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Henrique Joaquim
“EnvelheSer”

Mas afinal porque é que o Envelhecimento é um problema? Será mesmo?

Escrito como está no título é um erro mas não é necessariamente um problema sem solução.

Desculpem este início com uma questão que, além do mais, da minha parte, é meramente retórica, porque estou em crer que é urgente colocar o problema onde ele existe. Afinal para que conquistámos e continuamos a conquistar uma maior esperança de vida? Para depois dizermos que temos “o problema do envelhecimento?”

Do meu ponto de vista isto é um verdadeiro paradoxo. Envelhecer é um dos maiores avanços civilizacionais das nossas últimas décadas. É um privilégio que apenas alguns países podem usufruir mas paradoxalmente são os que mais dizem ter um problema.

Efetivamente, o facto de hoje ser possível viver mais 20 ou 30 anos traz-nos desafios que até aqui não tínhamos exatamente porque não vivíamos tanto. Infelizmente são várias as notícias de pessoas que vivem isoladas e com necessidades de cuidados; pessoas idosas que sofrem de limitações físicas e mentais decorrentes do processo natural e inerente ao ser humano; há lamentavelmente pessoas que morrem sozinhas. Sendo todas estas situações importantes de urgentes de resolver também não podemos deixar de enaltecer e agradecer as inúmeras centenas de milhares de pessoas que vivem e experimentam o que é EnvelheSer. Há inúmeras histórias de vida de total realização de vida com tudo o que ela nos dá de sofrimento e de alegria. Se assim é afinal onde está o problema?

Ao que tudo indica, e reforço que não se devem esquecer as necessidades das pessoas mais velhas, a questão central do rápido e estrutural envelhecimento da nossa população está acima de tudo na falta de nascimentos! Coloquem a questão de outra forma: mesmo que se mantivesse o aumento da esperança de vida que atualmente se verifica caso a taxa de natalidade em Portugal se tivesse mantido estaríamos a dizer que o envelhecimento é um problema? Estou certo que não.

Assim sendo, o que temos de ver e rever mas para agir e não ficar apenas a pensar, é o que está acontecer nas nossas dinâmicas familiares, profissionais e sociais, locais e globais, que gere isolamento das pessoas mais velhas. Face a isso há continuar a desenvolver os esforços já em campo e continuar a criativamente valorizar o capital humano das pessoas mais velhas.

Por outro lado, é urgente, antes de ontem já era tarde, é crucial desenvolver condições, estruturais e não apenas de cosméticas como algumas que têm sido ensaiadas, para que em família e em comunidade possamos acreditar que gerar vida é talvez o maior desígnio da pessoa humana.

Oxalá saibamos e queiramos continuar a conquistar condições que nos permitam EnvelheSer mas, acima de tudo, centremo-nos no essencial da questão: como podemos, com generosidade e solidariedade entre gerações, promover a Vida?