05.03.2017
Papa |
Roma
Quaresma: “Um caminho cheio de esperança”
O Papa Francisco convidou a entrar na Quaresma com o “coração aberto”. Na semana em que realizou uma visita histórica a uma paróquia anglicana em Roma, o Papa criticou o “amor exagerado” aos bens materiais, defendeu uma maior inclusão das pessoas com deficiência e lembrou a importância da água.
1. O Papa Francisco assinalou, no Vaticano, o início da Quaresma, período de preparação para a Páscoa, e falou de um “caminho de esperança” que quer levar os católicos da “escravidão” à liberdade. “[A Quaresma] é um caminho certamente exigente, como é bom que seja, porque o amor é exigente, mas é um caminho cheio de esperança. Mais: o êxodo quaresmal é o caminho no qual a própria esperança ganha forma”, referiu o Papa, em Quarta-feira de Cinzas, dia 1 de março, perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, para a audiência-geral.
Francisco aludiu às práticas penitenciais ligadas ao tempo de preparação para a Páscoa e sublinhou que “o cansaço de atravessar o deserto – todas as provas, as tentações, as ilusões, as miragens –, tudo isso serve para forjar uma esperança forte, sã”. “Com o coração aberto a este horizonte, entremos na Quaresma. Sentindo-nos parte do povo santo de Deus, comecemos com alegria este caminho de esperança”, apelou.
O Papa assinalou ainda que o tempo quaresmal é um “período de penitência, também de mortificação”, algo que não é um “fim em si mesmo”, mas que procura levar os crentes a “renascer” com Jesus Cristo, num “caminho da escravidão à liberdade”.
2. Na visita histórica que fez à paróquia anglicana de Todos os Santos, em Roma, o Papa saudou o fim do clima de hostilidade entre católicos e anglicanos. “Como católicos e anglicanos, estamos humildemente gratos que, após séculos de desconfiança mútua, sejamos agora capazes de reconhecer que a graça fecunda de Cristo está em ação também nos outros. Agradecemos ao Senhor que, entre os cristãos, tenha crescido o desejo para uma maior proximidade, que se manifesta na nossa oração conjunta e no testemunho comum do Evangelho, sobretudo nas nossas diversas formas de serviço”, disse o Papa, no passado Domingo, 26 de fevereiro, na primeira visita de um Papa àquela comunidade. “Por vezes, o progresso neste caminho rumo à plena comunhão pode parecer lento e incerto, mas hoje podemos ser encorajados pelo nosso encontro. Pela primeira vez, um Bispo de Roma está de visita à vossa comunidade”, prosseguiu. “É uma Graça e também uma responsabilidade: a responsabilidade de fortalecer os nossos laços, para o louvor de Serviço do Evangelho e desta cidade. Incentivemo-nos uns aos outros para nos tornarmos discípulos cada vez mais fiéis de Jesus, cada vez mais desprendidos dos preconceitos do passado e cada vez mais desejosos de rezar uns com os outros”, concluiu o Papa, que, nesta visita, revelou ainda a intenção de visitar o Sudão do Sul. “Estamos a pensar se [a viagem] se pode fazer, a situação é muita feia, lá, mas temos de fazer. Estou a estudar, com os meus colaboradores”, revelou.
3. A atenção excessiva aos bens e às riquezas afasta os homens e as mulheres do amor paterno de Deus, alertou o Papa Francisco, no passado Domingo, durante a celebração do Angelus, em Roma. O Papa começou por referir que Deus é “o grande amigo, o aliado, o Pai, mas nem sempre nos damos conta disso”. “Preferimos apoiar-nos nos bens imediatos e contingentes, esquecendo – e às vezes recusando – o bem supremo que é o amor paterno de Deus”, lamentou. Para Francisco, o mundo passa por uma “época de orfandade” e sentir Deus como Pai “é muito importante”. “Nós afastamo-nos do amor de Deus quando andamos à procura obsessiva dos bens terrenos e das riquezas, manifestando assim um amor exagerado por estas realidades”, sublinhou.
Depois do Angelus, o Papa fez uma referência ao Dia Mundial das Doenças Raras, que se assinalava na terça-feira seguinte, dia 28 de fevereiro. “Desejo que os pacientes e as suas famílias sejam adequadamente ajudados, neste percurso que não é fácil, tanto a nível médico como legislativo”, desejou.
4. O Papa Francisco defendeu uma maior inclusão das pessoas com deficiência, exigindo “respeito efetivo” pela sua dignidade. “A qualidade de vida no seio de uma sociedade mede-se, em boa parte, pela capacidade de incluir os que são mais fracos e necessitados, no respeito efetivo pela sua dignidade de homens e de mulheres”, declarou o Papa, no sábado, 25 de fevereiro, numa audiência aos membros da ‘Comunità di Capodarco’, organização católica italiana que acompanha pessoas necessitadas e com deficiência.
Francisco sustentou que a “maturidade” de uma sociedade acontece quando esta inclusão já não é vista como “algo de extraordinário”, mas passou a ser normal. “Também a pessoa com deficiência e fragilidades físicas, psicológicas ou morais deve poder participar na vida da sociedade e ser ajudada a desenvolver as suas potencialidades, nas várias dimensões”, apelou. O Papa afirmou ainda que o reconhecimento dos direitos dos “mais fracos” é a garantia de que uma sociedade está fundada sobre o direito e a justiça, evitando quaisquer discriminações.
5. O Papa Francisco alertou para a possibilidade de uma “guerra mundial” por causa dos recursos hídricos, afirmando que a água é um direito “vital” de cada pessoa. “Pergunto-me se nesta terceira guerra estaremos aos bocados a caminho da grande guerra mundial pela água”, assinalou, num encontro dedicado ao “direito humano à água”, na Academia Pontifícia das Ciências, da Santa Sé. A iniciativa reuniu cerca de 90 especialistas, entre professores, membros de ONG’s e representantes de governos. Francisco recordou dados da ONU que não deviam deixar ninguém “indiferente”: “Mil crianças morrem todos os dias – mil todos os dias – por causa de doenças ligadas à água. Milhões de pessoas consomem água contaminada”, lamentou, apelando à implementação de “políticas públicas” que respondam a esta problemática “fundamental” e “muito urgente”, sublinhando que o acesso à “água potável e segura” é um direito humano “básico”. O Papa considerou ainda que é necessário dar prioridade à água nas preocupações políticas e lamentou a existência da legislação que “nega” este “direito vital para todos os seres humanos”.
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