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P. Duarte da Cunha
Europa e Ecumenismo

Já em outras ocasiões nesta coluna da Voz da Verdade falei da importância do ecumenismo. Volto agora a abordar este tema porque nos ajuda a perceber não só algumas das urgências que enfrentamos na Europa, como também porque nos leva a redescobrir a vocação inerente à fé cristã de promover a comunhão e o amor.

Nas últimas semanas aconteceram alguns encontros relevantes para o ecumenismo na Europa onde tive a graça de participar e que quero agora partilhar.

Em Janeiro, o V Fórum Católico-Ortodoxo reuniu em Paris representantes de 12 conferências episcopais católicas da Europa, com 12 bispos ortodoxos provenientes de diversas Igrejas ortodoxas (estavam presentes os Patriarcados Ecuménico, da Rússia, de Antioquia, da Sérvia, da Roménia e ainda das Igrejas ortodoxas da Grécia, da Geórgia, de Chipre, da Polónia, da Finlândia). O V Fórum tratou dos desafios do fundamentalismo, que gera terrorismo e introduz o medo na sociedade europeia. Como nas outras ocasiões, também desta vez a abordagem foi feita a partir das perspectivas teológicas ortodoxas e católicas e foi possível elaborar uma mensagem comum.

Nessa mensagem, são tratados alguns pontos essenciais que vêm da mesma fé em Jesus Cristo e que hoje, por estarem muitas vezes esquecidos ou serem atacados, precisam de ser recordados. Depois de analisar a situação da Europa e do terrorismo, a mensagem reafirma que “as nossas igrejas católica e ortodoxa proclamam a centralidade da pessoa humana e a sua dignidade criada à imagem e semelhança de Deus. Elas afirmam a dignidade da natureza humana criada livre. (…) Nós acreditamos que a Europa precisa mais do que nunca do sopro da fé em Cristo e da esperança que esta traz consigo. O cristianismo possui uma identidade que não nega aos outros os direitos humanos, mas procura colaborar com todos para o bem comum”. E de seguida diziam: “Estamos bem conscientes que a visão cristã personalista é minoritária em relação à posição dominante que promove o individualismo hedonista e que ignora as noções de verdade objectiva e de bem comum.” Por isso, “lamentamos que algumas concepções da laicidade tenham levado gerações inteiras a uma forma de analfabetismo religioso, privando os cidadãos de conhecimentos básicos necessários para a compreensão do próprio património cultural e do das outras tradições inspirados na religião. O relativismo cultural sem verdade e sem bem moral não pode ser erigido como dogma da nossa sociedade, porque, na realidade, conduz à divisão dos seres humanos.”

Podemos, pois, dizer que, num tempo de grandes desafios, vem ao de cima a urgência dos cristãos se unirem e trazerem a este mundo a luz e a verdade de Deus. Não quer isto dizer que esquecemos o que ainda separa as várias igrejas cristãs – nada mais errado do que pretender considerar irrelevante o que durante gerações foi causa de divisão – mas quer dizer, por um lado, que sentimos ainda mais urgente resolver, no esforço de ser fiel a Jesus Cristo, os nossos problemas, por outro lado que, mesmo antes de estarmos plenamente unidos, percebemos que podemos e devemos mostrar ao mundo tudo aquilo que já nos une. É isso que se tenta fazer enfrentando juntos e a partir da nossa fé os temas sociais que nos afectam a todos.

Também em Paris, alguns dias depois, aconteceu o encontro da comissão conjunta CCEE (Conselho das Conferências Episcopais da Europa – representando a Igreja católica de todo o continente) e CEC (Conferência das Igrejas Europeias – representando as mais de 100 igrejas ortodoxas, protestantes, anglicana, metodista, vetero-católica da Europa). Neste encontro, o tema foi precisamente o ecumenismo e a importância de tentarmos juntos discutirmos, com um olhar teológico, os desafios sociais. No fundo, podemos dizer que a sociologia e as análises que ela oferece podem dar uma ajuda, mas sem a leitura teológica algo da realidade nos escapa. Ora, esta é a missão que as várias Igrejas cristãs, num mundo secularizado, percebem ser urgente tomarem a sério. É também certo que vemos com entusiasmo que há entre as pessoas, bispos, pastores e responsáveis das várias Igrejas uma grande sintonia nesta decisão e que cresce uma amizade.

Finalmente, vale a pena ainda recordar o encontro entre o Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, e os Cardeais Angelo Bagnasco e Péter Erdö, presidente e antigo presidente do CCEE, no dia 5 de Março, em Istambul, e que veio na mesma linha dos anteriores sublinhar o empenho comum de católicos e ortodoxos na evangelização e na promoção do bem comum.

Pode ainda haver muito caminho a percorrer para podermos dizer que a unidade dos cristãos seja uma realidade. Desejamos uma Igreja única e visível! Mas podemos dizer que por causa do que se passa na Europa e da necessidade de trazer de novo uma alma à Europa, os cristãos de diversas confissões, se sentem unidos e chamados a testemunhar que é preciso voltarmos para Deus e acolhermos Jesus Cristo como o nosso único Salvador.