Mundo |
Ninguém escuta os gritos de ajuda que chegam de Alepo?
Heróis na cidade mártir
<<
1/
>>
Imagem

As ruas estão desertas mas os tiros continuam a flagelar as ruínas. Os que puderam fugir já deixaram a cidade de Alepo. Os outros, os que ainda não fugiram, sentem-se encurralados entre os escombros dos prédios, o rebentamento das bombas e os tiros cobardes e certeiros dos “snipers”. Nesta cidade mártir há um punhado de heróis que precisam da nossa ajuda.

 

Entre os que ficaram ainda na cidade mártir de Alepo, há um punhado de padres e de irmãs que, todos os dias, fintam o medo procurando ajudar, como podem, as populações civis. Um desses sacerdotes é o franciscano Ibrahim Alsabagh. Há pouco mais de uma semana enviou uma mensagem para a Fundação AIS. “Desde o início da guerra”, em 2011, “nunca a situação em Alepo esteve tão mal como agora.” Há palavras que valem por mil imagens. “Os projécteis e as bombas caem sobre igrejas, mesquitas, escolas e hospitais”, diz o Padre Ibrahim, descrevendo uma cidade em ruínas, em que “inúmeras casas estão parcial ou totalmente destruídas”. Uma cidade em que, “reina uma tranquilidade inquietante, como num cemitério, quando não caem as bombas”. Uma cidade de ruas desertas e que cheira a morte.

 

Milhares de mortos

Apesar do cessar-fogo que tem vindo a ser negociado, de Alepo chegam notícias de combates, numa cidade dividida em bairros controlados pelo exército governamental e por forças jihadistas ou rebeldes. Para as populações civis, pouco importa, porém, quem está do lado de lá, de que metralhadoras são disparados os tiros, ou a quem esses grupos prestam vassalagem. Pouco importa o tamanho das balas ou a marca das munições para quem estará provavelmente condenado a não sobreviver a esta guerra civil, que já causou mais de 300 mil mortos e milhões de deslocados. As ruas estão cheias de invólucros vazios de pólvora. Até isso faz tremer. As ruas estão cheias de balas que ficaram por matar, como se não fosse já suficiente o cemitério em que se transformou este enorme país… Em muitas das ruas de Alepo, foram colocadas cortinas de tecido para que as pessoas possam deslocar-se sem serem logo alvejadas pelos atiradores furtivos. A vida está suspensa desde o início da guerra nesta cidade.

 

Padre Ibrahim

O Padre Ibrahim vive desde há dois anos em Alepo e todos os dias sente que a cidade continua a esvair-se aos poucos. O ambiente cada vez mais caótico da guerra tem levado ao êxodo da população. “Quem pode fugir, foge. Ainda no domingo, dia 1 de Maio, os caminhos de saída estavam cheios de pessoas que abandonavam a cidade. Só ficam os mais pobres, os que nem têm dinheiro para fugir.” É difícil imaginar Alepo como tendo sido a cidade mais rica da Síria, em que as ruas eram lugares cheios de vida, de cores, de pessoas oriundas dos quatro cantos do mundo. Hoje, é apenas um farrapo dessa memória. Transformada num palco de guerra, torna-se cada vez mais difícil ajudar as populações que ainda vivem na cidade. Os que não puderam fugir, os mais pobres dos pobres, os doentes, os idosos. Os que estão sozinhos.

 

Pedidos de ajuda

Em Alepo, há um punhado de sacerdotes, como o Padre Ibrahim, ou de religiosas, como a Irmã Annie Demerjian, que são apoiados pela Fundação AIS para que possam continuar a auxiliar estas populações. Tudo o que lhes dermos será sempre pouco. “Nós ajudamos como podemos”, diz o padre franciscano. “A maior parte das pessoas vive em casas semidestruídas e nós procuramos, na medida do possível repará-las e, graças ao apoio que recebemos de instituições como a Fundação AIS, procuramos distribuir alimentos, roupa, medicamentos, produtos de higiene e outros artigos de primeira necessidade. Agora precisamos mesmo de toda a ajuda possível do exterior, pois encontramo-nos numa situação de necessidade extrema.”

 

Apelos dramáticos

Por causa do agravamento da guerra, da violência que é exercida sobre as populações, têm-nos chegado, nos últimos dias, apelos dramáticos oriundos da Síria. Tanto a Irmã Annie como o Padre Ibrahim pedem que rezemos por eles, pelo povo martirizado da Síria. Nada mais parece estar a resultar. A diplomacia não está a conseguir fazer calar os canhões. Na carta que nos enviou, o Padre Ibrahim Alsabagh deixa-nos uma pergunta: “Quando despertará de vez a comunidade internacional, para se pôr fim a este novo Sarajevo?” Este é também um desafio enorme à nossa fé. Na Síria, em Alepo, um punhado de padres e de irmãs decidiram não abandonar a sua missão junto dos mais desfavorecidos, junto das populações martirizadas. Eles pedem-nos ajuda, imploram as nossas orações. São os heróis da cidade mártir.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES