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P. Duarte da Cunha
A pastoral Juvenil: a caminho de um Sínodo

O acompanhamento dos jovens foi o tema do Simpósio (http://symposium2017.ccee.eu) organizado pelo CCEE – Conselho das Conferências Episcopais da Europa –, em Barcelona, de 28 a 31 de Março, onde estiveram presentes responsáveis da pastoral juvenil de 37 países. Apesar de estar previsto desde há dois anos e de ter envolvido muita gente na sua preparação, o facto de o Papa em Outubro ter anunciado para 2018 um Sínodo dos bispos sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional, tornou este Simpósio particularmente interessante. Podemos dizer que se tornou uma etapa de preparação para o Sínodo. Uma etapa europeia, mas que irá dinamizar, certamente, outros continentes e irá reforçar o que já se está a fazer em cada país em vista do Sínodo.

Preparar um Sínodo quer dizer tomar consciência dos desafios que a Igreja está a enfrentar a propósito do tema escolhido e que é considerado como uma prioridade para a vida da Igreja. Neste caso os jovens. Com o Simpósio o debate começou. Partilho três aspectos deste debate que deverão ser ainda desenvolvidos:

1. Parece-me ultrapassada a ideia de se sectorizar muito a vida pastoral – como se os jovens fossem um sector estanque ao lado de outros como a família, a cultura, a liturgia, etc.. Cada vez é mais claro que na vida pastoral tudo tem a ver com tudo. Como numa família. Pode haver questões dos filhos, ou dos pais, ou de saúde ou de trabalho, mas todos os temas interessam a cada um dos membros da família. Assim, na Igreja, será bom olhar para os jovens tendo presente todos os laços que existem na vida, ligando, portanto, por exemplo, a pastoral juvenil à pastoral familiar.

2. No Simpósio o tema da vocação, tal como é previsto que se venha a falar no Sínodo de 2018, apareceu muito ligado à pastoral juvenil. Duas são as ideias fortes a este propósito. Primeiro que quem acompanha um jovem – seja uma pessoa seja um grupo ou uma comunidade – tem como missão ajudá-lo a descobrir os sinais do que Deus o chama a ser na Igreja e no mundo, e ajudar a não ter medo de abraçar essa vocação (sacerdócio, vida consagrada, casamento, consagração laical…); segunda ideia forte é que toda a vida cristã, desde o baptismo, tem uma dinâmica vocacional. Ter fé é ter encontrado Jesus Cristo. E, por isso, crescer na fé é seguir os apelos de Jesus que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Uma boa pastoral conduz a pessoa a discernir continuamente a vontade de Deus, e procurar pô-la em prática. Como fazer? Que tipo de vida cristã propor e que tipo de pastoral para que seja possível educar nesta dinâmica vocacional os jovens? É preciso formar bem a consciência do jovem. Isso implica ensinar a doutrina, mas também mostrar através de exemplos evidentes que o que Deus pede é sempre o caminho para a verdadeira felicidade. A pastoral, por isso, deve levar cada um a sentir-se responsável e feliz por descobrir a sua missão. A resposta aos apelos de Deus deve ser dada por cada um. Mas como se faz para acompanhar um jovem a fim de que a sua resposta seja decidida e livre, mas também seja justa e fecunda?

3. Um terceiro ponto, que dará origem a intensos debates, tem a ver com o encontro entre a fé e a cultura actual. Podemos, e devemos, sem dúvida, ver tantas coisas boas a acontecer. Saber valorizar é próprio dos cristãos. Mas também é próprio de quem tem fé saber distinguir o bem do mal. Alguns aspectos da nossa cultura, como o secularismo – que afasta Deus da vida – ou o individualismo – que divide a pessoa dos outros e a coloca sozinha a ter de enfrentar a vida, sem critérios morais objectivos – são desafios que os cristãos devem enfrentar e batalhas que devem travar. A vida cristã nunca se pode conformar com uma cultura adversa. Para se desenvolver uma boa pastoral neste contexto, julgo ser necessário investir tempo e energia quer na vida de oração quer na vida de comunidade. Estes dois aspectos devem estar presentes como método e como objectivos para enfrentar o secularismo e o individualismo.

Eis algumas ideias. Há muito mais a pensar, e sobretudo a descobrir a partir do que Deus já está a fazer em tantas óptimas experiências de pastoral juvenil, para que a Igreja continue a acompanhar os jovens e o Sínodo se torne um momento de anúncio de esperança.


Secretário-Geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa