Domingo |
À procura da Palavra
A arte de escutar
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DOMINGO II QUARESMA Ano A

“Este é o meu Filho muito amado, [...].

 Escutai-O.”

Mt 17, 5

Ouvir e escutar será a mesma coisa? Se perguntarmos a pais, professores, e toda a espécie de comunicadores, creio que será possível concordar numa diferença fundamental: não são a mesma coisa! “Não me ouviste?”, diz o pai já irritado ao filho distraído; “Estão a ouvir?” insiste o professor à turma irrequieta; “Para os nossos ouvintes...”, lança no ar o locutor. Sim, se não estivermos de auscultadores postos nem sofremos de surdez, até ouvimos, mas “escutar” pertence ao plano da atenção, do acolhimento, da dedicação do pensamento. Escutar é o que fazemos quando o António Zambujo canta e nos suspende num silêncio, como se fosse só para nós (e quem diz ele, diz o Chico, o Caetano, a Bethânia, a Mariza...!). Escutar é beber as palavras e os olhos e os gestos da pessoa amada que nos abre o coração. Escutar é despirmo-nos da tentação de pensar nas respostas, e receber, abraçando, as dores ou alegrias que alguém partilha!

 

Muitas vezes se diz que a Quaresma é o tempo de “retiro” da Igreja. Como Jesus que levou Pedro, Tiago e João ao alto do Tabor. Não para fugir do mundo, mas para vê-lo melhor, e descer amando-o mais. Muitos cristãos, com o exemplo do Papa e dos Bispos, e tantos outros gostariam de o fazer também, “roubam” uns dias à azáfama e ao muito que há sempre a fazer, para este “treino de escutar Jesus”. Não que Jesus “fale mais” nestes dias, mas talvez nós possamos escutar melhor. Pois no meio de tantas vozes, de comunicações tão urgentes, de surdezes voluntárias em nome da mesma comunicação, do horror ao silêncio e do medo de pensar, não vai morrendo em nós a capacidade de escutar?

 

Escutar Jesus, como o Pai pediu no Tabor (é o seu único pedido em todos os evangelhos!), na intimidade do coração e da consciência, nas palavras da Bíblia, nos acontecimentos lidos em chave de amor e esperança. Escutarmos as pessoas que amamos, não as trocando por imagens que se “instagramam” ou mensagens que são sempre mais importantes do que a pessoa que está diante de nós. E de escutar outros, náufragos deste mar de ruídos, que chegam à praia da nossa vida e mendigam um pouco de tempo e atenção. E como diz uma amiga minha, a propósito da poesia e do exílio a que votamos os poetas, ouso parafrasear: “se escutasse um pouco mais por dia, não sabe o bem que lhe fazia!

 

Em novembro passado nasceu, ali ao Marquês de Pombal, na Igreja do Coração de Jesus, um “Gabinete de Escuta”, com o “objectivo de prestar ajuda a pessoas em sofrimento existencial e espiritual através da escuta empática”. Surgiu como um fruto do ano da Misericórdia, com marcação por telefone ou mail, com uma “equipa diversificada e multidisciplinar de membros que, de uma forma voluntária, gratuita e responsável se disponibilizam para escutar”. Para oferecer a delicada escuta, pois, como dizia Goethe: “falar é uma necessidade, escutar é uma arte”! Que todos a saibamos oferecer!

 

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