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P. Manuel Barbosa, scj
Promover a cultura do coração

Em finais de maio e quase a entrar em junho, ambos meses do coração, o de Maria e o de Jesus, somos provocados a recentrar vidas, famílias e comunidades no Coração de Jesus por especial intercessão do Coração de Maria.

São preciosas e bem apropriadas as palavras do Cardeal Patriarca de Lisboa a 13 de maio, em Fátima, a iniciar o ano que precede o Centenário das Aparições: «O ícone da adesão a Cristo como em Maria aconteceu, de sentimento profundo, decisão forte e prática consequente. E com Maria há de acontecer em nós – e por nós no mundo, o nosso mundo agora. Misericórdia, Igreja e Maria são expressões maternas do amor envolvente, em torno de Cristo e do seu Coração: ao Sagrado Coração de Jesus pelo Imaculado Coração de Maria, assim resumiremos a devoção cristã – e a própria mensagem de Fátima».

Há largos anos, numa homilia em Roma aos Sacerdotes do Coração de Jesus, dizia o Cardeal Saraiva Martins: «Que faria a Igreja sem a espiritualidade do coração? Sem o Coração de Jesus e de Maria? Seria algo de frio e de gelado».

Sugiro algumas implicações, qual convite à necessidade de cultivar uma autêntica cultura do coração, sempre a partir do amor de Deus e na contemplação do Coração de Cristo e de Maria.

1. Promover a cultura do coração: ser e viver segundo o Coração de Jesus pelo Coração de Maria, como missão de quem adere a Jesus como seus discípulos missionários.

2. Promover a cultura do coração: viver em cordialidade, feita de acolhimento, hospitalidade e proximidade, como resposta às necessidades e expectativas do mundo, vendo a realidade existente com olhos novos da fé, afinal o olhar do coração.

3. Promover a cultura do coração: agir como pessoas com coração novo em Cristo, ter amor extraordinário pela Palavra, pela Eucaristia, pela Reconciliação, em estilo de fecundas vidas plenas de misericórdia.

4. Promover a cultura do coração: ter paixão por Cristo e paixão pela Humanidade, assumindo atitudes de espírito comprometido em abertura amorosa, como profetas do coração, da graça e da misericórdia.

5. Promover a cultura do coração: acolher os perdidos e os excluídos, os ignorados e os afastados, os sozinhos e os abandonados, sempre inspirados pelo hospitaleiro Coração do Bom Pastor.

6. Promover a cultura do coração: contemplar os rostos próximos com olhar gratuito de coração, com humilde, sincera e sentida abertura ao outro e ao mistério da sua presença, cultivando uma cultura de vida e de amor, toda contrária à violência e à guerra, ao conflito e à intolerância, à indiferença e à cultura de morte, ao aborto e à eutanásia; uma cultura do coração que contraria tudo o que atenta à vida no seu todo.

7. Promover a cultura do coração: semear e construir misericórdia, convivendo com o mundo, na constante procura do fraterno diálogo, tornando-se instrumentos de perdão e de reconciliação, fomentando a harmonia e a paz.

8. Promover a cultura do coração: globalizar o amor como alma das famílias, das comunidades, da sociedade, abrindo o coração a todos sem aceção nem exclusão, fazendo do Coração de Cristo o centro a que importa sempre regressar.

9. Promover a cultura do coração: abraçar a sério a Cruz de Cristo na Luz da Páscoa, peregrinando em testemunho de serviço e amor, com ternura, mansidão e bondade, sempre na misericórdia de Deus.

10. Promover a cultura do coração: ser anunciador do coração, do Coração de Cristo que transforma o coração do homem sob a ação do seu Espírito.

Num mundo sem coração, a marca do Coração de Cristo, plena expressão do Amor de Deus derramado em nós no seu Espírito, não será a mais apropriada?

Como tudo seria diferente se houvesse na Igreja e no mundo uma autêntica cultura do coração, a sugerir no húmus do nosso coração atitudes de vida consoantes à Vida no Coração de Deus. Que estes dois meses do coração, de Maria e de Jesus, a isso nos provoquem!


foto por Santuário de Fátima