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P. Duarte da Cunha
Europa e Fátima

O centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima é uma excelente ocasião para nos darmos conta da fecundidade dos acontecimentos de Fátima nas nossas vidas e nas nossas famílias, mas também na história de Portugal e da Europa. Outros farão em ocasiões mais solenes estudos sobre o impacto das aparições, da mensagem de Fátima e das peregrinações a Fátima e da Imagem de Nossa Senhora de Fátima pelo mundo, gostaria só de partilhar, à guisa de testemunho, o que tenho visto pela Europa fora. Por tudo o que vi e oiço não me parece que seja um exagero dizer que a história da Europa dos últimos 100 anos não seria a mesma sem o que se passou em Fátima em 1917.

Para Portugal é claro que Nossa Senhora de Fátima é importante, Ela é mesmo a nossa melhor embaixadora. Pelo menos em ambientes católicos, quando me apresento como padre português, o normal é o interlocutor falar de Fátima. Toda a gente conhece Fátima, mesmo que nem todos conheçam bem a mensagem de Nossa Senhora. A devoção é um facto.

Fátima tem um significado especial, sem dúvida, para os nossos emigrantes que, onde estão, impõem a devoção a Nossa Senhora de Fátima: França, Alemanha, Luxemburgo, Suíça e Inglaterra são países onde os muitos emigrantes portugueses testemunham a importância da devoção a Nossa Senhora de Fátima. E isso leva-os a construírem igrejas e altares e a promoverem procissões e peregrinações. Onde há emigrantes portugueses todos sabem que Fátima está presente. Não são só as sardinhas ou o futebol!

A mensagem de Fátima também nos fala de paz. Na história do nosso continente, o desejo de paz, especialmente depois da Segunda Grande Guerra, trouxe aos lugares onde a guerra foi mais terrível uma súplica à qual a mensagem de Fátima trouxe uma esperança: de que no fim “o Imaculado Coração de Maria triunfará”. Não se estranha, por isso, a devoção a Nossa Senhora de Fátima em Itália, especialmente no norte, ou nas fronteiras entre a Alemanha e a França e, ainda, na Áustria. Os santuários – pequenos e grandes – as paróquias e os altares dedicados a Nossa Senhora de Fátima estão por todo o lado. Eles são sinal de uma história que já não pode ser contada sem uma referência a Nossa Senhora de Fátima, mas também um apelo a que a devoção continue hoje a dar frutos de paz nas famílias, nos países e no mundo.

Há, depois, uma presença muito especial de Fátima nos países do leste europeu. Não é de estranhar. Afinal Nossa Senhora em 1917 falou da Rússia e dos males que ali estavam a nascer e viriam a espalhar-se por todo o mundo. O comunismo soviético e, depois da Segunda Grande Guerra, o comunismo de todos os países que ficaram sob a alçada da Rússia comunista, sofreram muito. A Igreja foi perseguida, muitas vezes tentou-se acabar totalmente com a religião, como na Albânia, ou, pelo menos com a Igreja Católica, como nos Países que foram absorvidos pela União Soviética, na Bulgária e na Roménia. É impressionante como em todos esses países a devoção a Nossa Senhora de Fátima, desde 1989, se tornou parte integrante da nova identidade pós comunista que não foge do olhar de Deus. Um dos países onde mais me impressiona ver a devoção a Nossa Senhora de Fátima é a Bielorrússia. É o último país que ainda é governado por defensores da ideologia marxista e leninista; é o único país da Europa onde não há uma verdadeira democracia com eleições livres; e é o único que não é membro do Conselho da Europa porque ainda tem no seu código penal a pena de morte. Apesar disso, os católicos nesse país são mais de 25 % da população, e a devoção a Nossa Senhora de Fátima é um facto presente em todas as Igrejas. Como em Portugal para se prepararem para o centenário houve uma Imagem de Nossa Senhora de Fátima que passou por todas as paróquias.

Há qualquer coisa de Fátima que faz com que todas a sintam como sua! Ora, dizendo tudo isto e vendo a importância que todos, especialmente os que sofrem mais perseguição, dão a este lugar e a esta mensagem, parece-me que é um forte incentivo para que cada um de nós portugueses, se sinta ainda mais fortemente chamado a levar a sério a ternura da Mãe, que nos visita, e os seus apelos de conversão, penitência e oração.