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Índia: Igreja defende os direitos de milhões de “dalits”
Os insignificantes
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Não têm direitos. Na Índia, há milhões de crianças, mulheres e homens que são vistos como indignos. São os “dalits”, os intocáveis. São milhões e, no entanto, é como se não existissem, como se fossem invisíveis, insignificantes. Muitos destes “dalits” são cristãos. 

 

É raro o dia em que não ocorrem incidentes graves contra os Cristãos na Índia. Infelizmente, nem sempre são notícia, pois quase ninguém quer saber do que se passa com os “dalits”, os intocáveis, aqueles que estão na base do complexo sistema de castas do país. A sociedade considera-os indignos, e por isso, ignora-os. São insignificantes. Completamente marginalizados, apesar de serem mais de 165 milhões, os “dalits” são um exemplo cruel do que a humanidade pode fazer quando discrimina, quando se torna insensível. Quando fecha os olhos. Quando não quer ver nem ouvir os gritos dos que sofrem, dos que são desprezados. Na esmagadora maioria dos casos, os incidentes graves cometidos contra estes cristãos na Índia não chegam sequer a ser notícia. No entanto, calcula-se que, a cada 18 minutos, é cometido algum tipo de crime contra os “dalits”. Todos os dias, cerca de três mulheres são violentadas, onze pessoas agredidas, duas casas queimadas… Ser “dalit” na Índia significa, normalmente, não ter trabalho, não ter acesso a cuidados médicos, não saber ler nem escrever. Ser “dalit”, na Índia, é sinónimo de fome, de lágrimas, de miséria.

 

Lembrar Orissa

Com a ascensão ao poder, em 2014, do BJP, um partido hindu nacionalista liderado por Narendra Modi, passaram a registar-se cada vez mais casos de ataques por parte de grupos radicais contra os Cristãos em geral e os “dalits” em particular. A Igreja está muito preocupada com esta onda de violência e perseguição, estando sempre presente, na memória de todos, os gravíssimos incidentes ocorridos em Orissa, em 2008, em que uma centena de cristãos perderam a vida, além de terem sido destruídas quase seis mil casas e vandalizadas dezenas e dezenas de igrejas e capelas. D. Aplinar Senapati, Bispo da Diocese de Rayagada, esteve recentemente na Alemanha, na sede internacional da Fundação AIS, onde foi pedir ajuda para a sua comunidade que tem sido tão assolada pela perseguição ao longo dos últimos anos. Ele precisa de ajuda pois a Igreja, no Estado de Orissa, é muito pobre e, por ali, os Cristãos confundem-se quase sempre com os “intocáveis”, os "dalits”. Ele precisa de ajuda pois são cada vez mais os “dalits” que lhe batem à porta. “Em Orissa, não fazemos distinção alguma entre cristãos de castas alta e baixa. Acolhemos plenamente os ‘dalits’. Todos somos baptizados na mesma fé, temos um mesmo Deus. Acolhemos todas as pessoas.”

 

Combater o extremismo

Nesse encontro na Alemanha, participou também D. John Barwa, que já esteve em Portugal a convite da Fundação AIS. Para este prelado da Arquidiocese de Cuttack-Bhubaneswar, é preciso ajudar os Cristãos, principalmente os mais pobres, os perseguidos, os marginalizados, pois eles são hoje o sinal claro da presença de Cristo na sociedade indiana. Se cada vez há mais “dalits” a pedirem para serem baptizados, isso é também testemunho de que permanece bem vivo o exemplo da Santa Madre Teresa de Calcutá, que acolheu os moribundos, os desvalidos, os sem-abrigo, destruindo com os seus gestos de amor a intolerância de uma sociedade que olha para as pessoas discriminando-as por grupos, por castas, pela cor da pele, pela religião, o dinheiro… “Todos nós somos filhos de Deus e um dia todos entenderemos isso. Campanhas de ódio não constroem a sociedade”, disse D. John Barwa durante esta passagem pela sede internacional da AIS. “A grande maioria do povo da Índia tem bom coração, nem todos são extremistas. A Índia é um país de hindus, onde nós somos uma pequena minoria. Deveríamos ter orgulho de sermos capazes de fazer tanto, graças à nossa dedicação e compromisso. A Igreja pode ser como uma luz no topo de uma montanha, uma luz que todos possam ver.”

 

O exemplo da Irmã Meena

As palavras de D. John Barwa são particularmente escutadas com atenção na Índia. Por lá todos sabem como ele tanto sofreu nos dias de tumulto em Orissa. A sua própria sobrinha, a religiosa Meena Lalita Barwa, hoje com 39 anos, estava em Kandhamal quando a multidão enfurecida a arrastou, assim como ao Padre Thomas Chellen, para a rua, gritando “matem os cristãos”, “matem os cristãos”… Depois, rasgaram-lhe as roupas e violaram-na, ali, em plena rua. O padre foi espancado quase até à morte. Hoje, a Irmã Meena Barwa está a estudar Direito para ajudar os Cristãos, especialmente os “dalits”, que continuam a ser espezinhados e ignorados por uma sociedade que se recusa a olhar para eles e a vê-los como como homens, mulheres e crianças com direitos mas também com necessidades. Uma sociedade que se recusa a olhar para estes cristãos como seres humanos. Apenas isso.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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