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Energias renováveis ? Energias renovadas
Ela está sempre presente, mas também tem os seus tempos. Está sempre activa, mas também conhece alterações. Nunca lhe falta vitalidade, mas também tem as suas estações. Refiro-me à natureza. Também ela se cansa quando chega o Outono. Repousa no Inverno. Rejuvenesce na Primavera e mostra-se pujante no Verão. Ano após ano renova-se. Para lá do calor do sol e da terra ou da força dos ventos e das marés, há na natureza muitas outras energias que se renovam silenciosamente.

Também nisto somos natureza. Temos os nossos ritmos, as nossas próprias estações. Com o Verão, chegamos a um período de balanços e preparamo-nos para um tempo de férias – pelo menos alguns. Passou mais um ano de trabalho. É época de se dizer e ouvir dizer, com um misto de estupefacção e resignação, que «passou depressa», que «não dei pelo tempo passar», que «muito ficou por fazer». À necessidade e vontade de repouso vem juntar-se uma incómoda angústia: sentir que o tempo passa por nós com tal velocidade que nós receamos passar com ele. Fica, com demasiada frequência, a sensação que é o tempo quem nos governa, em vez de sermos nós a geri-lo a ele. Desgastamo-nos a correr atrás do que passa, quando o que fica é, não poucas vezes, a impressão que procurando chegar a tanto sítio não estivemos em lado nenhum. No fundo, experimentamos na carne como o tempo é, talvez como nunca o foi antes, um dos mais preciosos e escassos bens que possuímos e que está entre aquelas realidades que mais difícil é de gerir sabiamente.

As férias surgem neste panorama como uma novidade. Um período assim é uma brecha na espiral do tempo por onde um raio de luz nova pode espreitar, por onde um ar fresco pode soprar. Eis porque se espera tanto pelas férias. Convirá, contudo, alertar para o que já sabemos: podemos acabar as férias tão ou mais cansados do que quando nelas entrámos – digo tanto física como psicologicamente. Depende do que fizermos e quisermos fazer com este tempo. Não estamos isentos de prolongar em férias as mesmas rotinas esgotantes de sempre. Este é o tempo de fazer aquelas coisas para as quais normalmente nos queixamos de não ter disponibilidade: gastar aquele tempo com a família que o trabalho nos vai tomando; ler o tal livro que há tanto me espera; visitar aquele amigo a quem um esporádico telefonema já não basta; dispor de um momento calmo e não cronometrado para se deixar ficar em oração; descobrir em passeio a beleza do nosso mundo ou das maravilhas criadas pelo génio humano. São apenas algumas pistas para que aquelas forças que há na natureza que somos nós passem de energias renováveis a energias renovadas!


pe.alexandre.palma@gmail.com