saúde, é sublinhada a necessidade de “uma maior compreensão do sofrimento humano, a partir da perspetiva cristã”.

 

Ensaios

- Realização de semanas missionárias.

- Noites de oração ecuménicas.

- Oportunidade de evangelizar, após a colocação de uma fotografia de uma peregrinação no local de trabalho.

- Missão intra paroquial.

 

 

GUIÃO #4 / setembro a dezembro de 2015: ‘A dimensão social da Evangelização’

“O serviço como atitude própria dos cristãos”

Na penúltima etapa da caminhada sinodal é constatada a “noção de que a fé se opõe à razão”, em particular nas camadas mais jovens. Apesar de se reconhecerem hoje, na Igreja, “muitos casos de opção pelos pobres”, a imagem global da Igreja não é ainda como uma “instituição pobre”. “A maioria vê a globalização como uma realidade positiva, mas em muitos casos ela absorve a preocupação com a realidade local, de tal modo que o princípio de subsidiariedade, especialmente na atenção aos pobres, nem sempre é assimilado nem praticado”, lê-se no relatório. Sobre a vida em Igreja, o documento assinala a falta de olhar o cristianismo como “uma experiência comunitária”: “Muitos dos que vão à Missa estão ao lado uns dos outros, mas não são uma comunidade. Por outro lado, temos testemunhos na Igreja de verdadeiro sentido de fraternidade”. “Neste contexto, a crise económica que se atravessa tem sido também oportunidade para que muitos experimentem a vivência da generosidade, mesmo quando esta provém de outros irmãos também desfavorecidos”, ressalva o documento.

Sobre uma “expressão autêntica da caridade da comunidade”, os centros sociais são apontados, nalguns casos, como “limitados” na “prestação organizada de serviços, estando, por vezes, completamente desligados das comunidades respetivas, cuja dimensão caritativa é parcial, escassa ou mesmo inexistente”. Foi também sublinhada a premência das comunidades para uma “resposta mais urgente às famílias carenciadas, pessoas com doenças graves, ou deficiências, e idosos que vivam isolados”.

Na enumeração de desafios que se colocam à Igreja local, o destaque vai para a existência de uma “coerência entre a fé professada e a fé vivida, nomeadamente no que toca à prática da caridade”, bem como ao “conhecimento do verdadeiro significado dos sacramentos”.

Respostas com “criatividade” para “promover na catequese a dimensão do serviço, saindo do modelo exclusivamente letivo”, são prementes no anúncio do kerygma. As respostas ao Guião #4 assinalam o desejo de cristãos “mais corajosos no anúncio de Jesus Cristo, especificando as implicações sociais que o mesmo tem nos sistemas económicos e financeiros da atualidade, sabendo que esse anúncio se opõe frontalmente às injustiças sociais”.

Foi também assinalada a urgência em “propor o serviço como atitude própria dos cristãos”, num desafio que passa por “consciencializar as comunidades de que o empenho pelo bem-comum, que leva à paz e à justiça, é um dos primeiros serviços dos cristãos”. O relatório destaca a importância da família como “base para a construção da sociedade” e sugere-se a “promoção de um ‘encontro social diocesano’ para “partilha de experiências relativas à ação social na Igreja de Lisboa”.

 

Ensaios

- Evangelização porta-a-porta.

- Criação de um espaço de acolhimento para crentes e não crentes.

- Criação de um grupo paroquial para identificar casos de necessidade.

  

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Relatórios online no site do Sínodo Diocesano 2016

Os relatórios das respostas aos Guiões de Leitura 1, 2, 3 e 4 podem ser consultados no site oficial do Sínodo Diocesano 2016 (http://sinodo2016.patriarcado-lisboa.pt), na secção ‘Sínteses e Relatórios’.

O Guião #5, com o tema ‘Evangelizadores com Espírito’, cujo período de reflexão decorreu entre janeiro e março de 2016, ainda não tem o relatório elaborado pela Comissão Preparatória.

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