Lisboa |
Paróquia de Alcabideche recebe Missão Jesus’16
Quatro missões, um só em Cristo
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Depois dos movimentos, dos jovens e dos universitários, chegou a vez dos seminaristas. Missão Jesus é a quarta iniciativa missionária de evangelização em Alcabideche, neste ano pastoral. “Uma terra bafejada pela sorte”, salienta o pároco, padre José Paulo Machado.

 

“A paróquia tem acolhido bem estas missões. Tirando alguns nichos paroquiais, temos uma prática dominical bastante envelhecida. Isto significa que o trabalho juvenil acaba por ser uma provocação e um desafio a assembleias que estão sedimentadas, o que não deve existir”. Para o pároco de Alcabideche, as quatro missões que a paróquia recebeu neste ano pastoral – Missão Amar-Te, Missão Lx, Missão País e, atualmente, a Missão Jesus’16 – “tiveram o grande efeito de romper com uma Igreja hermética”. “Uma Igreja hermética, como diz o Papa Francisco, não está em saída, tendencialmente definha e morre. A provocação está nisto: temos comunidades que de facto têm prática cristã, mas muito envelhecida, que se continuam num certo hermetismo tendencialmente vão definhar e vão morrer”, aponta o padre José Paulo Machado, ao Jornal VOZ DA VERDADE, sublinhando: “Alcabideche foi bafejada pela sorte de ter tido, neste ano, várias missões”.

Alcabideche e Alvide são os eixos populacionais desta paróquia da Vigararia de Cascais, que tem ainda como lugares Manique, Bicesse, Cruz Vermelha, Murches, Janes e Malveira. A Missão Jesus’16, com os seminaristas do Seminário de Caparide, “procurou descentrar-se dos centros, incidindo mais na periferia paroquial, em Murches, Janes e Malveira”. “Agradeço muito este óculo pastoral sobre estas partes mais distantes da paróquia”, salienta o pároco, natural dos Açores, lembrando que o principal desafio de Alcabideche, que tem 39 quilómetros quadrados de área geográfica, é “criar um sentido unitário”. “Eu sou de um arquipélago atlântico e marítimo, mas temos aqui um arquipélago terrestre. O nosso objetivo é fazer uma comunidade de comunidades”.

Chegado a esta paróquia em setembro de 2015, o padre José Paulo é sacerdote da Diocese de Angra mas veio, há seis anos, para o Patriarcado tirar o Mestrado e agora o Doutoramento em Ciências da Comunicação, na área da Imprensa, em especial na história dos Média na sua diocese. Pastoralmente, esteve cinco anos na paróquia do Estoril, onde colaborou e foi coadjutor. Neste último ano, foi nomeado pároco de Alcabideche. “Tenho uma grande divida de gratidão para com o Patriarcado, na pessoa dos seus Bispos, primeiro o senhor D. José Policarpo e agora o senhor D. Manuel Clemente, que têm sido pastores impecáveis e espero somente poder corresponder ao que me pedem”.

A Paróquia de São Vicente de Alcabideche, que teve no padre Luís Fialho o seu pároco durante 41 anos, tem “uma obra social muito interessante”, através do centro social paroquial, com as quatro creches e o lar de idosos “muito considerado no concelho de Cascais”. A aposta no próximo ano pastoral passa pela catequese. “Alcabideche ainda é uma terra de primeiro anúncio. O grande desafio para o ano acaba por ser uma construção e um empenho a sério ao nível da catequese. Temos de aproveitar a chama que ainda fumega”, deseja o padre José Paulo, lembrando “o drama da catequese a partir do 6º ano, que praticamente não existe”.

 

Oito terras, mas um só em Cristo

A paróquia de Alcabideche está a receber, desde o passado dia 4 de junho e até este Domingo, dia 19, a Missão Jesus’16, um tempo de evangelização que faz parte da formação dos seminaristas. O padre Hugo Gonçalves, prefeito do Seminário São José de Caparide, explica ao Jornal VOZ DA VERDADE que, “desde há cerca de 15 anos, o Ano Propedêutico do Seminário de Caparide – o ano de entrada no seminário maior da diocese – realiza estas missões por várias paróquias da nossa diocese”. “A Missão Jesus é um tempo de evangelização em paróquias que necessitam de alguma reanimação comunitária, reanimação a nível da fé, que precisam mesmo de evangelização por terem grupos de pessoas ou certas zonas da paróquia que estão descristianizadas”, frisa. Este tempo de formação, segundo este jovem sacerdote de 36 anos, ajuda os seminaristas “a conhecerem as realidades diversas que a nossa diocese tem e as formas diferentes de a Igreja ser e se fazer, de acordo com os contextos em que vive”. “A Missão Jesus ajuda estes jovens a darem-se conta das dificuldades e das oportunidades que hoje se põem à missão”, acrescenta. A escolha desta paróquia da Vigararia de Cascais, de acordo com o padre Hugo, prendeu-se “com uma sugestão do Cardeal-Patriarca ao Sector da Missão do Patriarcado de Lisboa como zona a ‘investir’ nos próximos três anos”. “O seminário também se associou a este trabalho missionário que está a ser desenvolvido em Alcabideche”, destaca este padre da equipa formadora do Seminário de Caparide.

A Missão Jesus deste ano está a ser levada a cabo por 16 seminaristas – nove do Patriarcado de Lisboa e sete de outras dioceses (dois do Funchal, um de Santiago e outro de Mindelo em Cabo Verde, um rapaz de São Tomé e Príncipe e dois de Cochim, na Índia). “Alguns dos rapazes vêm do seminário menor, outros vêm do 12º ano e a ser acompanhados no Pré-Seminário, outros vêm já de um caminho universitário e há ainda outros que vêm do mundo do trabalho. Há uma grande diversidade de proveniências, mas também de meios culturais e de experiências de vida”, descreve o padre Hugo, assinalando que os seminaristas têm idades compreendidas entre os 18 e os 26 anos. Tal como na Missão Lx (ver caixa), que Alcabideche recebeu entre o Natal o ano novo, também na Missão Jesus os seminaristas ficam alojados em casa dos paroquianos.

O lema da Missão Jesus é sempre retirado das leituras da Missa do último dia de missão. ‘Somos um só em Cristo’, da Carta aos Gálatas, é o lema da missão deste ano em Alcabideche. “Procuramos restabelecer e aprofundar a unidade entre os vários lugares da paróquia. Por isso este lema faz tanto sentido: são oito igrejas, oito terras, mas um só, em Jesus Cristo”, aponta o padre Hugo.

 

Envolvimento

A vida de Rodrigo mudou com a Missão Jesus. Estávamos em 2013 quando a paróquia deste jovem de 19 anos, São Julião do Tojal, em Loures, recebe os seminaristas do Seminário de Caparide para um tempo de evangelização. “Nunca me tinha passado pela cabeça entrar no seminário, mas o que me fez mudar foi a alegria que vi nos seminaristas que estiveram na minha paróquia”, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE. Rodrigo Cardoso queria experimentar. Queria viver. E arriscou. “Ver rapazes mais ou menos da minha idade que estavam no seminário e tinham essa alegria fez-me pensar e tirar algumas ideias que tinha na cabeça”, assume este jovem seminarista, então com 16 anos e que estava a terminar o 11º ano.

Os 15 dias de missão em Alcabideche têm sido marcados… pela alegria! “As visitas à creche de Janes têm sido marcantes. A simplicidade das crianças, o ver a maneira como nos acolhem. Mesmo não nos conhecendo, vêm logo ter connosco e deixam-nos à vontade. Gostei muito da experiência na creche pela maneira como as crianças se deixam tocar e veem em nós algo diferente e mesmo assim não têm medo”, aponta.

Rodrigo era catequista e antes de entrar no Seminário de Caparide, no início deste ano pastoral 2015-16, fez a semana de verão no Pré-Seminário e um ano no seminário menor. Teve uma educação católica em casa e os pais sempre o levaram à igreja. Antes da entrada no seminário, este jovem viveu a Missão Jesus como ‘recetor’ da ação, há três anos atrás. “Recebemos dois seminaristas lá em casa e durante esse tempo fui-me sempre envolvendo”, salienta. Agora, é um dos intérpretes desta missão. “É engraçado ver este lado contrário… vou vendo a experiência que tive do outro lado e tento agora também chegar às pessoas a partir do exemplo que me foi transmitido”, refere.

A experiência em Alcabideche, assume, “tem sido boa”. “Estar deste lado exige um maior envolvimento com as pessoas, sair de nós e ir. Tem sido bom ver as pessoas que nos acolhem e nos ajudam a crescer”. Rodrigo Cardoso assinala ainda que recebe mais do que aquilo que dá. “Vamos com ideias de como serão os encontros e depois somos tocados por uma palavra de um idoso ou de uma criança”.

 

Cá, como lá

Da Índia chegou o seminarista Safin Sebastin, que está a fazer a sua formação no Seminário de Caparide. Não conhecia a Missão Jesus. “É muito engraçada a Missão Jesus. Nunca tinha tido uma experiência como esta, de estar a viver em casa de uma família que eu não conhecia, mas que é muito simpática. O meu colega seminarista e eu fomos recebidos como se fossemos dois filhos”, aponta ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Este jovem de 25 anos, da Diocese de Cochim, no sul da Índia, chegou a Lisboa em julho do ano passado. “Éramos quatro no nosso curso, e por escolha do nosso Bispo dois vieram para Lisboa e os outros dois permaneceram na Índia”, refere, apontando que no país Natal o hinduísmo é a religião maioritária, depois a muçulmana e os cristãos têm apenas cerca de três, quatro por cento de fiéis. Da Missão Jesus em Alcabideche o seminarista Safin sentiu-se tocado particularmente pelas crianças, tal como Rodrigo. “Gosto muito de crianças e quando passo tempo com elas, não sei explicar, fico muito alegre. Gosto muito de estar com elas, conversar com elas, cantar com elas e fazer brincadeiras”, conta Safin Sebastin.

Safin nunca tinha saído da Índia quando chegou a Lisboa. “Nestes 11 meses em Portugal tem-me marcado o seminário e as pessoas. Nunca pensei que as pessoas fossem tão simpáticas, com um coração tão bom para ajudar. Para um estrangeiro, a língua é diferente, a cultura é diferente, mas as pessoas não têm problemas em acolher”, descreve, num português quase perfeito, enaltecendo ainda o facto de “as pessoas não terem vergonha de proclamar a fé”.

  

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Ver Jesus nos outros

Recentemente, na semana entre o Natal e o ano novo, Alcabideche tinha recebido a Missão Lx, organizada também pelo padre Hugo Gonçalves. O que distingue, afinal, estas duas ações de evangelização realizadas por jovens leigos e jovens seminaristas? “Enquanto a Missão Lx é muito mais ligada para a parte sociocaritativa – quase que exclusivamente se dedica a isso, embora depois haja muita missão interna, ou seja os jovens têm muitas atividades entre eles e tempos de oração que visam o crescimento deles na fé –, no caso dos seminaristas, além dessa dimensão sociocaritativa com vista à evangelização, há também uma grande parte de animação comunitária, com encontros com grupos de jovens da paróquia, catequistas e vários grupos que existem nas comunidades”, descreve este sacerdote.

Na Missão Lx, por altura das festas natalícias, o padre Hugo Gonçalves, antes de cada ação, lembrava os jovens de que eles vão ver Jesus nos outros. Na Missão Jesus, esta premissa está também presente, mas de forma um pouco distinta. “Os seminaristas têm já um olhar mais ‘educado’ em relação a isso, quer seja no porta-a-porta, nas pessoas que encontramos, nas histórias que escutamos, quer seja quando vamos a um lar, e estamos em contacto com uma pessoa mais idosa, ou nos vários encontros que vamos tendo. É muito visível, se estivermos atentos, a presença de Jesus”. E os lugares onde Jesus ainda não chegou? “São também muito visíveis”, lamenta o sacerdote. “De uma forma muito aguda, conseguimos perceber onde é que o Evangelho precisa também de chegar e penetrar”.

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