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Refugiados
A solução que o não é
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Causou alguma agitação na opinião pública o anúncio feito pelo Secretário de Estado da Imigração britânico sobre a construção de um muro com quatro metros de altura no norte do porto de Calais para impedir que os imigrantes atravessem o Canal. Trata-se de parte de um plano de medidas acordadas entre Londres e Berlim para reforçar a segurança.

 

Entre o medo e a confiança

As reações foram as esperadas, entre o tudo e o nada, entre o primarismo rude e a ilusão dum futuro perfeito. A vida não é um filme a preto e branco e exige discernimento.

Ainda conhecemos pessoas que viveram durante a 1ª Grande Guerra. No meio das nuvens negras dos seus efeitos surgiu uma luz de esperança com a criação da Sociedade das Nações. Mas de novo as sombras da desconfiança surgiram quando a sede de poder falou mais alto e tivemos a 2ª Grande Guerra com uns 60 milhões de mortos e uma Europa em farrapos. E das cinzas da destruição renasceu o sonho de uma luz ao fundo do túnel concretizado na criação da Organização das Nações Unidas, cujos povos estavam “decididos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra”.

No momento para onde caminhamos? Para uma nova guerra ou já estamos nela? O Papa Francisco disse há pouco que “mesmo hoje, depois do segundo erro de outra guerra mundial, talvez seja possível falar de uma terceira guerra, realizada aos poucos, com crimes, massacres, destruição". No âmbito de uma visita a um cemitério militar na Itália afirmou que “os conflitos ao redor do mundo começam a equivaler a uma Terceira Guerra Mundial.” Uma guerra a prestações, dado que uma guerra total não produziria mais do que vencidos.

 

Mais um muro para quê?

Para acabar com a “Selva” por que não mais um muro? Para segurança? Para proteção dos que a ela têm legítimo direito? Para que o Estado possa concretizar o direito e o dever de proteger o território e seus cidadãos? Se as questões fossem essas, a resposta seria óbvia. Mas agarrando-se no periférico consegue-se esconder o que é fundamental. Todas essas medidas não passam de paliativos para um mal que não se ataca nas suas causas. Os muros, as cimeiras, as resoluções não têm revelado o que é determinante para os conflitos. Quem é que combate quem? Quem apoia quem? Quem vende as armas a quem? Não são sírios que combatem sírios, iraquianos que combatem iraquianos, ou sudaneses que combatem sudaneses? E quem é que os apoia ou lhes fornece as armas? E com que finalidade?

Não esqueço o que um amigo muçulmano me disse já lá vai uma dezena de anos: “Ó Sr. Padre, enquanto não se resolver a questão da Palestina, não haverá paz”. É um tumor com ramificações múltiplas. Os muros que encontramos entre Israel e os territórios palestinianos colocam um dilema que nenhuma estratégia militar conseguirá resolver. O sem sentido desses provoca a mesma perplexidade que provocava o muro de Berlim ao separar o que naturalmente estava unido: uma mesma cidade e um mesmo povo separados por uma barreira física aí colocada por uma máquina política que instrumentalizava todos.

 

Se fosse eu seria diferente

Os refugiados que chegam perto de nós são os que fogem duma terra onde não se vive. Negar-lhes o direito de procurarem a liberdade, a segurança e o bem-estar, equivalerá a dizer que eles não contam. Ninguém aceitaria tal aplicado a si mesmo. À multidão reunida na Praça de S. Pedro disse o Papa que “muitas vezes, estes nossos irmãos e irmãs encontram-se pelo caminho com a morte ou, nalgumas situações, com a rejeição dos que podem oferecer-lhes as boas-vindas e assistência”. Isso é negar-lhes a possibilidade de viver. Bem o caraterizou o ilustrador Khalid Albaih num cartoon em que juntou a imagem do menino ensanguentado Omram Daqneesh com a do menino afogado Aylan Kurdi, com a legenda: “As escolhas para as crianças sírias: afogado se sai, ou ferido se fica”. A reação de muitos não passa dessa miopia: que morram afogados ou sejam bombardeados; não é uma questão minha.

Não é essa a perspetiva do crente, como afirmou o Papa na visita à sede italiana do Serviço Jesuíta aos Refugiados: “cada um de vós, refugiados que bateis à nossa porta, tem o rosto de Deus”. Por isso insistia em que é preciso “mudar de mentalidade”. É o primeiro passo para mudar alguma coisa, para dar prioridade a pontes e não a muros.

texto por Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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