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“Dádiva da vida” pode ser considerada para beatificação
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O Papa Francisco alterou o acesso à beatificação e canonização. Na semana em que o Vaticano pediu recursos para prevenir tráfico e exploração de trabalhadores marítimos, o Papa escreveu ao G20, celebrou Missa com operários e convidou estudantes da Terra Santa a rejeitarem “viver como inimigos”.

 

1. O Papa Francisco criou, esta semana, uma nova categoria de acesso à beatificação ou canonização, segundo um documento divulgado pelo Vaticano. A nova categoria é a “dádiva da vida” e diz respeito a pessoas que “oferecem livre e voluntariamente a vida e aceitam heroicamente uma morte certa e próxima” como consequência direta dessa decisão. O documento foi publicado no passado dia 11 de julho e clarifica que esta categoria é diferente do martírio, pois no martírio, segundo a doutrina cristã, a pessoa em causa tem de ter sido morta diretamente por ódio à fé. Assim, e a título de exemplo, esta nova categoria poderia abranger pessoas que escolhem livremente permanecer em situações de guerra ou de epidemia para auxiliar os seus próximos, sabendo que com isso correm o risco de vida e que acabam mesmo por morrer por isso, mas cuja morte não é motivada por ódio à fé cristã.

Há ainda outra categoria para processos de beatificação que é a das virtudes heroicas, pessoas que não deram necessariamente a vida, nem foram martirizadas, mas cultivaram durante a vida as virtudes cristãs até ao mais alto grau e ganharam por isso fama de santidade.

Esta nova categoria de dádiva de vida continua a obedecer a alguns critérios. Aplica-se apenas a pessoas que tiveram uma vida virtuosa “pelo menos em grau ordinário” das virtudes cristãs antes dessa dádiva de vida e que as mantiveram até ao momento da morte. Tal como noutras categorias, é necessário que exista uma fama de santidade e sinais que indiquem essa santidade, pelo menos depois da morte e, para que a beatificação seja confirmada, deve provar-se a existência de um milagre por intercessão da pessoa em causa, embora o Papa tenha autoridade para dispensar este requisito se assim o entender.

 

2. O responsável pelo Serviço do Desenvolvimento Humano Integral da Santa Sé denuncia o que considera ser a realidade trágica dos que são explorados na indústria pesqueira. Numa mensagem a propósito deste Domingo do Mar, assinalado no segundo Domingo de julho (em este ano, dia 9), o cardeal Turckson, responsável do Vaticano para aquele serviço, valoriza e agradece esta força de trabalho e “o seu contributo para a economia global” e exorta os capelães e voluntários do apostolado do Mar a fazerem “todo o possível para que esta profissão nunca perca a merecida dignidade”.

Dirigida a mais de um milhão e meio de homens que trabalham no mar – pescadores e não só –, alguns provenientes de países subdesenvolvidos, vítimas de exploração laboral e sem condições de segurança, a mensagem sublinha que estes trabalhadores “passam vários meses longe da família, em condições de sacrificado e isolamento e, tantas vezes, expostos ao terrorismo e à pirataria”. “É preciso assegurar que ninguém seja vítima de discriminações, nem impedido de sair para terra por razões de nacionalidade, raça ou religião”, refere o cardeal Tuckson no documento, onde convida também as autoridades marítimas a “serem mais vigilantes para prevenir os abusos e reparar as injustiças”, bem como “tomar as medidas necessárias para garantir a segurança e proteção não só do carregamento, como da equipagem”.

 

3. O Papa enviou uma mensagem à cimeira do G20, que decorreu na Alemanha, e pediu aos responsáveis políticos “prioridade absoluta” para os mais pobres e os refugiados na política internacional. Francisco considera que o crescimento económico mundial não pode alhear-se dos conflitos em curso, nem do problema mundial das migrações. O Papa reconhece que “não existem soluções imediatas”, mas alerta o G20 que “não pode ignorar que o drama das migrações é inseparável da pobreza e da guerra”.

Francisco quer “soluções para os pobres, os refugiados, os desalojados e excluídos, sem distinção de nação, raça, religião e cultura”, pedindo também uma rejeição dos conflitos armados. O Papa fez ainda “um apelo à comunidade mundial para a trágica situação no Sudão do Sul, na baía do Chade, no Corno de África e no Iémen, onde há 30 milhões de pessoas sem alimentos e sem água para sobreviverem”.

Nesta mensagem aos 20 países mais ricos, o Papa Francisco diz também que é urgente “resolver em paz as diferenças económicas e encontrar regras comuns financeiras e comerciais que alcancem um desenvolvimento integral para todos”. Mas isso só será possível, diz o Papa, se todas as partes “reduzirem substancialmente os níveis de conflitualidade, se pararem a atual corrida aos armamentos e renunciarem a envolver-se direta ou indiretamente nos conflitos, bem como, aceitarem discutir com sinceridade e transparência todas as divergências”.

 

4. O Centro Industrial do Vaticano recebeu, no dia 7 de julho, o Papa Francisco, que celebrou Missa com operários, a convite dos mesmos. “Jesus sabe o que é o trabalho, percebe-o bem. Compreende-nos muito bem”, referiu, durante a homilia da celebração, deixando uma palavra de solidariedade a um dos trabalhadores, Sandro Mariotti, cujo pai faleceu na véspera e convidando todos a um momento de oração.

O Papa realçou que cada católico deve sentir a “confiança” de que Deus perdoa sempre. “Hoje, nesta primeira sexta-feira [do mês], pensemos no coração de Jesus, que nos faça entender esta coisa bonita, esse coração misericordioso, que apenas nos diz: ‘Dá-me as tuas fraquezas, dá-me os teus pecados, eu perdoo tudo’. Jesus perdoa tudo, perdoa sempre”, concluiu.

 

5. O Papa Francisco desafiou estudantes israelitas e palestinos a rejeitarem todas as propostas que os façam “viver como inimigos”, propondo, pelo contrário, da “cultura do encontro”. A intervenção foi transmitida através de uma projeção em vídeo, no final do Congresso das ‘Cátedras Escolas’, organizado pela fundação pontifícia ‘Scholas Occurrentes’, em Jerusalém. “Quero saudar estes dias vividos aí em Jerusalém, porque vós mesmos, a partir das vossas diferenças, chegastes à unidade”, salientou o Papa, na vídeo-mensagem, convidando a uma “abertura” dos olhares para que todos consigam “alarga a alma” ao outro. “A nossa utopia, a de todos nós que, de alguma forma, fazemos parte das Scholas, é criar com esta educação uma cultura do encontro”, precisou.

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