Domingo |
À procura da Palavra
“Deus não é solitário”
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SANTÍSSIMA TRINDADE Ano C
“Quando vier o Espírito da verdade,
Ele vos guiará para a verdade plena.”
Jo 16, 13

 

Acreditar num Deus-Trindade é certamente uma das originalidades do cristianismo. “Pois então não era mais simples acreditar num só Deus do que andar às voltas com três?”, como desabafava um iniciado nestas “coisas” da teologia. Lembro também o encanto daquela pequenita, a quem, tentando ensinar-lhe o sinal da cruz, a avó ia dizendo: “Em nome do Pai… e do Filho… e…” “…da mãe!”, respondeu, orgulhosa a pequena! E como esquecer a história de Santo Agostinho quando pensava a obra sobre a Trindade, surpreendido por uma criança à beira-mar que procurava colocar a água do mar no pequeno poço que escavara na areia. “É mais fácil a água do mar caber nesse pequeno buraco do que o mistério da Santíssima Trindade ser entendido por um homem!”, respondeu a criança ao santo que lhe manifestara a impossibilidade de tal tarefa.

Jean-Nöel Bezançon, padre e teólogo da Diocese de Paris, falecido em 2014, é o autor da frase escolhida como título destas palavras. É também título de um livro seu, de que partilho uma passagem (que arrisco traduzir): “Só Deus é Deus, mas Deus não é só. Deus não é solitário, enrodilhado ciosamente na sua existência. Não só porque nos criou para viver na sua presença, e repetiremos que ele é tudo para nós, ora pai, mãe, amigo e esposo atencioso. Mas sobretudo porque desde sempre, como nos diz S. João, “Deus é Amor” (1 Jo 4,8).” Criados pelo Deus-Amor, a nossa existência pessoal é marcada por este dinamismo trinitário: todo o “eu” está voltado para um “tu” e anseia tornar-se um “nós”. Nas múltiplas concretizações da nossa vida, o amor tem sempre essa marca de abertura e crescimento, cria e recria um dinamismo de vida que nos faz mais plenos. Podemos encontrar na relação esponsal uma feliz imagem deste dinamismo, como escrevia o poeta Sebastião da Gama: “Aquele sim de nós dois, Senhor / foi tão sincero / que agora, quando eu digo: “Quero” / já não sou eu que digo. Somos nós”.    

Será também procura de comunhão a necessidade de estarmos sempre conectados no mundo virtual da internet? Num recente estudo Portugal aparece em 21º lugar entre 78 países mais conectados do mundo, e o “smartphone” o dispositivo eleito para essa ligação. Pode ser vitória sobre alguma solidão, mas não há palavras para o espetáculo de tantos, dobrados sobre um écran que levam nas mãos, ou a pouca comunhão de algumas pessoas à mesa, cada uma mais atenta aos toques do telemóvel, do que aos outros com quem está! “Confrontar-se com os outros e ao mesmo tempo confrontar-se consigo mesmo” é a atitude filosófica referida por Óscar Brénifier, um filósofo francês que fez em Lisboa um workshop sobre filosofia do quotidiano. 

O desejo de Santo Agostinho percorre o nosso pensamento. Deus não se revela como Trindade para O deixarmos de procurar e de pensar. Pelo contrário, graças a Ele podemos pensar, e questionar, e duvidar. E que maravilha a surpresa de não O entendermos completamente! O maior perigo de uma religião é aprisionar o pensamento, impedir o diálogo e matar o desejo de entender. A contemplação não é a desistência do pensamento, mas entender a verdade como beleza e bondade. Pois, contemplar, não é simplesmente assistir, mas convite a entrar. Entrar na comunhão, a tal “verdade plena”, que se vive no amor, na incarnação diária de sermos com outros, de criar “nós” onde havia solidão, de criar beleza onde havia indiferença!

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