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Em Zahlé, no Líbano, a Igreja distribui 500 refeições por dia
A cantina do arcebispo
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São os mais pobres dos pobres. São refugiados. Vieram quase todos da Síria e perderam tudo o que tinham. Agora vivem da solidariedade. Têm fome e precisam de comer. O Arcebispo D. Issam Darwish decidiu transformar uma cozinha numa cantina e distribuir comida aos mais necessitados. Esta cantina, em Zahlé, é um “Lugar de Misericórdia”.

 

Em Março, assinalou-se o quinto aniversário do início da guerra civil da Síria. Cinco anos depois, calcula-se que esta guerra, que tem sido expressão do que de pior a humanidade é capaz, já tenha morto mais de 400 mil pessoas. Cinco anos depois, cinco milhões de sírios foram forçados a abandonar as suas casas. Foram forçados a fugir para salvarem a própria vida. Muitos, vivem agora no Líbano, vivem na cidade de Zahlé. São refugiados. São pessoas encurraladas entre um passado terrível e um futuro assustador. Por ali ninguém sabe o que vai ser das suas vidas. Todos dependem, de alguma maneira, da caridade. Pelas ruas de Zahlé todas as conversas vão parar às histórias da guerra, às memórias dos combates, das explosões, dos gritos, dos silvos das bombas a cair, dos prédios em ruínas, das pessoas em lágrimas, em luto.

 

As lágrimas de Flodia

Por ali, pelas ruas de Zahlé, a vida é cada vez mais difícil. O tempo vai passando, não há trabalho, a vida é cada vez mais cara. Os próprios libaneses queixam-se de como tudo está mais difícil e os refugiados pouco mais podem fazer do que esperar. Flodia, George e Eli são apenas três dos milhares de refugiados cristãos sírios que encontraram abrigo em Zahlé, no Líbano. Tal como a história de tantos outros refugiados, Flodia fugiu com a família quando já se combatia na sua rua, no seu bairro, na cidade de Homs. Trouxeram apenas a memória do cheiro da pólvora, as ruas entulhadas dos escombros dos prédios e o olhar desesperado de mães e pais, de crianças e idosos. Não é possível esquecer os olhos carregados de medo dos que fugiram de Homs, dos que fugiram da guerra. Hoje, Flodia, o marido, George, e o filho, Eli, vivem num minúsculo quarto no Líbano. Também eles estão encurralados entre o susto do passado e o medo do futuro. São apenas uma família. Há mais de 1 milhão de refugiados sírios como eles no Líbano… Todos os dias se escutam lamentos nas conversas, nas ruas de Zahlé. São lamentos como os de Flodia ou de George, são lamentos de pessoas que se sentem impotentes perante a voragem dos acontecimentos. “Tínhamos uma boa casa, em Homs”, costuma dizer Flodia, como a desculpar-se por estar agora de mãos vazias e sem perspectivas de futuro.

 

Os mais frágeis

D. Issam Darwish, o Arcebispo Greco-Católico, conhece praticamente as histórias de todos os refugiados e já chorou com eles… Hoje, em Zahlé, são todos vizinhos do mesmo infortúnio. Todos, por ali, perderam o que tinham mas há alguns que estão numa pobreza quase total. A pensar neles, D. Issam decidiu abrir as portas da igreja, transformando uma cozinha numa verdadeira cantina e distribuindo comida, todos os dias, a cerca de meio milhar de pessoas, principalmente os que se encontram em maior fragilidade. Os que não têm família, as crianças que perderam os pais, os mais idosos, os doentes. Todos os dias é distribuída uma refeição quente. Ninguém sabe a ementa de amanhã ou como vai ser a comida daqui a umas semanas. Por ali, pela cantina do arcebispo, é um dia de cada vez. Hoje, a ementa é sopa, salada, uma refeição quente, água e fruta. Amanhã logo se verá…

 

Oferecer ajuda

Todos os dias por ali acontece o milagre da divisão dos pães. Tudo o que recebem é distribuído. Em Zahlé, no Líbano, na diocese de D. Issam, acontece todos os dias o abraço da misericórdia que o Papa Francisco tanto nos tem pedido. “Decidimos dar uma refeição quente por dia a cada pessoa pobre e necessitada. Assim – diz D. Issam – sentiremos todos o Amor de Jesus, nosso salvador, por nós.” Zahlé é, por estes dias, um lugar de misericórdia. A igreja no Líbano é muito pobre. Esta cantina solidária só abre portas graças à solidariedade de algumas instituições. Uma delas é a Ajuda à Igreja que Sofre. “A Fundação AIS foi a primeira a oferecer ajuda”, diz D. Issam Darwish. “De resto, estamos sozinhos com as nossas carências.” O Arcebispo trava uma longa luta contra o esquecimento a que estas populações parecem estar votadas. No início da guerra, houve o frenesim das notícias. Depois, aos poucos, a voragem mediática foi esfriando. Hoje, os refugiados no Líbano são quase apenas estatística. São um número.

 

Fazer alguma coisa

Mas D. Issam conhece as lágrimas de Flodia e de George e de todos os outros, e sabe que são verdadeiras. Ele conhece o pesadelo de todos os que tiveram de fugir da guerra e sabe que são pessoas de carne e osso. Viu crescer crianças que nunca foram à escola e não sabe que adultos eles vão ser. D. Issam esteve já em Portugal. Foi há dois anos, a convite da AIS. Então, como agora, os refugiados eram já a sua grande preocupação. Perante a dimensão da tragédia, D. Issam lançou-nos um desafio: “Façam alguma coisa”. Lembram-se? Passaram dois anos. A cantina do arcebispo, em Zahlé, no Líbano, é hoje um lugar de misericórdia. Muitas das refeições que por ali são distribuídas são o resultado também da generosidade dos benfeitores e amigos portugueses da Fundação AIS. Ninguém sabe a ementa de amanhã ou o que vão comer daqui a uns dias. Tudo depende do que receberem. Por ali, pela cantina do arcebispo, é um dia de cada vez.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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