Missão |
Alina Ferreira
“Foi uma experiência incrível, onde dei sem querer nada em troca”
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Alina Ferreira nasceu a 28 de julho de 1987, em Santo Tirso. É licenciada e mestre em Gerontologia, pela Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro, com especialização em Gestão de Equipamentos Sociais. Esteve em missão em São Tomé e Príncipe com o voluntariado da ORBIS e o Secretariado Diocesano de Animação Missionária de Aveiro.

 

Nasceu numa família católica e frequentou a catequese até ao momento em que recebeu o Sacramento do Crisma. “Após fazer o Crisma, eu e alguns elementos do meu grupo de catequese juntamente com os meus catequistas, criámos um grupo de jovens na paróquia, que existiu durante alguns anos. Em 2006, decidi começar a dar catequese da adolescência com a minha irmã e o meu cunhado. Atualmente, ainda sou catequista e estou com mais dois catequistas com o grupo do 9º ano. Sinto-me bastante realizada ao poder acompanhar estes jovens e ajudá-los a crescer na fé”, partilha. Recorda também a entrada na universidade, em 2005, como um marco da sua vida “pela aventura que foi estudar longe de casa num curso desconhecido que rapidamente percebi que ia adorar. Para mim, com 18 anos significou crescer e ter que assumir responsabilidades, tais como, cozinhar diariamente, tratar da minha roupa, das contas e compras da casa”. Em 2013 começou a namorar com o Wilson, seu amigo de longa data e conta que ele foi um dos seus grandes “apoios para fazer a minha missão, desde que decidi ir, até ao momento que cheguei ao aeroporto de Lisboa” e essa também é uma data que recorda como um marco na sua vida. Neste momento trabalha como gerontóloga, num lar em Santo Tirso. Antes disso trabalhou em investigação, primeiro como bolseira de investigação na Universidade de Aveiro e depois como colaboradora numa unidade de investigação do Porto, a UNIFAI. “Entre o fim do curso e o início do trabalho na área fiz inicialmente voluntariado num lar e depois trabalhei como operadora de caixa num supermercado. Cada experiência que temos dá-nos sempre algo, muda algo em nós. Por exemplo, era muito tímida e com este trabalho tornei-me mais comunicativa e descontraída quando estou com pessoas desconhecidas”, partilha.

 

Formação que prepara

Foi também durante os seus estudos universitários que conheceu as melhores amigas, uma das quais (a Ana) viria a fazer com ela a formação para partir em missão. “Inicialmente quando entramos na formação para o voluntariado sempre achámos que iríamos juntas em missão. Infelizmente não foi possível para a Ana fazer a missão o ano passado, mas este ano irei acompanhá-la de cá, mas o coração de novo em África”, partilha. Enquanto trabalhava na Universidade de Aveiro como bolseira de investigação, ficou a conhecer o voluntariado da ORBIS e do SDAM. “Partilhei com a minha amiga Ana e juntas decidimos ir à primeira reunião para conhecer melhor o projeto. Decidi que seria a oportunidade de realizar o sonho de fazer voluntariado missionário internacional, pois queria contactar com uma realidade diferente e ajudar naquilo que fosse possível. Depois contei aos meus pais, namorado, irmã e cunhado e senti o apoio de todos, mas com muitas reticências dos meus pais. Reconheço agora que quem fica sente medo por causa da distância e incerteza e o tempo custou a passar, mas para quem parte só pensa em cumprir o objetivo e absorver cada momento. A formação foi muito importante e preparou-nos para as situações que poderíamos encontrar no terreno. Recordo-me de ficar impressionada durante as formações da possibilidade de nos ‘darem’ crianças para trazermos para Portugal, mas depois quando isso aconteceu consegui lidar bem e sei que aquelas mães só fizeram isso porque julgavam que estariam a proporcionar uma vida melhor aos seus filhos. Conheci a Marta durante as formações e juntas partimos para São Tomé”, diz-nos.

 

Ser-se feliz com tão pouco

A 18 de Julho de 2015 partiu para São Tomé e Príncipe com a ORBIS onde esteve até 15 de agosto do mesmo ano. “Após 6 horas de viagem aterrámos na ilha que nos iria proporcionar uma das maiores experiências da nossa vida. Em São Tomé tivemos que entrar no espírito ‘leve leve’ e deixar para trás o ritmo a que estamos habituados. Lá tudo se vai fazendo devagarinho e sem grandes preocupações”. E continua a contar-nos sobre a sua missão: “Ficámos na vila da Ribeira Afonso situada no sul da ilha. Como sou gerontóloga já tinha ficado definido que, durante a manhã, iria estar com idosos num centro de dia, onde realizei algumas atividades como ginástica adaptada, puzzles e trabalhos manuais. Durante a tarde estava com a Marta e voluntários de Ribeira Afonso (ligados à paróquia) a fazer atividades num campo de férias com as crianças e adolescentes do 1º ao 9º ano. Fizemos jogos e demos aulas de português, matemática e inglês. Impressionou-me a enorme vontade que eles têm em aprender, contudo sentimos que eles tinham muitas dificuldades, que se devia essencialmente à falta de recursos materiais e uma correta formação dos professores. Verificamos que lá as necessidades são muitas. Por exemplo no apoio domiciliário, quando fomos entregar comida aos idosos, entrei em algumas casas sem o mínimo de condições e apercebi-me também que aquela refeição seria para partilhar com outros elementos da família. Vi muitas crianças descalças e a usarem roupa muito rota. Desde cedo as crianças ajudam a tomar conta dos irmãos e participam nas tarefas domésticas. Também existem jovens que deixam de estudar por falta de dinheiro. Foi muito importante para mim conhecer o trabalho das Irmãs Missionárias Canossianas junto da população e fico contente por perceber que também eles reconhecem a ajuda da Igreja”.

Ao terminar a nossa conversa diz-nos: “Quando me perguntam o que mais gostei de São Tomé, a minha resposta é: as PESSOAS, mas não desvalorizando as paisagens e os sabores. Mas de facto são as pessoas que fazem a diferença de um sítio, e eles são acolhedores, humildes, simpáticos e com um grande coração. A energia e a boa disposição deles contagia. Lá ouve-se música diariamente e não há santomense que não saiba dançar. Esse foi um dos meus maiores ensinamentos, pois aprendi com eles que é possível ser-se feliz com tão pouco. Sei que o convívio com eles proporcionou-me uma mudança interior de valores e atitudes. Parti com as malas cheias de materiais e roupa, um pouco de nervosismo à mistura e uma enorme vontade de ajudar e regressei com malas cheias de sabores e recordações de São Tomé, a certeza de dever cumprido e que não seria um adeus, mas um até já. Por isso quando me perguntam se valeu a pena a experiência a minha resposta só poderia ser um enorme SIM acompanhado com um sorriso. Foi sem dúvida uma experiência incrível, onde dei sem querer nada em troca. Sei que deixei lá um pouco de mim e trouxe um pouco deles no coração”.

texto por Catarina António, FEC – Fundação Fé e Cooperação
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