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“Não se fechou o coração misericordioso de Deus”
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O Papa quer que os cristãos continuem a praticar obras de misericórdia. Na semana em que alargou definitivamente a faculdade de absolvição de quem praticou o “grave pecado” do aborto a todos os sacerdotes, o Papa encerrou o Ano da Misericórdia, alertou os novos cardeais para a “patologia da indiferença” e concedeu uma entrevista a uma televisão católica italiana.

 

1. O Papa Francisco considera que, não obstante ter terminado o Jubileu da Misericórdia, “não se fechou, contudo, o coração misericordioso de Deus para nós pecadores”. “Que este Ano Santo fique em nós como permanente inspiração à caridade para com os outros”, afirmou o Papa, no final da audiência-geral de quarta-feira, dia 23 de novembro, exortando ainda os fiéis a não pararem de “cumprir sempre as obras de misericórdia corporais e espirituais”.

Na catequese deste encontro público semanal, que decorrer na Sala Paulo VI, no Vaticano, Francisco propôs uma catequese sobre duas obras de misericórdia espirituais: ensinar os ignorantes e dar bom conselho. Sobre a primeira, o Papa lembrou as crianças que ainda sofrem de analfabetismo e de falta de instrução e recordou que a “Igreja ao longo dos séculos, sentiu a exigência de se empenhar no âmbito da instrução porque a sua missão de evangelização comporta o empenho de restituir a dignidade aos mais pobres”. A propósito da segunda obra de misericórdia espiritual, dar bom conselho, o Santo Padre disse que esta tem como objetivo ajudar a pessoa confusa, indecisa, duvidosa. “Neste sentido positivo, é bom que nos interroguemos sobre a nossa fé, porque assim somos levados a aprofundá-la”, sublinhou.

 

2. O Papa decidiu alargar definitivamente a faculdade de absolvição de quem praticou o aborto a todos os sacerdotes, mantendo a prática do Ano Jubilar da Misericórdia que encerrou no Domingo. “Para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto”, escreve Francisco, no número 12 da carta apostólica ‘Misericordia et Misera’ (‘Misericórdia e Mísera’), divulgada esta segunda-feira, 21 de novembro. O Papa deixou, contudo, um alerta: “Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai”, explica o Papa Francisco, que dos sacerdotes espera que sejam “guia, apoio e conforto no acompanhamento dos penitentes neste caminho de especial reconciliação”.

Na carta apostólica, o Papa convida a formas concretas de caridade, criativas, para contrariar a cultura do individualismo extremo e a perda do sentido de solidariedade. “Nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do seu perdão”, escreve o Papa. O documento traça ainda um percurso de misericórdia ligado à liturgia, aos sacramentos, à palavra de Deus, pedindo aos sacerdotes disponibilidade para confessar e mais cuidado nas homilias.

Nesta carta apostólica, o Papa institui ainda o Dia Mundial dos Pobres para o Domingo anterior à festa do Cristo Rei, em novembro de cada ano. “Intuí que, como mais um sinal concreto deste Ano Santo extraordinário, se deve celebrar em toda a Igreja, na ocorrência do XXXIII Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres”, escreve Francisco, explicando que vê nesta nova celebração a “mais digna preparação para bem viver a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo”, que encerra o ano litúrgico na Igreja Católica, evocando a sua identificação com os “mais pequenos e os pobres”. O Dia Mundial dos Pobres quer ajudar as comunidades e cada batizado a “refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho”. “Não podemos esquecer-nos dos pobres: trata-se dum convite hoje mais atual do que nunca, que se impõe pela sua evidência evangélica”, sustenta o Papa.

 

3. A Porta Santa da Basílica de São Pedro era a última ainda aberta em todo o mundo. Foi fechada no passado Domingo de manhã, 20 de novembro, pelo Papa Francisco, que assim encerrou o Jubileu da Misericórdia iniciado em dezembro de 2015. Na homilia da celebração, Francisco pediu para que, mesmo findo o Ano da Misericórdia, “não se fechem as portas da reconciliação e do perdão”, mas que se saiba “ultrapassar o mal e as divergências, abrindo todas as vias possíveis de esperança”. “Assim como Deus acredita em nós próprios, infinitamente para além dos nossos méritos, assim também nós somos chamados a infundir esperança e a dar uma oportunidade aos outros. Com efeito, embora se feche a Porta Santa, continua sempre escancarada para nós a verdadeira porta da misericórdia que é o coração de Cristo”, destacou.

 

4. O Papa denunciou o vírus da polarização que atinge a Igreja e a sociedade em geral e pediu aos cardeais que rejeitem ver um inimigo em quem é diferente. “Quantas situações de precariedade e sofrimento são disseminadas através deste crescimento da inimizade entre os povos, entre nós? Sim, entre nós, dentro das nossas comunidades, dos nossos presbitérios, das nossas reuniões. O vírus da polarização e da inimizade permeia as nossas maneiras de pensar, sentir e agir”, alertou na Missa a que presidiu, na Basílica de São Pedro, na celebração de criação de 17 novos cardeais.

Os 13 novos cardeais eleitores (com menos de 80 anos de idade) são oriundos de 11 países (Itália, República Centro-Africana, Espanha, Brasil, Estados Unidos, Bangladesh, Venezuela, Bélgica, Maurícia, México e Papua Nova-Guiné), alguns dos quais ainda não se encontravam representados no colégio cardinalício.

 

5. “O maior inimigo da Igreja – o maior de todos – é o dinheiro”, frisou o Papa, numa entrevista transmitida pelo canal de televisão católico TV2000. “Pensem como Jesus dá ao dinheiro o estatuto de senhor e de patrão, quando diz 'ninguém pode servir a dois patrões e senhores: a Deus e ao dinheiro’”, lembrou. Nesta entrevista de 40 minutos, Francisco mostrou-se também contente com a dimensão universal do Ano da Misericórdia e manifestou-se impressionado com o que chama de “crime horrendo” do aborto. O Papa diz ainda não ter qualquer segredo que justifique a sua vitalidade aos 80 anos. Mas rezar tem ajudado, acrescenta. “Rezo. A oração é para mim uma ajuda. É estar com o Senhor. Celebro a Missa, rezo o Breviário”, admite.

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