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Nepal: ataques contra igreja não desmobilizam Irmãs da Santa Cruz
As doutoras do amor
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No antigo reino do Nepal, os cristãos são uma ínfima minoria: não mais de 1,4 por cento do total da população. Os católicos, então, são ainda menos. Apesar disso, apesar de desenvolverem um extraordinário trabalho assistencial, sentem-se ameaçados. Ainda em Abril, uma igreja foi atacada. Nada, porém, afasta as Irmãs das Filhas de Santa Cruz da sua missão: ajudar os mais desfavorecidos.


Os católicos, no Nepal, são apenas cerca de 8 mil. São muito poucos mas fazem muito. No entanto, sentem-se ameaçados. Ainda no ano passado, sete homens e uma mulher foram presos neste país encravado entre o Tibete (região ocupada pela China) e a Índia, por estarem apenas a distribuir livros sobre a história de Jesus. O mais recente episódio que veio inquietar a minúscula comunidade católica foi o ataque, em Abril, contra a Igreja da Assunção, a catedral do vicariato apostólico do Nepal, situada nos arredores de Katmandu, a capital do país. Foi na terça-feira, dia 18. Um incêndio criminoso provocou danos consideráveis na reitoria da igreja. Desde então, há um sentimento crescente de medo entre os fiéis. O padre Silas Bogati é o vigário-geral. “Agora temos medo”, diz, em declarações à Fundação AIS.Confiamos em Deus, mas o que aconteceu é um aviso para ficarmos vigilantes”, acrescenta. O ataque aconteceu de madrugada. Três indivíduos entraram na propriedade da igreja, queimaram duas motocicletas e um carro estacionados no quintal e deitaram fogo ao edifício e à porta principal. O ataque poderia ter tido consequências terríveis. Dentro da reitoria estavam dez pessoas hospedadas. “Graças a Deus, o veículo que incendiaram não explodiu enquanto as pessoas estavam a ser evacuadas, mas poderia ter havido uma tragédia”, explica o vigário-geral.

 

Bomba na catedral

Na altura, a imprensa abordou este ataque como sendo apenas um acto criminoso. Para o padre Silas, porém, é preciso ver mais longe. Na sua opinião, o alvo foi muito bem escolhido. “Por vezes, os católicos sentem-se discriminados”, diz. “Mesmo sendo cidadãos nepaleses, somos tratados como estrangeiros, pelo simples facto de sermos cristãos. Infelizmente, em alguns sectores da sociedade, há um sentimento de hostilidade em relação às comunidades cristãs.” O padre Silas Bogati sabe bem do que fala. Em Maio de 2009, uma bomba explodiu na catedral enquanto celebrava a Santa Missa. Nunca mais conseguiu esquecer esse dia. O resultado do acto terrorista ainda hoje o deixa perturbado: três pessoas morreram e outras dez ficaram feridas. “Foi o dia mais triste da minha vida. Nunca pensamos que alguém poderia atacar um lugar sagrado de oração. Fiquei muito traumatizado.” Esse ataque acabaria por ser reivindicado por um grupo fundamentalista hindu, o “Exército de Defesa do Nepal”. Ignora-se se foram eles, ou não, os autores também do ataque do passado mês de Abril.

 

O exemplo das Irmãs

Toda esta violência é difícil de compreender. Os católicos são apenas cerca de 8 mil. E no entanto, apesar de serem tão poucos, estão fortemente empenhados no trabalho assistencial e de promoção das populações mais pobres, mais necessitadas. Se mais exemplos não houvesse, bastaria espreitar o dia-a-dia das Irmãs da Congregação das Filhas de Santa Cruz, cujo trabalho é apoiado pela Fundação AIS. Elas dedicam todo o seu tempo em favor dos mais desfavorecidos. Que fazem elas? Ensinam as crianças oriundas das famílias mais pobres, dão aulas de costura às mulheres – a maior parte não foi à escola – e ajudam-nas a gerir o dinheiro familiar para que possam sobreviver com os magros rendimentos do trabalho sazonal nas plantações de chá ou nos arrozais. Como se tudo isto não bastasse, decidiram ainda criar umas “clínicas ambulatórias” para que as populações das aldeias mais remotas possam ter um mínimo de cuidados médicos. As Irmãs, verdadeiras doutoras do amor, sempre que visitam as aldeias são recebidas por multidões de doentes, que as esperam cheios de esperança. Às vezes, o melhor remédio que levam é mesmo o sorriso bondoso, os gestos de ternura.

 

Pronto-socorro

Estas Irmãs não têm mãos a medir. São professoras, economistas, enfermeiras, médicas e, claro… Irmãs. Em cada visita, em cada encontro, procuram sempre estar com os mais novos, com os jovens, para que eles possam caminhar na vida com uma fé robusta, ensinando-lhes a catequese, mas também levando as famílias a rezarem em conjunto, especialmente o Terço. Para estas Irmãs, o maior problema não é o terrorismo nem o medo dos atentados ou a violência. O maior problema é não terem um carro que as possa levar mais longe e mais depressa junto dos mais velhinhos, junto dos que vivem nas montanhas. Isso, sim, é um problema. Sempre que têm de transportar doentes, precisam de pedir um veículo emprestado.

As Irmãs têm agora uma casa em Korobari, que fica a quase cem quilómetros da capital. Até lá só existem dois autocarros diários e, depois das 13h30, deixa de haver transportes públicos. Os únicos meios de transporte depois dessa hora são as bicicletas ou os carros de bois. Por isso, os doentes têm de esperar pelo dia seguinte, quando o autocarro regressa. E os carros de bois não servem de ambulância… Não é de surpreender pois que as Irmãs tenham pedido ajuda à Fundação AIS para poderem lidar com todas estas tarefas tão distintas. E pediram o quê? Pois claro, um carro que as possa levar, como um pronto-socorro, por caminhos muito maus, para junto das populações mais necessitadas. Vamos ajudá-las?

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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