Adriana Rente nasceu a 26 de outubro de 1955, em Leça da Palmeira (Matosinhos), na casa que hoje habita. É licenciada em Ciências da Educação, mestre em Administração e Planificação da Educação e doutorada em Desenvolvimento Pessoal e Intervenção Social. Tem um irmão mais novo e tem quatro filhos. Em janeiro de 2016 partiu por cerca de sete semanas para Timor Leste, com a Associação Por Timor.
Conciliar a vida profissional com a familiar
Nasceu, fruto do amor de um casal que se casou “um pouco tarde”. A sua mãe tinha 30 anos e o seu pai 35, quando nasceu. “A minha mãe trabalhava nos CTT e o meu pai era bancário, ela trabalhava muitas vezes, dez a doze horas por dia, aos Domingos e até em vésperas de Natal! Tenho um único irmão mais novo, cidadão “Deficiente Mental”, hospitalizado há 34 anos”, partilha. Considera que uma das marcas “sofridas” da sua vida e dos seus pais foi este filho que “aos quatro anos deixou de falar, passou a ter comportamentos autodestrutivos, de autoagressão, tendo-lhe sido diagnosticado uma psicose autista, na altura um “palavrão” completamente novo e desconhecido. Ter um familiar deficiente, doente ou incapacitado, mesmo hoje é um grande desafio e encargo acrescido!” A sua adolescência foi passada de uma forma muito particular: “tinha que me refugiar no sótão da casa, com a porta fechada para poder estudar e... muitas vezes... muitas noites estudei com a música de fundo dos gritos do meu irmão, das correrias e sobe e desce escadas que a ninguém deixava dormir. Troquei muitas tardes de brincadeira por viagens de autocarro até ao Porto, para ir buscar o meu irmão ao Hospital Magalhães Lemos, onde saía às cinco horas, todos os dias. Assisti e vive muitas cenas de incompatibilidade entre as responsabilidades profissionais e as responsabilidades familiares...quantas lágrimas vivenciei da minha mãe, quantas revoltas... para mendigar uma ida ao médico, uma viajem a Lisboa a um médico novo, etc.” Considera por isso que cresceu precocemente “num mundo, na altura, ainda hostil à problemática da deficiência”. Foi “uma adulta, que não soube ser criança, nem brincar no seu devido tempo!” Aos 18 anos iniciou a docência e no segundo ano foi convidada a trabalhar na Educação Especial. “A Bandeira da Deficiência foi por mim bem erguida. Ainda no Magistério, logo após o 25 de Abril, surgiu no Porto o movimento MADI (Movimento de Apoio ao Deficiente Intelectual), movimento de pais, que com a minha mãe e o Leonel, ainda namorado, participava nas reuniões semanais e em outros eventos, como uma manifestação pelos Direitos dos deficientes Mentais, uma carta que escrevemos a cada um dos deputados da primeira Assembleia, para a 1ª Constituição Portuguesa, de forma a nela serem contemplados os direitos dos cidadão com deficiência, etc.”, partilha. Foi coordenadora dos Serviços de Educação Especial em Matosinhos, deu formações na área, formação contínua a professores, aulas no ensino superior e orientadora de estágios de professores.
Uma vida sofrida, uma fé enorme
A 2 de dezembro de 1978 casou com o Leonel, que conheceu num grupo de jovens, no coro que animava as missas na Igreja da Leça da Palmeira. Tiveram quatro filhos: a Mafalda, a Sofia, a Filipa e o Miguel. “A nossa primeira casa foi um apartamento T2, em Matosinhos e mudámos para um maior em Matosinhos quando fiquei grávida do Miguel e em dezembro de 2004, para um T5 na Senhora da Hora, quando o Leonel já se encontrava doente e a minha mãe também… Sobre isto, tenho a dizer que a vida às vezes é um pouco “madrasta”, perdi o meu sogro em 2000, depois em 2001 perdi o meu pai, uma tia muito querida e um outro tio solteiro que connosco (família dos meus pais) tinha vivido sempre, depois uma tia do meu marido, e entretanto o Leonel adoece em 2003, fazemos as bodas de prata com ele fragilizado com a quimioterapia e a radioterapias, e de cabelo branco, no ano seguinte a minha mãe adoece com cancro dos intestinos, e morre a janeiro de 2005, e um ano depois perco o Leonel, a 25 de Janeiro de 2006, com três filhos ainda a estudar, o mais novo com 13 anos a fazer 14, duas na faculdade. A Mafalda já era casada e tinha tido o meu 1º neto Rodrigo em outubro antes. Esta foi a maior tragédia da minha vida, éramos um casal feliz, com muitas coisas em comum, vivíamos para as nossas famílias, etc. O Leonel tinha sido o marido e pai sempre presente pois, como estudante trabalhadora que fui da Licenciatura em Ciências da Educação, Mestrado e Doutoramento, só poderia ter tido sucesso senão fosse a ajuda dele e a sua colaboração na vida doméstica. Mesmo assim, ainda trabalhamos muitos anos na Paróquia de Matosinhos, a fazer cursos de CPM, com muito gosto e dedicação.”
Timor Leste: a realização do sonho missionário
Desde a sua aposentação, há cerca de nove anos, pode dedicar-se a outros projetos que tinham ficado em espera. Pode também dar apoio às suas filhas com os netos (tem já seis netos!) e pode dedicar-se à pintura usando finalmente a caixa de aguarelas e o papel que o Leonel lhe havia oferecido e que nunca havia usado. Durante a sua adolescência devorava as revistas que falavam sobre África e sonhava ser missionária. Com o casamento o seu projeto principal de vida passou a ser a família. Agora, é peregrina nos caminhos de Santiago, é voluntária na ACREDITAR, já fez voluntariado no IPO do Porto e é voluntária da Associação por Timor. Em agosto de 2015 fez o curso de missiologia e iniciou a preparação para partir (em janeiro de 2016) em missão para Timor Leste. “O meu Projecto foi essencialmente ensinar o Português (Desenvolvimento e apoio da Língua Portuguesa), desde o desenvolvimento de vocabulário, produção de texto escrito e oral, estruturação de frases e planificação do discurso oral e escrito, etc.. Lecionei um grupo de 10 alunos de 8º ano (dos 13 aos 16 anos), um grupo de 10 alunos de 10º ano (dos 16 aos 19 anos), outro grupo de 8 alunos de 11º ano e 4 de 12º anos (de 17 aos 19 anos), todos diariamente, e também um grupo de 6 aspirantes da Casa, dos 17 aos 19 anos. Foi uma experiência que nunca mais esquecerei, pela sua riqueza, e foi a 1ª vez que me ausentei tanto tempo da minha família e casa (sete semanas longe a tantas milhas de distancia), de 18 de Janeiro a 3 de Março do outro lado do Mundo! Pude ainda acompanhar as Irmãs nas suas visitas dominicais às Estações, aonde iam celebrar a Palavra, adorei ver as crianças e adultos a viverem a Fé duma forma tão alegre e sentida”, conta-nos.
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