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P. Manuel Barbosa, scj
Vidas eucarísticas

Aconteceu em Fátima, de 10 a 12 de junho, o IV Congresso Eucarístico Nacional, sob o tema «viver a Eucaristia, fonte de misericórdia». O anterior realizou-se há 19 anos... Os congressos eucarísticos, nacionais e internacionais, são um precioso tempo de graça para a vida da Igreja. Além dos normais temas de reflexão, são preenchidos com testemunhos eucarísticos, orações e celebrações, sobretudo a Eucaristia e a Adoração; recordam-nos, de forma eminente, que as nossas vidas em Cristo são essencialmente eucarísticas.

Em próxima escrita espero transmitir o que foi intensamente vivido neste Congresso. Por agora, quero apenas questionar se a nossa existência é autenticamente assumida no seu todo como Eucaristia. Dela fala o Concílio Vaticano II como “fonte e cume de toda a vida cristã”, utilizando termos dinâmicos para significar a nossa relação a este sacramento: participar, oferecer a vida, tomar parte, alimentar-se, manifestar, realizar. A Eucaristia só pode ser fonte e centro da nossa vida, no encontro com Cristo em Igreja, em comunidade.

Então porque é que a Eucaristia é tantas vezes uma realidade distante, vazia, desligada da vida, repetitiva, estática? Quantos cristãos, desde cedo, deixam de participar na celebração eucarística, se calhar por motivos fúteis e banais, por comodismo e indiferença?!

A permanente conversão à Eucaristia exige oração e reflexão; exige igualmente que as celebrações sejam próximas da vida concreta, sejam verdadeiro encontro de irmãos em Cristo e espaço de acolhimento das nossas vidas feitas de alegrias e tristezas, sejam celebrações mais vivas e dinâmicas, no silêncio e na palavra, na interioridade e na festa. A Eucaristia deveria ser sempre a Grande Festa da Vida, celebrada em Comunidade!

Sendo a Eucaristia memorial (anamnese) da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, nunca uma simples lembrança ou representação de acontecimentos passados, deveria ser celebrada como Vida e Libertação de Cristo no presente da nossa vida. Daí a nossa atitude como participantes ativos, em comunidade fraterna.

O “fazei isto em memória de Mim” não nos pode deixar passivos, pois o convite de Jesus é também uma promessa: cada vez que fizerdes isto em memória de Mim, celebrando e vivendo a Eucaristia, Eu estarei no meio de vós e vós estareis em comunhão comigo.

Somos convidados a tomar o Corpo que é o Cristo todo, a beber o Sangue que é a Vida; a Eucaristia torna sempre presente, de uma maneira renovada e atual, o único sacrifício de Cristo. No “tomai e comei... tomai e bebei", Cristo convida-nos ao banquete, à comunhão, à ceia; a comunhão é essencial na Eucaristia, é a partilha da vida com Cristo e com os irmãos, é o convívio em comunhão de irmãos no mistério de Cristo. Cristo é o alimento que somos convidados a partilhar com os outros convivas e com todos os que não têm possibilidades de participar.

Enquanto ação de graças, a Eucaristia é ponto de chegada da vida, momento alto de celebração e ponto de partida para a vida. A Eucaristia faz-nos ver Cristo presente no irmão e no mais pobre, no mais abandonado e rejeitado, no mais excluído e ultrajado. A Eucaristia leva-nos a sair das nossas mentalidades utilitaristas e consumistas, a sair dos nossos egoísmos e autossuficiências, a abrir o nosso coração ao Coração de Cristo e à misericórdia de Deus Pai, e simultaneamente ao coração do irmão, de modo gratuito, entusiasta e terno. Daí vivermos a Eucaristia como missão.

Vivemos eucaristicamente na medida em que assumimos a Eucaristia como memorial, sacrifício, banquete e ação de graças, em plena sintonia da liturgia da celebração com a liturgia do quotidiano, em todos os âmbitos e situações do nosso peregrinar. É isso que acontece nas nossas vidas e famílias, comunidades paroquiais e religiosas?