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P. Manuel Barbosa, scj
Em Centenário, rezar com Francisco

Escrevo estas notas em Domingo da Divina Misericórdia. Feliz proposta de São João Paulo II em 2000, ao espalhar esta intenção a toda a Igreja sempre no domingo segundo da Páscoa. Ditosa iniciativa do Papa Francisco ao propor 2016 como Ano Jubilar da Misericórdia para toda a Igreja. Não são intentos datados e espacialmente confinados, pois dizem-nos quem é o próprio Deus, plenamente misericordioso em Jesus Ressuscitado.

A meio desta fecunda semana que surgiu da Páscoa da Ressurreição até à Pascoela da Misericórdia, fomos agraciados pelo Papa Francisco com a decisão de canonizar Francisco e Jacinta Marto no próximo dia 13 de maio em Fátima. Ele, que já nos havia brindado com a graça de estar presente no centenário das Aparições, quis dilatar este acontecimento com a solene canonização.

Vivemos assim três grandes motivos celebrativos que nos plenificam de júbilo: centenário das Aparições de Nossa Senhora do Rosário aos três pastorinhos, vinda do Papa Francisco como peregrino na esperança e na paz, canonização de Francisco e Jacinta. Cada um vale por si mesmo, mas juntos são imenso «magnificat» a ecoar de todos nós, igualmente peregrinos na esperança e na paz, acolhedores daquilo que Nossa Senhora profeticamente nos ofertou há cem nos, unidos à alegria do Evangelho que o Papa nos vai instando a viver como discípulos missionários. Nestes motivos maiores está o quotidiano das nossas vidas, ora em angústias, sombras e tristezas, ora em esperanças, luzes e alegrias, mas tudo bem caldeado no ardor do Ressuscitado, por intercessão de sua e nossa Mãe.

Estes acontecimentos  exigem preparação, por sinal bem árdua e longa, em todos os aspetos. Tudo está em andamento, não só nos meios eclesiais mas também nos governamentais e civis. Segurança precisa-se, nem poderia ser de outro modo. Ninguém quer nem pode falhar à chamada, seja por vivida convicção, seja por exercida função. Não faltam sequer aproveitamentos da ocasião, até no excessivo abuso de preços em alojamentos e afins, que é de denunciar. Não faltam variadíssimas formas e meios de tudo comercializar, desde que gire à volta de Fátima. Uma longa lista de encargos preparativos...

Dou comigo a pensar. Corre-se o risco de demasiado correr e fazer, de muito planear e executar, de excessivamente prever e avaliar. Tudo isso faz parte da boa preparação, mau seria se assim não fosse. Contudo, é preciso parar em atitude contemplativa, saborear o que realmente está em causa, fazer o sentido silêncio que cala o efémero e sinaliza o que vale, anunciar o que é mesmo essência e não estorvo, rezar simplesmente... Se assim não for, para quê tanta correria?

As singelas sugestões de comum oração que foram oferecidas a todos os organismos da Igreja em Portugal, preparadas pelo Santuário de Fátima e pela Conferência Episcopal, pretendem contribuir precisamente para a sintonia de oração e adoração, de louvor e ação de graças, bem centrais na evangélica mensagem de Fátima.

Foi em oração que o Papa Francisco fez o ato de entrega a Nossa Senhora de Fátima diante da imagem que a 13 de outubro de 2013 foi levada até ao Vaticano. Belíssima oração que convido a saborear neste breve naco aqui transcrito:

«Bem-Aventurada Virgem de Fátima, com renovada gratidão pela tua presença materna unimos a nossa voz à de todas as gerações que te dizem bem-aventurada. [...] Deixamo-nos alcançar pelo teu olhar dulcíssimo e recebemos a carícia confortadora do teu sorriso. Guarda a nossa vida entre os teus braços: abençoa e fortalece qualquer desejo de bem; reacende e alimenta a fé; ampara e ilumina a esperança; suscita e anima a caridade; guia a todos nós no caminho da santidade. Ensina-nos o teu mesmo amor de predileção pelos pequeninos e pelos pobres, pelos excluídos e sofredores, pelos pecadores e os desorientados; reúne todos sob a tua proteção e recomenda todos ao teu dileto Filho, nosso Senhor Jesus Cristo».

Que a oração seja o ânimo de tudo o que celebrarmos, sempre no Amor e na Misericórdia tão fecundos na mensagem de Fátima!