Lisboa |
Escutar a Cidade
Pobreza, justiça e arte como prioridade para a Igreja diocesana
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A erradicação da pobreza, o fomento da justiça e o falar as linguagens da arte como questionamento e criação são os principais desafios à Igreja diocesana de Lisboa que constam no documento final da iniciativa Escutar a Cidade. Este contributo para o Sínodo Diocesano 2016 foi apresentado publicamente no passado dia 16 de abril, em Chelas.

 

Para os promotores do Escutar a Cidade, “a erradicação da pobreza é um objetivo prioritário de toda a Igreja diocesana”. “Assumir este objetivo como prioritário implica continuar a identificar e a estudar as raízes da pobreza e as condições da sua reprodução, tendo sempre presente as repetidas afirmações da Doutrina Social da Igreja de que a pobreza não é inevitável, nemirreversível e de que uma das tarefas fundamentais dos atores da economia é a obtenção de um desenvolvimento integral e solidário para a humanidade”, assinala o texto.

O documento final reafirma “a urgência de voltar a colocar a pessoa no centro da sociedade e da nossa cidade, construindo processos que combatam a cultura do descartável e criem uma cultura mais inclusiva de todos, derrubando barreiras geracionais, económicas e sociais”. Nestes ‘Contributos para o Sínodo da Diocese de Lisboa’, os promotores do Escutar a Cidade lembram ainda o problema da solidão: “Um dos aspetos mais violentos da pobreza, ainda que não seja um exclusivo seu, é hoje o problema da solidão. Perante essa magna questão, temos, por um lado, de criar individualmente uma predisposição de escuta e de abertura ao outro e, por outro, de pensar socialmente o reverso da solidão, isto é, de conceber formas de solidariedade social”.

 

Justiça e arte

O documento final da dinâmica Escutar a Cidade foi entregue, no passado dia 17 de março, ao Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e reflete as propostas que saíram das seis sessões de trabalho, que decorreram entre janeiro e junho de 2015, e que “visaram escutar os contributos para o Sínodo de Lisboa de quem, vivendo no mesmo tecido social, não partilha a pertença eclesial”, frisa o texto.

O apelo a “fomentar a justiça e a participação de novos nomes da Democracia” ganha também expressão neste documento. “Para se compreender o nosso tempo, não se pode ignorar que a reivindicação de justiça e a exigência de participação ganharam um lugar central nas nossas sociedades democráticas. A democracia não pode reduzir a participação dos cidadãos ao exercício do voto e à intervenção partidária, antes deve permitir a multiplicação dos lugares de afirmação cívica e cidadã, desse modo possibilitando a integração de muitos que hoje são excluídos”, refere o texto, sugerindo: “Neste quadro, a Igreja diocesana não é chamada apenas a identificar o que configura o presente; no seu jeito de ser fermento, ela pode e deve ser agente de justiça e de participação, exemplo de comunidade movida pela vontade de que ninguém seja excluído, promotora da participação democrática de todos ao fazer sua a voz dos injustiçados, dos maltratados e destratados da nossa cidade”.

Os ‘Contributos para o Sínodo da Diocese de Lisboa’, que foram apresentados publicamente no passado sábado, 16 de abril, na igreja de São Maximiliano Kolbe, em Chelas (ver caixa), salientam igualmente a promoção da arte como caminho de expressão da fé . “Os cristãos, as comunidades e as instituições eclesiais devem particular atenção às artes, no sentido de se relacionarem com elas e delas apreenderem outros olhares. Enquanto manifestações do pulsar humano e de uma inquietação quantas vezes profética (de denúncia e anúncio), a arte e a cultura foram sempre e continuam a ser lugares essenciais da expressão da fé. Essa centralidade deve continuar e ser aperfeiçoada pelo discurso e pela prática católica”, assinala o documento.

 

Acolher e ser acolhidos

Os membros do Escutar a Cidade frisam igualmente que “para chegar aos homens e mulheres que habitam o território da diocese, as comunidades cristãs devem também procurar outro modo de estar”. Neste sentido, defendem “fidelidade à ideia de universalidade cristã, que implica a consciência de uma cidadania global” e a “pluralidade na cidade e na Igreja”, lembram que a “promoção de expressões culturais e cívicas que sejam éticas e libertadoras exige o compromisso com o futuro enquanto lugar de possibilidade para todos” e sublinham “a centralidade da palavra bíblica”.

‘O sonho missionário de chegar a todos’ é o lema do Sínodo Diocesano Lisboa 2016. “Neste sonho missionário de chegar a todos e de ir até às periferias, queremos não só acolher, mas sobretudo aceitar ser acolhidos. A misericórdia e a compaixão que aprendemos de Cristo deve guiar este movimento de ir ao encontro de outros, mesmo daqueles para quem a nossa presença possa ser inesperada”, termina o documento final do Escutar a Cidade.

 

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Partilha e perdão

O Sínodo de Lisboa deve levar a Igreja diocesana a realizar “um levantamento de zonas de intervenção pastoral prioritária na diocese” de modo a concentrar nessa zonas a sua atenção e os seus recursos e a “estimular a partilha entre paróquias mais ricas com as mais necessitadas”. A proposta foi feita pela teóloga Cátia Tuna, na sessão final do Escutar a Cidade em que foi apresentado e debatido o documento ‘Contributos para o Sínodo da Diocese’, que decorreu sábado passado, dia 16 de abril, na igreja de Chelas, em Lisboa.

Helena Valentim, em nome dos trinta movimentos, comunidades e organismos que subscrevem o documento, sublinhou alguns aspetos essenciais do caminho de escuta e convergência que permitiu a formulação destes ‘Contributos’, no qual destacou a importância da Igreja da diocese pedir perdão a todos os que de algum modo exclui, como forma de dar credibilidade ao seu sonho de chegar a todos.

O padre Francisco Adão, Rita Valadas, os músicos Manuel Fúria e Luís Severo e o pároco de Chelas, frei Fabrizio Bordin, intervieram também no encontro, que terminou com a celebração eucarística vespertina da comunidade paroquial.

texto por Escutar a Cidade

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