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Pe. Alexandre Palma
Gestão de expectativas

Nas últimas décadas, uma nova ciência ganhou relevância nas nossas vidas: a gestão. Ela ocupa-se da boa administração de pessoas e recursos. Algo útil, sempre. Algo decisivo em momentos conturbados, em que os bens escasseiam. Ela procura sistematizar e otimizar as formas de o conseguir. Algo de todo conveniente, para se fazer mais com o mesmo. Mas há muito nessa forma de conhecimento prático que, longe de estar hoje circunscrito às escolas de gestão ou aos conselhos de administração, se disseminou e infiltrou no nosso viver comum. É certo que os teóricos da área procuram distinguir com nitidez o que seja a gestão pessoal da gestão institucional, a primeira mais intuitiva, a segunda mais estruturada. Todavia, não há como negar que também à escala de cada vida se efetuam previsões para o futuro, se traçam objetivos, se planificam a vias para os alcançar, se desenvolvem pequenas análises custo-benefício, se tomam decisões, normalmente procurando também o maior retorno com o menor esforço. No fundo, as vidas também se administram. É verdade que tudo isto será tão velho quanto o próprio Homem. Não será menos verdade que esta inteligência da vida impregnou a nossa cultura com uma nova força. É que num tempo em que tudo tem um preço, todos têm de ser gestores.

Haveria esta inteligência prática de se estender ainda à gestão das expectativas. Do meu ponto de observação, noto como desta outra gestão depende tanto da perceção da vida que levamos. Sem anular o valor objetivo de cada realidade ou evento, o agre ou o doce da vida é-nos dado, tantas e tantas vezes, por referência às expectativas que trazemos em nós. Não raro, um resultado sofrível é por nós experimentado como grande alívio ou mesmo sucesso. Porquê? Porque tínhamos a esse respeito baixas expectativas. Ou, pelo contrário, um desfecho bastante favorável é por nós interiormente assumido como derrota. Porquê? Pelas elevadas expectativas com que medidos o sucedido. Talvez isto se explique pelo facto de as expectativas serem hoje uma grande commodity/mercadoria das sociedades modernas (sim, absorver o jargão inglês dos gestores, mais que vício, é sintoma de uma época!). Transacionamos entre nós sonhos e aspirações. A indústria do entretenimento é disto exemplo. Para o bem e para o mal, ela é hoje uma grande produtora de expectativas. Precisamos, enfim, de uma ciência humana e social para as expectativas. Assim como fomos capazes de desenvolver uma ciência da boa gestão dos bens, precisamos de uma sabedoria para a boa gestão das expectativas. Para não oscilarmos, pessoal e socialmente, entre euforias deslocadas e crises sem fundamento. Para, no fundo, nos podermos libertar desse jugo que nos auto-impomos. Para podermos saborear a vida pelo que ela de facto é e não pelo que esperaríamos que fosse.