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Pe. Alexandre Palma
Moderados e exaltados

Há não muito tempo, uma figura pública da nossa vida nacional, numa espécie de balanço de vida, confessava: «acabei por me converter em algo que os exaltados tanto abominam, por ser, regra geral, um moderado». Compreendo bem este diagnóstico. Compreendo bem como se podem sentir desinteressantes aqueles que procuram fazer da ponderação o norte da sua reflexão e discurso. Não são esses que atraem seguidores apaixonados e opositores militantes. Não são esses que preenchem os novos indicadores do sucesso: likes nas redes sociais e visualizações na internet. Não são esses quem melhor domina as técnicas da comunicação moderna, feita (também) de frases curtas e de efeito imediato: slogans e soundbites. Não são esses que fazem da ironia ou da diatribe os seus géneros de eleição. Não são esses, enfim, que animam o espaço público com sonoras discussões. E alguns dos efeitos desta exaltação estão aí para quem os quiser ver, tanto no extremar do nosso tecido social e político, como também do nosso corpo eclesial.

Não ignoro, bem pelo contrário, a vantagem da clareza das posições. Há beleza no vivo contraste entre as cores e não apenas na subtil gradação entre elas. Sei também que situações há em que, como numa partida de ping-pong, não se pode jogar a meio da mesa, mas só num dos seus lados. Mas erro comum é julgar-se que os moderados, por não serem exaltados, não têm posições firmes. Erro comum é julgar-se que a convicção se mede pelo volume do argumento ou pelo colorido dos adjetivos. Erro comum é crer-se que a procura de equilíbrio é sempre e só o subproduto de um qualquer taticismo ou concordismo. Pode sê-lo. Mas pode ser também o esforço de honrar a complexidade da vida e da realidade. Essas que, de tão ricas e paradoxais, dificilmente se deixam explicar por argumentos retilíneos. Porque (quase) tudo tem verso e reverso, direito e avesso, prós e contras. A ponderação impõe-se, portanto, como necessidade para quem quiser olhar o mundo com os dois olhos e não apenas com um. Eis uma boa razão para voltar a levar a sério os moderados.