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Em Maroua, nos Camarões, as Igrejas estão cheias apesar do terrorismo
A força da oração
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Nos Camarões, há uma diocese, quase na fronteira com a Nigéria, onde ninguém está a salvo, onde ninguém está seguro. No entanto, apesar da violência islamita, dos atentados que nunca têm hora marcada, os cristãos são um exemplo para todos nós. O terrorismo do Boko Haram bateu-lhes à porta, é verdade, mas não os venceu.


Camarões. Fevereiro de 2016, vila de Nguetchéwé, perto de Maroua. Duas jovens com apenas 13 anos fazem-se explodir no meio de uma pequena multidão que se encontrava no cemitério local. As duas jovens morrem instantaneamente e com elas são ceifadas as vidas a mais sete pessoas. Há ainda cerca de duas dezenas de feridos. Alguns em estado muito grave. Ninguém teve dúvidas de que se tratou de mais um ataque da responsabilidade do grupo islamita Boko Haram que procura instaurar na região o islão mais radical. A utilização de crianças e adolescentes nos atentados é cada vez mais comum na estratégia destes terroristas. É, também, uma forma habilidosa de fintar a vigilância das autoridades. A insurgência do Boko Haram começou em 2009, no norte da Nigéria, e foi crescendo em violência, ultrapassando fronteiras, como um tumor que parece alastrar sem antídoto.

 

Psicose colectiva

Os cristãos de Maroua vivem inquietos. O sobressalto é terrível. Ninguém se sente seguro em lugar algum. Ceder ao medo, porém, é dar a vitória aos terroristas. Por isso, sempre que o Bispo vai celebrar a missa de domingo, os cristãos dão as mãos uns aos outros fazendo como que um cordão de segurança para impedir que alguém se infiltre na comunidade, para tentar impedir atentados como o de Fevereiro, no cemitério, ou mais recentemente no mercado de Mora, em Agosto e Setembro, em que outros suicidas se fizeram explodir causando mais umas dezenas de mortos e feridos. Não é fácil prevenir o terror. O Bispo, D. Bruno Ateba Edo, reconhece que essa é quase uma batalha perdida. “Vivemos permanentemente com medo de novos atentados. Há como que uma psicose colectiva”, explica o prelado à Fundação AIS.

 

Igrejas cheias

Tal como aquelas duas jovens se fizeram explodir no cemitério, no meio de um funeral, ninguém consegue garantir que os terroristas não façam o mesmo durante as celebrações das missas. Mas, no entanto, e quase estranhamente, as missas continuam a arrastar multidões, as igrejas continuam cheias de fiéis e não há sinais de que isso venha a mudar. Estes cristãos, quando se reúnem em oração, apesar do medo que se instalou por ali, estão a ser exemplo para a comunidade. Para todos nós. O Bispo fala disso com toda a naturalidade. É a receita da fé contra o terror: “A oração é a nossa força e esperança. Necessitamos da oração e queremos rezar. Rezarmos em comunidade é um sinal de esperança.”

 

Refugiados e deslocados

O terrorismo islamita do Boko Haram foi importado da Nigéria. Além dos Camarões, também outros países que fazem fronteira com a Nigéria, como o Chade ou o Níger, descobriram o horror dos atentados, a violência absurda que tem obrigado milhares de pessoas a fugir de suas casas. Só na diocese de Maroua-Makolo vivem mais de 80 mil pessoas provenientes da Nigéria. São, na sua maioria, cristãos, que agora estão confinados a um campo de refugiados, numa total dependência de ajuda humanitária. “Muitos gostariam de regressar ao seu país, às suas casas – explica o bispo – mas para isso precisam de segurança e de perspectivas de vida, de futuro.” Estes oitenta mil refugiados são apenas uma gota no imenso oceano de tragédia que o Boko Haram trouxe para esta região de África. “Nós procuramos apoiá-los dentro das nossas possibilidades”, explica D. Bruno Edo. Mas a diocese é pobre, muito pobre.

 

A ajuda da AIS

Tem sido graças à ajuda da Fundação AIS que a Igreja tem mantido um plano assistencial para estas pessoas que foram obrigadas a fugir por causa da violência. “Muitos destes refugiados estão ali há quatro ou cinco anos. Eles precisam de apoio e também de assistência pastoral”, diz o Bispo. Todos os domingos, no campo de refugiados da diocese, celebram-se sempre duas missas. “Poder rezar, poder haver um lugar de oração é muito importante”, explica o prelado. Além dos refugiados, há também os deslocados. São pessoas do próprio país, os Camarões, que vivem muito perto da zona de fronteira e sentem-se tão ameaçados que deixaram as próprias casas, os empregos, tudo o que tinham e vivem agora noutras zonas, um pouco mais seguras, em casa de familiares ou amigos. Também eles olham para a Igreja e pedem ajuda. Mas a diocese é muito pobre. O Bispo vive numa pequena habitação sem casa de banho sequer. No entanto, tal como ele, os cristãos estão sempre de braços abertos prontos a acolher quem mais necessita, prontos a repartir o pouco que possuem.

 

Novas vocações

Apesar da pobreza da comunidade e da ameaça permanente dos islamitas do Boko Haram, a verdade é que a diocese de Maroua-Makolo não tem falta de vocações. No passado dia 1 de Novembro, 3 jovens foram ordenados diáconos e mais trinta preparam-se já para o sacerdócio. Para o Bispo, é normal que assim seja. “A nossa esperança está toda em Deus”, explica D. Bruno Ateba Edo. O terrorismo do Boko Haram bateu-lhes à porta, é verdade, mas não venceu estes cristãos que souberam preservar o mais importante de tudo: a fé em Jesus. “Confiamos na oração e rezamos porque precisamos de paz. Apesar dos atentados, não deixaremos nunca de nos reunirmos para pedirmos a Deus por essa paz. A oração é a nossa força…”

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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