Missão |
Ana Margarida Freire Aleixo
“O centro do nosso mundo está ali à nossa frente!”
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Ana Margarida Freire Aleixo nasceu a 2 de abril de 1975, na Covilhã. É licenciada em Biologia, pós-graduada em Ensino da Biologia e Geologia e mestre em Biologia. É professora no Centro de Estudos de Fátima e passou o mês de Agosto em missão em São Tomé e Príncipe, no Projeto Casa Claret (Missões Claretianas).

 

A naturalidade com que Cristo entra na nossa vida

Aos 13 anos saiu da sua cidade natal e viveu em vários lugares (Sever do Vouga, Tondela, Carregal do Sal) até que chegou a Fátima, onde viver há 18 anos. “Esta vivência ajudou-me a perceber que “casa” é o local que escolhemos para viver, é onde decidimos deixar repousar o nosso coração. Mesmo que nesse local não tenhamos ligações familiares ou afetivas. E quando saímos, partimos mais ricos, pela diversidade de experiências que vivemos e de pessoas com quem nos cruzamos”, partilha. A nível cristão, sente que o seu percurso é marcado pela naturalidade com que Cristo entra na sua vida, tal como nos diz: “O infantário onde andei (Abrigo dos Pequeninos de Nossa Senhora da Conceição, na Covilhã), gerido por uma congregação religiosa, era a minha segunda casa. Foram essas irmãs que me incentivaram, desde cedo, a participar na Eucaristia através do canto. Essa integração na Comunidade revelou-se fundamental, sempre que mudava de morada: chegar a uma terra desconhecida e começar a contribuir ativamente na paróquia, era uma forma de me integrar mais facilmente.” Foi catequista e animadora juvenil em Sever do Vouga, integrou grupos de jovens em Tondela, onde conheceu os Missionários Claretianos e, em todos esses locais, integrou o grupo coral. “Começar a trabalhar em Fátima, fixar aqui a minha morada e poder integrar os serviços de liturgia do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima é uma bênção difícil de traduzir em palavras. Sou solista no Santuário há mais de 18 anos e é aqui que ponho ao serviço de Deus os meus dons, na animação de eucaristias ou recitações do rosário”, diz-nos.

 

“É fundamental sabermos ao que vamos”

Quando questionada sobre a partida em missão diz que para si sempre foi uma vontade que “se plantou discreta mas firmemente na alma” e da qual soube “em pouco tempo” que tinha mesmo de partir. O destino e os destinatários também foram indicados sem margem para dúvidas, tal como diz: “Já desde há largos anos que conheço os Missionários Claretianos e o Projeto Casa Claret em São Tomé e Príncipe. O Projeto Casa Claret desenvolve, em permanência, a partir da cidade da Trindade, apoio escolar a 40 crianças (na Escolinha) e acompanhamento das comunidades de várias roças da ilha de São Tomé. Durante o mês de agosto, os voluntários são convidados a conhecer de perto o trabalho desenvolvido ao longo do ano e a colocar os seus dons ao serviço destas valências”. No entanto, não basta querer partir, é necessário a formação pré-partida: “Antes de partir impõe-se alguma formação e ações de angariação de fundos. É fundamental sabermos ao que vamos, prepararmo-nos física e psicologicamente para viver um mês desinstalados do nosso mundo mas tão integrados quanto possível na realidade da missão e no grupo com quem vamos viver estes dias. Neste tempo de formação, destaco de forma particular os momentos vividos com a FEC. A diversidade de carismas do nosso grupo de formação, numa variedade de proveniências e experiências, tornou cada fim-de-semana de formação num tempo de crescimento por excelência”. Em Agosto esteve finalmente em missão em S. Tomé e Príncipe e diz-nos que “o mês passou a correr. Os dias foram divididos entre as atividades com crianças em vários locais, atividades no Lar Dona Simôa Godinho e uma formação para os colaboradores da Rádio Jubilar. Também houve tempo para conhecer a ilha e as suas inumeráveis praias paradisíacas, abertas em pequenas enseadas”. Considera que os primeiros dias foram fundamentais para conhecer os locais onde iriam desenvolver as suas atividades assim como para se inteirarem de outros projetos associados aos Missionários Claretianos. “Na cidade da Trindade, no Santuário de Nossa Senhora Peregrina (em Bate Pá) e na roça Laura dividimos o tempo em danças, atividade física (jogos, gincanas, etc.) e uma atividade mais específica (fichas escolares, experiências científicas, trabalhos manuais, jogos de tabuleiro ou filmes). Ao todo, nestes três locais trabalhámos com mais de 450 crianças e adolescentes, dos 0 aos 14 / 15 anos. São horas que passam a correr, envolvidas na alegria contagiante e na energia destes miúdos. Aprendi a dançar funaná e puita. Tive tempo para sorrir por inteiro, na simplicidade de uma corrida de sacos ou num jogo do elástico. Partilhei alguns conhecimentos científicos em experiências simples que fazem brilhar as centenas de olhos pequenos à minha volta. Impressionou-me a realidade cultural em que os idosos estão envolvidos. Habitualmente associamos as sociedades africanas a um grande respeito pela sabedoria acumulada destas pessoas. Contudo, em São Tomé, vive-se outra realidade bem diferente, onde os idosos são abandonados e, muitas vezes, maltratados”.

 

“Conheci a paz serena que se instala no coração”

Para resumir o seu mês de missão usa duas palavras: tempo e dedicação. “Aprendi a magia de um olhar a transbordar de agradecimento pelo tempo que dedicamos de alma e coração a alguém. Conheci a paz serena que se instala no coração de quem opta por se dar assim por inteiro aos outros. Descobri a riqueza de umas mãos pequeninas a invadir as minhas, na certeza de que o centro do nosso mundo está ali à nossa frente, por um momento que seja. Crianças que invadem o nosso colo de forma despudorada porque sabem que é por elas e para elas que ali estamos. Adultos que nos presenteiam com o simples prazer da presença, confiantes na partilha de aprendizagens”, diz. Após um “mês recheado de riquezas” diz-nos que “a Casa Claret não se esgota no mês de voluntariado missionário: é um projeto contínuo, que necessita muito do nosso apoio, durante todo o ano. Continuamos a angariar roupa, brinquedos, material escolar ou informático. Continua a ser primordial o apoio financeiro, para que a Escolinha mantenha o seu apoio às crianças da Trindade, quer nas tarefas escolares, quer na distribuição de uma refeição diária. A Casa Claret continua a receber voluntários, com estadias de uma semana, um mês ou mais. E deixo o desafio: e tu, quando é que vais ousar sair das tuas rotinas instaladas e fazer algo verdadeiramente importante por alguém? E tu, quando é que vais aceitar o desafio do Papa Francisco (que tanto gostas de citar e admirar) e partilhar a Alegria do Evangelho com este povo imensamente belo? Não vale a pena esperar que um alinhamento cósmico traga os dias mais favoráveis para partir em Missão: é aqui e é agora o momento de arriscar, de ousar, de viver, de amar, de dar, de dar-se, de estar, de ser feliz nos gestos simples que marcam a diferença na nossa vida e na de tantos com quem nos cruzamos.”

texto por Catarina António, FEC – Fundação Fé e Cooperação
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