Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
Angola Eucarística
Terminou no passado Domingo, 18 de junho, na grande cidade do Huambo, o Primeiro Congresso Eucarístico Nacional de Angola, onde ainda me encontro a acompanhar o Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente, que veio como Enviado Especial do Papa Francisco. Escrevo estas linhas depois de uma intensa semana eucarística, sabendo que é difícil descrever o que aqui se viveu como experiência de vida cristã que vale para a Igreja em Angola e para toda a Igreja.

Além dos Bispos e delegações das 19 Dioceses de Angola, estiveram presentes D. Piero Marini, Presidente do Comité Pontifício para os Congressos Eucarísticos, e o Núncio Apostólico em Angola. D. José Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda, proferiu uma conferência sob o tema «o evangelizado evangeliza».

Os três primeiros dias foram passados em conferências, reflexões, testemunhos e celebrações, com 500 delegados das Dioceses. D. Manuel Clemente encerrou este tempo de Simpósio com uma reflexão profunda, clara e atualíssima sob o título «Eucaristia. Para uma Angola Eucarística». À luz das grandes orientações do Papa Francisco, acenou a três relações intrínsecas entre Eucaristia e evangelização a partir da exortação «Evangelii Gaudium», Eucaristia e criação na perspetiva da Encíclica «Laudato Si'», Eucaristia e família segundo a exortação «Amoris Laetitia». Seguiram-se quatro dias de congresso, na mesma tonalidade e método, mas com intensificação dos tempos de Eucaristia, Adoração e Reconciliação.

Vivemos estes dias como um tempo todo eucarístico: nas longas celebrações de Laudes e Vésperas, de Eucaristia e Adoração; nos vibrantes e comoventes testemunhos de vidas transformadas por Jesus Eucaristia; nas meditações e reflexões sobre a missão e evangelização, reconciliação e paz, famílias e comunidades cristãs (paroquiais e religiosas), defesa da vida no seu todo; na presença festiva e fecunda de esperança de uma multidão de crianças, adolescentes e jovens; no destaque ao papel dos leigos e famílias na construção das comunidades e de uma sociedade reconciliada e justa; no cuidado pelos idosos e doentes; nos tempos de festa e dança, de silêncio e contemplação, de encontro e convívio fraterno…

Embora sendo difícil destacar momentos especiais em todo este dinamismo eucarístico vivido por todos e cada um, indico três momentos. Logo, a celebração da Primeira Comunhão de 3.600 (três mil e seiscentas!) crianças, bem preparadas, lindíssimas e com rostos a exprimir a alegria vinda dos seus corações. Uma criança que se sentiu mal e teve que ser socorrida com soro não quis partir para o hospital sem primeiro receber Jesus Eucarístico, ela que tanto ansiara este momento. De seguida, a longa Procissão do Santíssimo Corpo de Deus pelas ruas da cidade, conduzida pelo Cardeal Patriarca, tão rezada e peregrinada por dezenas de milhares de pessoas, a culminar no Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Por último, a celebração eucarística de conclusão do Congresso Eucarística, presidida por D. Manuel Clemente, numa assembleia de 238.270 (duzentos e trinta e oito mil duzentos e setenta!) pessoas. Todos estes rezaram em uníssono com o nosso Patriarca pelas vítimas dos incêndios em Portugal e seus familiares, e pelos que continuam a lutar contra esta gigantesca calamidade: um gesto profundamente eucarístico!

Dizia D. Manuel a terminar a sua homilia: «Quando reconhecemos a presença do Ressuscitado, começamos a ressuscitar também, para com Ele apressarmos aquele “Reino” que, sendo inteiramente de Deus para Deus, será necessariamente de todos para todos. E assim mesmo o I Congresso Eucarístico Nacional de Angola assinalará um tempo novo também. Aquele que já começamos a viver, aquele que nos faz arder o coração!»

«Hoje Angola é Emaús». Foi o lema do Congresso, inspirado na frase evangélica de Lucas: «Reconheceram-n'O ao partir do pão». Foram dias intensamente eucarísticos, com todas as Dioceses sintonizadas no caminho para Emaús e a partir de Emaús, numa Angola Eucarística. Permanece a constante proclamação, nas palavras vindas do coração: hoje Angola é Emaús, Huambo é Emaús, cada comunidade é Emaús, cada discípulo de Cristo é Emaús!

Que Lisboa possa usufruir desta experiência eucarística vinda da Nova Lisboa, que é afinal o nome do Huambo!