Com uma vida cheia e vivida de forma intensa, o Pe. Cachadinha aliava simpatia, inteligência e descrição, à vontade de servir a Igreja e acompanhar todos os que lhe eram confiados.
Uma vida em missão que passou por três países (Portugal, Angola e Estados Unidos) acompanhando os pedidos da Igreja e as circunstâncias políticas desses países. Uma vida cheia onde assumiu missões de elevado grau de exigência, nomeadamente como Capelão-Chefe do Exército durante a guerra, mas também ao nível da formação, de padres e leigos, e do religar das Igrejas de língua portuguesa depois dos processos de independências no âmbito do secretariado dos 5 séculos.
Um amplo campo de missão onde, em qualquer das áreas vividas, deixou sempre uma marca: uma presença da Igreja mais visível, em novos campos de missão e com um conjunto de cristãos empenhados na sua concretização.
Conheci o Pe. Cachadinha ainda como universitário, na preparação de uma ida a Angola no âmbito do Gas’Africa, recebi o seu apoio imediato, construímos uma amizade profunda, que me construiu e inspirou a procurar novos campos de missão.
Dessa vivência comum deixo cinco grandes desafios que retenho da sua vida:
1. O desejo de servir a Igreja
Ao longo da sua vida, o Pe. Cachadinha, sempre abraçou os desafios que a Igreja lhe foi propondo num espirito de fidelidade e sentido profundo de missão, quer em Angola, Portugal ou os Estados Unidos. Desafios assumidos com total entrega, num espirito de enorme liberdade interior de pensamento e amor à Igreja.
2. A vontade de construir e transformar a realidade
Ao longo dos anos de trabalho com o Pe. Cachadinha, encontrei sempre a sua vontade de construir novos programas e propostas de intervenção com impacto e sustentabilidade. Uma vontade que não se abatia com a dureza das situações e contrariedades do momento, mas que encontrava sempre força para continuar a construir num amplo horizonte de tempo.
3. Uma liderança que potenciava os outros e não a si próprio
Os verdadeiros líderes são aqueles que potenciam a acção dos outros, são aqueles que sabem morrer para que os outros cresçam. Esta é talvez um dos maiores testemunhos do Pe. Cachadinha, procurou sempre não ser o “centro”, das honras nem dos louvores. Nesse sentido, assumiu a liderança quando necessário, mas procurou sempre o lugar onde podia ajudar outros a construir e a crescer.
4. A aposta nos leigos e na profissionalização das organizações
Desde o primeiro momento da FEC, que o Pe. Cachadinha defendeu que os órgãos sociais deviam ser ocupados por leigos e que os colaboradores tinham que ser profissionais remunerados e não voluntários. Acreditava profundamente que a Igreja, nas suas obras e na sua intervenção no mundo, tinha que ser liderada pelos leigos.
5. A aposta na relação e na amizade pessoal
Finalmente, lembrar o Pe. Cachadinha é lembrar pequenos gestos, realizados em momentos marcantes com enorme significado e impacto. Gestos só possíveis de realizar por quem estava descentrado de si mesmo e dos seus problemas, e colocava a sua atenção nas necessidades dos outros, na procura de fazer a diferença nas suas vidas.
Um testemunho de vida marcante, que devemos recordar e seguir.
Muito obrigado Pe. Cachadinha!
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Algumas datas da vida do Pe. Cachadinha
. 1928 Nasceu em Nogueira, Viana do Castelo, de onde partiu com 21 anos para Angola onde se formou em Teologia e foi ordenado sacerdote em 1952 na arquidiocese do Huambo. Como sacerdote serviu as dioceses de Luanda e Huambo em diferentes cargos e missões.
. 1965 Com 37 anos regressou a Portugal e veio a assumir-se comoi Capelão-Chefe do Exército Português e Chefe do Serviço de Assistência Religiosa do Exército (patente de Tenente-Coronel). Funções exercidas, durante a guerra colonial, com enorme exigência pessoal.
. 1978 Com 50 anos parte para o seu terceiro continente de Missão, nos Estados Unidos da América, onde ajudou a fundar uma paróquia que serviu durante 11 anos.
Neste período presidiu ao Conselho das Comunidades Portuguesas entre 1984 e 1989.
. 1988 Regressou a Lisboa, a pedido do Cardeal António Ribeiro, para coordenar as celebrações dos Cinco Séculos de Evangelização e Encontro de Culturas, onde promoveu um intenso trabalho de aproximação entre as Igrejas lusófonas, e onde inspirou e promoveu a criação da Fundação Evangelização e Culturas – FEC, hoje Fundação Fé e Cooperação, onde foi administrador e membro do Conselho de Fundador.
. 1995 Regressa a Angola para cumprir o seu sonho de voltar a servir a Igreja, assumindo a Igreja dos Remédios na baixa de Luanda e depois integrando a Comissão Instaladora da Universidade Católica de Angola e as suas primeiras reitorias, nunca deixando de investir muito do seu tempo na criação da Biblioteca universitária que viria a ter o seu nome.
Entre variadas condecorações, foi nomeado, pelo Presidente da Republica, no Dia de Portugal, em 10 de junho de 1993, Comendador da Ordem de Mérito e viria a ser agraciado, em 1999, com as insígnias de Grande Oficial da mesma Ordem.
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