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Regresso dos cristãos à Planície de Nínive, no Iraque
Reconstruir a esperança
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Há datas que ficam para a História. Em Agosto de 2014, os jihadistas do auto-proclamado “Estado Islâmico” invadiram, perante a indiferença do mundo, a região da Planície de Nínive, expulsando de suas casas milhares de famílias cristãs. Agora, em Maio de 2017, com o apoio da Fundação AIS, iniciou-se a reconstrução dessas casas.


Os olhos voltaram a encher-se de lágrimas nos rostos de tantos cristãos no Iraque. A cerimónia que marcou o início da enorme operação de reconstrução de casas dos Cristãos da Planície de Nínive, na segunda-feira, dia 8 de Maio, foi muito simples, embora carregada de significado. Os proprietários das primeiras 105 habitações destruídas totalmente ou parcialmente pelos jihadistas, e que vão agora ser reconstruídas, receberam uma pequena oliveira para plantarem nos seus quintais como símbolo de paz e de reconciliação. Em Agosto de 2014, os jihadistas ocuparam a região da Planície de Nínive e obrigaram milhares de famílias a fugir com a roupa que traziam vestida. Ou fugiam, ou se convertiam ao Islão, ou morriam. As suas casas foram depois identificadas, uma a uma. Marcadas com um símbolo. Apontadas a dedo. Todas as casas dos Cristãos foram saqueadas. Levaram tudo o que era de mais valioso. Nada foi poupado. Agora, com a expulsão dos jihadistas de praticamente toda a região e tendo-se estabelecido um perímetro de segurança, os Cristãos precisam de ajuda de novo. Mas o regresso só será possível quando as suas casas estiverem de novo habitáveis. No dia 8 de Maio, numa cerimónia muito simples, iniciou-se esse complexo processo de reconstrução. Para já, numa primeira fase, estão contempladas 105 casas de cristãos de Bartella, Karamlesh e Baghdeda, todas situadas na região de Qaraqosh. Nessa cerimónia, Philipp Ozores, secretário-geral internacional da Fundação AIS, entregou a cada uma dessas famílias, uma pequena oliveira.

 

Uma vida normal

Estas oliveiras vão agora ser plantadas junto às suas casas. É a resposta de paz e de tolerância ao ódio e à crueldade. No auge da violência, os jihadistas marcaram as casas dos cristãos como se de um alvo se tratasse. Agora, nessas mesmas casas vai crescer um símbolo de paz e de reconciliação. Para esta complexa operação de reconstrução, é preciso juntar as comunidades num esforço comum. Para isso foi criado uma comissão que reúne representantes das Igrejas Ortodoxa Síria, Católica Síria e Caldeia, além da própria Fundação AIS. O objectivo é ambicioso: devolver quase 13 mil casas destruídas pelos jihadistas na Planície de Nínive às respectivas famílias cristãs. Azhaar Naissan Saqat é um dos que nunca mais vai conseguir esquecer esses dias de Agosto de 2014 quando milhares de cristãos fugiram como puderam dos bandos de bárbaros assassinos que conquistaram a Planície de Nínive com uma rapidez surpreendente. Ainda hoje essa memória assusta. Ainda hoje se esvai em lágrimas quando recorda tantas pessoas que ficaram de mãos vazias apenas por serem cristãs. Desde então, já passaram quase três anos. Parece que foi ontem. Naissan Saqat é médico. Tem 46 anos e tal como a maior parte destes cristãos que foram expulsos das suas terras, das suas casas, também ele fugiu para Erbil. Nesta cidade do curdistão iraquiano, Saqat abriu dois centros médicos para auxiliar os deslocados que, como ele, perderam tudo o que tinham. Muitos perderam até a esperança. O doutor Naissan Saqat só deseja uma coisa: levar uma vida normal, regressar a casa, à rua onde sempre morou, ao convívio com os vizinhos, os amigos. Se isso fosse possível, apagaria mesmo estes três anos de infelicidade e de lágrimas. Infelizmente, esses tempos ficaram agarrados à sua memória como uma cicatriz que é impossível ignorar. Por isso, também por isso, a notícia de que a reconstrução das aldeias cristãs vai iniciar-se encheu-o de felicidade. E agora só tem palavras de agradecimento para os benfeitores da Ajuda à Igreja que Sofre. “A Fundação AIS tornou possível para nós a esperança de que poderemos regressar a nossas casas e às nossas igrejas, e levar vidas normais outra vez”. Só quem se vê privado de tudo, só quem passa pela violência mais inimaginável é que compreende a enorme felicidade de se poder levar apenas uma vida normal…

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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