Missão |
Inês Correia
“Despertei a minha consciência e o coração para o valor da vida!”
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Inês Correia nasceu em Abril de 1993 em Portimão. Cresceu numa família com cinco pessoas: pais, uma irmã gémea e um irmão mais velho. É licenciada em Enfermagem, pela Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e frequenta atualmente o Mestrado Integrado em Medicina, em Coimbra. Em Outubro de 2015 partiu com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus (IHSCJ) onde esteve oito meses.

 

Desde cedo que se preocupou com o seu percurso escolar. “Realizei o ensino básico e secundário entre 1999 e 2011, no Algarve, onde concluí o Curso de Ciências e Tecnologias. Posteriormente, entre 2011 e 2015, frequentei e concluí a Licenciatura em Enfermagem, na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa”, partilha. O facto de ter crescido com uma irmã gémea (a Rita) foi marcante no desenvolvimento da sua identidade e diz-nos que foi através do afeto que as une que aprendeu que o amor existe. “Mas encontro outros marcos importantes no meu percurso pessoal, religioso e profissional. Integrei o Corpo Nacional de Escutas (CNE) com seis anos, em 1999, crescendo segundo a missão e os valores incutidos por Baden Powell: Procurai deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrastes”, diz-nos.

 

“E, silenciosamente, cresci com Jesus”

Apesar de a sua família não praticar uma religião, frequentou a catequese e integrou a Paróquia da Nossa Senhora da Conceição em Portimão para pertencer ao Movimento Escutista. “E, silenciosamente, cresci com Jesus”, partilha. “Recordo que recebemos a visita de uma Irmã na Paróquia, para falar acerca da Missão noutros países, quando eu tinha doze anos. A sua partilha foi muito importante para mim: procurei lugares para realizar voluntariado, mas só pude concretizar o meu sonho mais tarde. Participei numa colónia de férias no Algarve aos quinze anos, onde ajudei em atividades lúdico-didáticas para crianças de famílias socialmente desfavorecidas. Brincámos”, conta-nos. Um marco significativo no seu desenvolvimento espiritual foi a participação num Campo de Férias da Juventude Hospitaleira (JH) – que promove atividades nas casas das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus (IHSCJ) e dos Irmãos de S. João de Deus (OH), que incluem experiências de “serviço carinhoso” na área da saúde mental, de partilha e oração juvenil – que lhe foi dada a conhecer por um professor do Ensino Secundário, em Junho de 2009. A sua primeira atividade foi na Casa de Saúde da Idanha, “com a companhia da minha irmã, de dois amigos e de jovens de outras cidades. Apesar da existência de alguma oposição pela família, participei noutras atividades com a JH: mais campos de férias, fins-de-semana hospitaleiros, retiros, entre outros. A humildade que reconhecia nas pessoas mais frágeis e a paz que sentia através do serviço simples, impeliam-me a sair de casa. Quando ingressei no Ensino Superior em Lisboa, também iniciei o voluntariado na Clínica Psiquiátrica de São José e, mais tarde, integrei a equipa da Pastoral Juvenil e Vocacional da Casa de Saúde da Idanha, colaborando na organização de uma atividade mensal para jovens designada “Fia-te…e não corras”. Assim, entre a adolescência e a vida adulta, desenvolvi-me com o suporte da família hospitaleira, onde escuto ensinamentos como os de São Bento Menni, que nos diz que “uma pessoa vale mais que o mundo inteiro”, conta-nos.

No último ano da sua licenciatura, participou numa formação dos Leigos para o Desenvolvimento através da qual aumentou o seu “desejo de realizar uma missão noutro país”. Sobre esta missão partilha: “Parti para uma Casa das IHSCJ, o Centro de Reabilitação Psicossocial das Mahotas em Moçambique, em Outubro de 2015. Voei com uma Jovem Hospitaleira, a Daniela Pereira, que tem vinte e três anos, e é uma flor única no mundo, muito humilde, doce e generosa. No Ano Jubilar da Misericórdia, disponibilizámos as nossas competências das áreas da enfermagem e da psicomotricidade e o nosso Ser durante oito meses. Cuidámos, sobretudo, de crianças, jovens e adultos com deficiência intelectual e/ou do desenvolvimento ou com doença mental. Nesta missão longe do conforto habitual, aprendi e pratiquei obras de misericórdia. Com a ajuda de Jesus, alimentei e dei de beber a crianças com deficiências severas e cuidei de muitos jovens e adultos, através da realização de atividades de reabilitação, como a educação para a saúde, a escuta ativa, a administração de medicação e a vigilância e manutenção da sua saúde em geral. Também dediquei algum tempo a visitar famílias ou comunidades com pessoas doentes, conhecendo casas simples, com apenas uma divisão onde habitam famílias extensas, ou casas feitas de palhota, onde se cozinha em fogueiras. Integrei, ainda, a Comunidade do Sagrado Coração nas Mahotas e dei catequese a cerca cinquenta meninos entre os cinco e os sete anos, muito pequeninos e repletos de sonhos. Encontrei desafios: a escassez de recursos, a organização distinta dos cuidados de saúde e a existência de prioridades em saúde diferentes (como a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis). E com maior impacto sobre mim, encontrei pessoas muito doentes e pobres, limitadas no acesso aos bens alimentares, aos serviços de saúde, à educação e aos afetos. Mas também presenciei muitas expressões de ternura e de esperança, como o sorriso das crianças, os braços abertos dos mais crescidos para os abraços diários, as danças e o tocar dos batuques com a simplicidade da alma de cada um. Lembro-me que os adultos do Centro olhavam diariamente para a cruz que trazia no pescoço e perguntavam-me: - Mana Inês, Jesus dormiu bem? E respondia: - Sim, dormiu muito aconchegado no teu coração. Através desta experiência de diversidade sociocultural e de proximidade humana, descobri, com maior profundidade, o sofrimento das pessoas e despertei a minha consciência e o coração para o valor da vida. Também aprendi a estar mais atenta à realidade da saúde/doença mental, considerando-a ainda uma periferia associada ao estigma e à pobreza silenciosa…No término da Missão em Moçambique, na Capela do Centro das Irmãs Hospitaleiras, que é um lugar de paz imensa, reli a Bula de Proclamação do Evangelho Extraordinário da Misericórdia. Após oito meses, cada trecho transmitia um sentido amoroso. Como refere o querido Papa Francisco, através desta experiência de misericórdia, num “tempo de se deixar tocar o coração”, mudei a vida interior. Procurei, pequenina, praticar obras de misericórdia. Regressei adulta, com o coração muito agradecido e, no Mistério, sinto-me muito, muito amada…” Ao terminar a nossa conversa, diz-nos: “Desejo aprender e viver em Missão e, no meu interior, entoa uma melodia que escutava em terras de Moçambique: Decidi seguir Jesus, não voltarei, não voltarei…”

texto por Catarina António, FEC – Fundação Fé e Cooperação
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