Editorial |
P. Nuno Rosário Fernandes
Almoço com um santo?
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Foi recentemente publicado em Portugal, pela Fundação AIS, o livro ‘François-Xavier Nguyên Van Thuân. Homem de esperança, caridade e alegria’. Esta é uma obra simples, sintética, de fácil leitura que resume, em poucas páginas, a grande densidade e a profundidade da vida de um homem, também simples, que procurou viver do essencial, tendo como lema “viver o momento presente”.

Nascido em 1928 no Vietname, foi ordenado sacerdote aos 25 anos e bispo na idade de 39 anos. Em 1975, quando era Arcebispo Coadjutor de Saigão foi preso, no seu país, e permaneceu atrás das grades, ‘despido’ exteriormente da sua condição clerical, por treze anos. “Desde aquele momento, é proibido chamarem-me bispo, padre... Sou o senhor Van Thuân. Não posso usar nenhum símbolo da minha dignidade. Sem prévio aviso, é-me pedido, mesmo por parte de Deus, um regresso ao essencial”. Nestas palavras, citadas pelos autores desta breve biografia, a antiga secretária do Cardeal Van Thuân e dinamizadora da causa de beatificação e canonização, Luísa Melo, e o respetivo Postulador Waldery Hilgeman, percebe-se o início de um longo período de dificuldade vivido por este bispo vietnamita.

Porém, e apesar das circunstâncias em que viveu, permaneceu sempre o sentido da esperança. “Durante as longas noites da prisão, apercebo-me de que viver o momento presente é o caminho mais simples e mais seguro para a santidade”, refere. Na prisão, mesmo acorrentado, foi capaz de ir celebrando a sua Missa diária que se tornava no seu momento de grande alegria. “Nunca conseguirei exprimir a minha grande alegria! Todos os dias com três gotas de vinho e uma de água na palma da mão, celebrei a Missa. Era este o meu altar e era esta a minha Catedral”.

Partilho a minha alegria por esta obra de divulgação deste ‘santo homem de Deus’ e sobretudo por ver que a sua causa de beatificação e canonização vai sendo promovida. Conheci pessoalmente o Cardeal Van Thuân, na Quaresma do ano 2000. Após a pregação do retiro de Quaresma à Cúria Romana, para o qual foi convidado pelo Papa João Paulo II, o bispo vietnamita encontrava-se em Tor San Lorenzo, numa casa religiosa, junto à praia, para algum tempo de repouso. Nesse lugar tivemos oportunidade de partilhar a mesa numa refeição alimentada pelo seu testemunho pessoal de vida, pelas histórias vividas na prisão, pela alegria que transparecia, mas sobretudo pela serenidade que conseguia transmitir. O almoço terminou e no café continuou a partilha alegre de uma vida verdadeiramente confiada a Deus. Ficou o desejo de continuar a conversa... Mais tarde, ainda cheguei a estabelecer contactos de modo a tentar uma entrevista, mas ficámo-nos pela intenção, porque em 16 de dezembro de 2002 tivemos a notícia da sua partida.

Hoje, permanece em mim a memória do rosto de um santo ainda não reconhecido pela Igreja, e a ‘estranheza’ de ter conhecido alguém assim.

 

P. Nuno Rosário Fernandes, diretor
p.nunorfernandes@patriarcado-lisboa.pt

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