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Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia - Polónia
Papa Francisco deseja uma equipa de “jogadores titulares” e longe do sofá
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No final de julho, Cracóvia, na Polónia, foi o centro do mundo. A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) transformou-a num espaço de encontro, fé, alegria. Foi a capital da juventude, foi lugar para os que querem ser santos, foi cidade dos cristãos que não querem ficar no sofá. Foi o rosto sempre jovem da misericórdia.

 

Dois milhões de jovens do mundo inteiro – entre os quais 1200 de Lisboa, num total de sete mil portugueses – coloriram de alegria a cidade de Cracóvia, na Polónia. Chegaram de avião, fizeram longas viagens de autocarro, trocaram de comboios e caminharam. Queriam estar juntos, fazer daqueles dias lugares de encontro: com eles, com os outros, com Deus. E queriam estar com o Papa Francisco. Vê-lo e ouvi-lo como quem ouve um Pai.

 

Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia

No dia 28 de julho, o Parque Blonia, muito perto do coração de Cracóvia, encheu-se de sorrisos curiosos e almas ansiosas para a cerimónia de acolhimento e o tão esperado primeiro encontro com o Santo Padre. Ao tomar a palavra, perante milhões de jovens expectantes, o Papa Francisco fez questão de dedicar as primeiras intenções a São João Paulo II, “que sonhou e deu impulso a estes encontros”. “Do céu, ele acompanha-nos vendo tantos jovens pertencentes a povos, culturas, línguas tão diferentes animados por um único motivo: celebrar Jesus que está vivo no meio de nós. E dizer que está vivo é querer renovar o nosso desejo de O seguir, o nosso desejo de viver com paixão o seu seguimento”, sublinhava.

Seguir é partilhar, desafiou Francisco: “Qual modo melhor para reforçar a nossa amizade com Jesus do que partilhá-la com os outros? Qual maneira melhor para viver a alegria do Evangelho do que querer «contagiar», com a sua Boa Nova, a tantas situações dolorosas e difíceis?”. Porque afinal foi Jesus “que nos convocou para esta 31ª Jornada Mundial da Juventude; é Ele que nos diz: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia»”, como refere o tema desta Jornada.

 

“A misericórdia tem sempre o rosto jovem”

O Papa Francisco partilhou ainda a beleza da sua experiência de trabalho com jovens enquanto bispo. “Não há nada mais belo do que contemplar os anseios, o empenho, a paixão e a energia com que muitos jovens abraçam a vida. Quando Jesus toca o coração dum jovem, duma jovem, estes são capazes de ações verdadeiramente grandiosas”.

Francisco não se cansou de repetir: “A misericórdia tem sempre o rosto jovem”. E um coração misericordioso “tem a coragem de deixar a comodidade; um coração misericordioso sabe ir ao encontro dos outros, consegue abraçar a todos. Um coração misericordioso sabe ser um refúgio para quem nunca teve uma casa ou perdeu-a, sabe criar um ambiente de casa e de família para quem teve de emigrar, é capaz de ternura e compaixão. Um coração misericordioso sabe partilhar o pão com quem tem fome, um coração misericordioso abre-se para receber o refugiado e o migrante. Dizer misericórdia juntamente convosco é dizer oportunidade, dizer amanhã, compromisso, confiança, abertura, hospitalidade, compaixão, sonhos”.

De seguida, Francisco lançou o desafio aos milhares de jovens que ali estavam. “Estamos aqui reunidos para nos ajudarmos uns aos outros, porque não queremos deixar que nos roubem o melhor de nós mesmos, não queremos permitir que nos roubem as energias, a alegria, os sonhos com falsas ilusões”. Até porque só “há uma resposta: não é uma coisa, não é um objeto; é uma Pessoa e está viva, chama-se Jesus Cristo”, Aquele que “sabe dar verdadeira paixão à vida, que nos impele a levantar o olhar e sonhar a altitude”. Estava, assim, lançado o mote para esta Jornada polaca: “Que sejam dias para Jesus, dedicados a ouvi-l’O, a recebê-l’O nas pessoas com quem partilho a casa, a rua, o grupo ou a escola. Queremos afirmar que a vida é plena quando é vivida a partir da misericórdia; esta é a parte melhor que nunca nos será tirada”.

 

A fraternidade como resposta à violência

Outro dos pontos altos deste grande encontro de jovens cristãos foi a Vigília que ocupou, no sábado, 30 de julho, o gigante Campus Misericordiae. Uma celebração com diferentes momentos emotivos, marcados pelos testemunhos de três jovens de pontos diferentes do mundo que partilharam os traços concretos da misericórdia nas suas vidas.

Quando chegou a sua vez de falar, Francisco começou com uma certeza: “Hoje e aqui, para nós provenientes de diversas partes do mundo, o sofrimento e a guerra que vivem muitos jovens deixaram de ser uma coisa anónima, já não são uma notícia de imprensa, mas têm um nome, um rosto, uma história, fizeram-se-me vizinhos. Hoje, a guerra na Síria é a dor e o sofrimento de tantas pessoas, de tantos jovens como a corajosa Rand, que está aqui entre nós e pede-nos para rezar pelo seu país amado”. “Nunca mais deve acontecer que irmãos estejam «circundados pela morte e por assassinatos» sentindo que ninguém os ajudará”, apelou o Papa. E fez um pedido: “Convido-vos a rezar juntos pelo sofrimento de tantas vítimas da guerra, para podermos compreender, uma vez por todas, que nada justifica o sangue dum irmão, que nada é mais precioso do que a pessoa que temos ao nosso lado”. Mas sempre com a consciência de que “não queremos vencer o ódio com mais ódio, vencer a violência com mais violência, vencer o terror com mais terror”. Porque “a nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade, chama-se irmandade, chama-se comunhão, chama-se família”, frisou Francisco.

 

O sofá-felicidade

Após um momento de silêncio em oração, o Papa retomou a palavra apontando uma paralisia “perigosa e difícil” na vida: “A paralisia que brota quando se confunde a felicidade com um sofá!” O achar que “para sermos felizes, temos necessidade de um bom sofá. Um sofá que nos ajude a estar cómodos, tranquilos, bem seguros. Um sofá contra todo o tipo de dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos nem nos preocuparmos”. Um sofá-felicidade perigoso porque “pouco a pouco, sem nos darmos conta” nos faz adormecer enquanto outros “decidem o futuro por nós”. E replicou que o caminho certo é outro. Isto porque “não viemos ao mundo para «vegetar», para transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça”. Antes, “viemos com outra finalidade, para deixar uma marca”. E Jesus, o “Senhor do risco”, é a resposta. “Para seguir Jesus, é preciso ter uma boa dose de coragem, é preciso decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos que te ajudem a caminhar por estradas nunca sonhadas e nem mesmo pensadas, por estradas que podem abrir novos horizontes, capazes de contagiar-te a alegria, aquela alegria que nasce do amor de Deus, a alegria que deixa no teu coração cada gesto, cada atitude de misericórdia”, frisou Francisco.

 

“Deus espera-te”

Este Deus é um Deus que conta com os jovens, lembrou o Papa. “Deus espera algo de ti, Deus quer algo de ti, Deus espera-te. Deus vem quebrar os nossos fechamentos, vem abrir as portas das nossas vidas, das nossas perspetivas, dos nossos olhares. Deus vem abrir tudo aquilo que te fecha. Convida-te a sonhar, quer fazer-te ver que, contigo, o mundo pode ser diferente. É assim: se não deres o melhor de ti mesmo, o mundo não será diverso”. Ainda na Vigília, perante dois milhões de jovens, o Papa lembrou a urgência da ação: “O tempo que hoje estamos a viver não precisa de jovens-sofá, mas de jovens com os sapatos, ainda melhor, com as sapatilhas calçadas. Aceita apenas jogadores titulares em campo, não há lugar para reservas. Hoje a história pede-nos que defendamos a nossa dignidade e não deixemos que sejam outros a decidir o nosso futuro”.

 

“Deus ama-nos assim como somos”

No dia seguinte, o Campus Misericordiae acordou para o último dia de JMJ. Na Missa de Envio, com um sorriso nos lábios, o Papa Francisco não se cansou de falar de um Deus que ama sempre. “Deus ama-nos assim como somos, e nenhum pecado, defeito ou erro Lhe fará mudar de ideia. Para Jesus, ninguém é inferior e distante, ninguém é insignificante, mas todos somos prediletos e importantes: tu és importante! E Deus conta contigo por aquilo que és, não pelo que tens: a seus olhos, não vale mesmo nada a roupa que vestes ou o telemóvel que usas”, sublinhou o Santo Padre.
E continuou: “Deus é fiel em amar-nos, até mesmo obstinado. Ele ama-nos mais do que nos amamos nós mesmos, que crê em nós mais de quanto acreditamos nós mesmos, que sempre nos apoia como o mais irredutível dos nossos fãs. Sempre nos aguarda com esperança, mesmo quando nos fechamos nas nossas tristezas e dores, remoendo continuamente as injustiças recebidas e o passado”.

Aos jovens, Francisco pediu uma resposta: “Não tenhais medo de Lhe dizer ‘sim’ com todo o entusiasmo do coração, de Lhe responder generosamente, de O seguir. Não vos deixeis anestesiar a alma, mas apostai no amor formoso, que requer também a renúncia, e um ‘não’ forte ao doping do sucesso a todo o custo e à droga de pensar só em si mesmo e nas próprias comodidades”. Até porque “o olhar de Jesus ultrapassa os defeitos e vê a pessoa; não se detém no mal do passado, mas entrevê o bem no futuro; não se resigna perante os fechamentos, mas procura o caminho da unidade e da comunhão; único no meio de todos, não se detém nas aparências, mas vê o coração”.

 

“A JMJ começa hoje e continua amanhã”

A terminar a sua última homilia na Polónia, o Papa Francisco interpelou os jovens, lembrando a missão que lhes foi destinada e que vai muito além daqueles dias.A JMJ começa hoje e continua amanhã, em casa, porque é lá que Jesus te quer encontrar a partir de agora”. “O Senhor não quer ficar apenas nesta bela cidade ou em belas recordações, mas deseja ir a tua casa, habitar a tua vida de cada dia: o estudo e os primeiros anos de trabalho, as amizades e os afetos, os projetos e os sonhos. Como Lhe agrada que tudo isto seja levado a Ele na oração! Como espera que, entre todos os contactos e os chats de cada dia, esteja em primeiro lugar o fio de ouro da oração! Como deseja que a sua Palavra fale a cada uma das tuas jornadas, que o seu Evangelho se torne teu e seja o teu ‘navegador’ nas estradas da vida!”. 

 

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Testemunhos
Os jovens de Lisboa que participaram na JMJ vão partilhar alguns testemunhos e as melhores fotos na edição de dia 18 de setembro, do Jornal VOZ DA VERDADE.

texto por Clara Nogueira, em Cracóvia; fotos por Episkopat News (Polónia)
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