Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
Discípulos de Emaús, discípulos de maio

Numa recente celebração eucarística dominical, a leitora da oração dos fiéis proferiu «discípulos de maio» onde estava escrito «discípulos de Emaús». Este simples erro de leitura fez-me pensar, também de modo muito simples mas comprometedor: o discípulo de maio só pode ser discípulo de Emaús; o que peregrina em Fátima e se dirige a Maria só pode ser o mesmo que peregrina na Páscoa de Emaús e reconhece Cristo pascal na Eucaristia. O que temos intensamente celebrado e continuamos a viver ao longo deste mês pascal e mariano deve ser tomado nesta ótica.

O Centenário das Aparições de Nossa Senhora do Rosário em Fátima remete-nos continuamente, com todo o nosso ser, para a centralidade de Cristo em nós, na Eucaristia, na adoração, na conversão, na procura da reconciliação e da paz que Ele é em nós. «A paz esteja convosco», é a sua apresentação a Tomé e à comunidade dos discípulos. A mesma paz que os discípulos de Emaús encontram em Cristo, Palavra e Pão. A mesma paz que Deus nos concede em Fátima e a partir de Fátima, uma paz tão abençoada pela Rainha da Paz.

A presença do Papa Francisco entre nós contribuiu de modo profundo, no longo mas fecundo silêncio e nas abreviadas mas sentidas palavras, para sermos autenticamente discípulos que em maio são de Emaús, que adoram Jesus Cristo com a preciosa ajuda de sua e nossa Mãe. São densas e claras as palavras finais da homilia de 13 de maio em Fátima: «Sob a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor».

A canonização dos Pastorinhos Francisco Marto e Jacinta Marto sinalizam a mesma sintonia de maio e Emaús, com o coração sempre centrado no Deus em que creem e que adoram, esperam e amam, e em Jesus Eucarístico, para o qual aponta a Senhora do Rosário de Fátima. «A presença divina tornou-se constante nas suas vidas, como se manifesta claramente na súplica instante pelos pecadores e no desejo permanente de estar junto a Jesus Escondido no Sacrário», assim nos fez meditar o Papa Francisco.

A Solenidade da Ascensão de Jesus, que hoje celebramos, convida-nos a todos nós, discípulos e seguidores de Jesus desde Emaús, peregrinos na esperança e na paz desde maio, a olhar para o Céu e partir em missão, a caminhar no amor e na doação até à vida definitiva na comunhão com Deus, com a feliz presença de Maria. Olhar o Céu implica estarmos atentos aos problemas e às angústias das pessoas, questionados pelas inquietações e misérias, pelos sofrimentos e sonhos, pelas esperanças e alegrias que enchem o coração dos que nos rodeiam, sentirmo-nos solidários com todos, particularmente com aquelas que sofrem.

Não foi isso que fez e nos indicou Maria, desde Nazaré até a Cruz, a mesma que em Fátima nos desafia a renovar em cada um de nós as mesmas atitudes de Jesus Cristo? Não é isso que nos pede o Papa Francisco neste Dia Mundial dos Meios de Comunicação Social, desafiando-nos a proclamar boas notícias para o nosso tempo e a comunicar esperança e confiança, como fez Maria ao apontar sempre para Jesus?

Olhar para o Céu e partir em missão só acontece se andarmos no Coração Sagrado de Jesus e no Coração Imaculado de Maria. Feliz lapso na referida prece litúrgica dos fiéis! Sejamos autênticos discípulos marianos enquanto peregrinamos nos pascais caminhos de Emaús!

foto por Arlindo Homem