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P. Manuel Barbosa, scj
Anunciai

«Ide e anunciai a Boa Nova». É o mandato de Jesus Cristo a todos os discípulos missionários, à sua Igreja em saída para o anúncio da sua essência, o Evangelho que é a própria Pessoa de Cristo. É o lema do qual não é possível obter dispensa, por ser marca da vida cristã. É o dinamismo pastoral que, sendo de sempre, se vive com maior incidência pedagógica em outubro, mês missionário, e neste Dia Mundial das Missões.

«Anunciai». Neste contexto missionário e ainda na sequência do Ano da Vida Consagrada (ainda vos lembrais, pois já terminou há nove meses?), gostaria de abordar um texto que acaba de ser editado pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada. É uma longa Carta circular, intitulada «Anunciai», que nos é oferecida no seguimento de outras três. É do mesmo mandato evangélico que se trata, embora dirigido particularmente «aos consagrados e às consagradas, testemunhas do Evangelho entre os povos». Aceno apenas a alguns aspetos, que espero sejam convidativos à leitura dessa Carta.

O texto abre com palavras do Papa Francisco: «A Igreja nasceu católica, isto é, “sinfónica”, desde as origens projetada para a evangelização e o encontro com todos, nasceu “em saída”, quer dizer, missionária».

A primeira parte, «até aos confins da terra», inspira-se na passagem dos Atos dos Apóstolos, que nos convida a ser testemunhas de Cristo em toda a parte. Daí sermos todos convidados a anunciar no estilo de Cristo, sendo contemplativos em ação, servos da palavra, mensageiros de anúncios alegres. É um anúncio a ser feito em comunhão e com perseverança, na alegria do Pentecostes. «A experiência do Espírito e a experiência da fraternidade vivida em comunidade estão na origem da Igreja. O Espírito Santo age na vida da comunidade apostólica e marca-a, no selo de fogo, com a unidade e a missionariedade» (n. 31).

A segunda parte, «Igreja em saída», começa por se referir aos apóstolos que, peregrinos do Evangelho, o anunciavam e faziam crescer autênticas comunidades de fé. O Espírito, protagonista da missão, gera a vocação da Igreja, chamada a testemunhar desde as suas origens. Na senda da exortação apostólica Evangelii Gaudium, o texto reafirma que as coisas não podem ficar como estão, sem criatividade nem renovação; há que levantar questões e gerar anúncios verdadeiros e confiantes.

A última parte, «fora de portas», recorre à viagem de Paulo em evangelização, fora de portas, quando aconteceu o batismo de Lídia. Para as congregações, «sair fora de portas continua um símbolo de todas as saídas realizadas pelos fundadores e fundadoras, os quais lembramos, elogiando a sua coragem e genialidade. Aprendemos a fazer memória das experiências frágeis, das situações de pobreza e de sofrimento injusto nas nossas origens, de improvisações com risco total, vivido por fundadores e fundadoras» (n. 62).

Este sair fora de portas confronta-se com novos modos de pensar e novas culturas, com crise das relações e da comunicação entre as gerações, com novas realidades a exigir conversão criativa e plural. «Jesus convida-nos a ir mais longe, a arriscar passos desconhecidos, a colaborar com todo homem de boa vontade para cuidar e vigiar a semente da sua Palavra, para que cresça vigorosa» (n. 74).

É preciso anunciar com as periferias no coração, nos postos avançados, caminhando com os pobres, procurando um humanismo integral e solidário, num agir não violento, acompanhando o dia a dia das famílias. Um anúncio sempre nos lugares do Espírito, em tempo de esperança, onde a Igreja é e está; «a esperança é o sonho cristão que vivifica e ilumina a vida na Igreja» (n. 91).

Que tudo seja a exemplo de Maria, do «vem e segue-me» ao «ide e anunciai», do acolhimento inicial à fecundidade missionária, nos caminhos inéditos do Espírito.

Que este breve relance sobre a Carta «Anunciai» seja, para todos e em particular para os consagrados, sugestivo para a revisitar em leitura provocadora de renovadas atitudes de anúncio em missão.