Quando as prateleiras das lojas ou das farmácias estão vazias, quando a violência irrompe pelas ruas, o que se pode fazer? O que se deve fazer? O Bispo da diocese de La Guaira esteve em Fátima, a convite da Fundação AIS, para contar como têm sido tremendos os dias dos venezuelanos. Como, no meio da tragédia da fome, tantas pessoas têm mostrado que a generosidade não é apenas uma palavra…
A Venezuela é, apesar da enorme riqueza que se esconde no seu solo, um país muito pobre. Melhor: é um país empobrecido. A ditadura de Nicolás Maduro conduziu a Venezuela para o colapso económico que se reflecte na pobreza extrema da população. D. Raúl Castillo, Bispo de La Guaira, esteve em Portugal a convite da Fundação AIS, tendo participado na Peregrinação Internacional a Fátima que decorreu entre os dias 12 e 15 deste mês de setembro. O seu testemunho sobre os dias de cólera e fome que se vivem na Venezuela não deixou ninguém indiferente. La Guaira é uma diocese pobre, muito pobre, com cerca de meio milhão de pessoas que se comprimem numa pequena franja de terra com 160 quilómetros de comprimento e apenas 9 km de largura junto a Caracas, a capital.
Bairros de lata
Vista ao longe, La Guaira é indiscutivelmente bonita. Altas montanhas verdejantes junto ao mar são a moldura de uma terra salpicada, porém, de casebres, de bairros de lata. Se vista ao longe La Guaira é bonita, quando nos aproximamos desses casebres e das pessoas que aí moram depressa se percebe que a miséria é profunda e que a fome não é uma metáfora. Nem a solidariedade. Como explicou em Fátima D. Raúl, “os pobres ajudam os pobres” e têm gestos que são a expressão viva das palavras de Jesus. “Recordo uma vez – disse D. Raúl – quando uma velhinha pobre e mal vestida apareceu na casa episcopal e bateu à porta. Eu pensava que me vinha pedir esmola… mas não! Vinha trazer-me 1 quilo de arroz, porque sabia que não se conseguia arranjar isso nas lojas”.
Cuspir na cara
D. Raúl veio a Portugal, a Fátima, contar histórias comoventes e corajosas de padres e irmãs que tudo fazem para ajudar as populações mais empobrecidas. “Uma jovem ingressou na congregação das Irmãzinhas dos Pobres de Maiquetía para viver essa vida religiosa. Saiu a pedir esmola para os pobres. Não é fácil pedir esmola, nem mesmo quando não se pede para si, mas para os outros. Não é fácil. Sente-se vergonha, receio de um insulto, de se ser rejeitado…” A irmãzinha entrou num estabelecimento e começou a pedir, contou D. Raúl, quando se deparou com um homem a que se chamaria de anticlerical. “Ele olhou para a irmã com desdém e com uma raiva mal dissimulada. A irmã suplicava esmola para os pobres. Em resposta, em vez da esmola, o homem cuspiu-lhe na cara. Imaginem a humilhação da irmã! Ela limpou-se e disse: ‘isto foi para mim. Agora, dá-me uma esmola para os pobres?’” D. Raúl Castillo disse que estas palavras da irmã comoveram tanto o homem que este lhe pediu perdão, tendo começado aí, nesse encontro improvável, a sua aproximação a Deus.
Sabonete, farinha, leite…
A pobreza extrema que se vive na Venezuela é difícil de explicar e de compreender. O país é extremamente rico, mas as prateleiras das lojas e dos supermercados estão vazias. Não há medicamentos. Não há nada. O risco de guerra civil é real, com milhares de pessoas a manifestarem-se nas ruas, numa espiral de violência que não cessa de crescer. Todos os dias, porém, D. Raúl conhece histórias novas de solidariedade. “Consola-me o facto de pedir para os pobres – disse o prelado – e, neste momento, entre os pobres da minha diocese, contam-se sacerdotes, diáconos, religiosas e seminaristas.” Recentemente, D. Raúl foi à Bolívia a uma reunião das conferências episcopais da América Latina. “Os meus irmãos bispos comoveram-me pois, sendo também pobres, fizeram uma colecta entre eles para nos ajudar. Foram ao supermercado e ofereceram-me uma mala cheia de pasta de dentes, lâminas de barbear, sabonete, farinha, leite e até bolachas…”
“Muito obrigado”
Quando a pobreza é extrema, tudo falta, tudo faz falta. Até lâminas de barbear, sabonetes, bolachas… A Venezuela vive dias tremendos, de angústia, de miséria, de violência. O Bispo de La Guaira esteve connosco e não poupou nas palavras. Há fome na Venezuela. O que pudermos fazer por este país que se tornou também na segunda pátria para milhares de famílias portuguesas, é sempre bem-vindo. O que não fizermos será sempre um embaraço para as nossas consciências. Da Venezuela chega-nos também um muito obrigado pela ajuda que tem sido disponibilizada através da Fundação AIS. Disse D. Raúl em Fátima: “Quero agradecer aos benfeitores da AIS, porque nesta hora sombria para a Venezuela, os 50 sacerdotes, as 60 religiosas, os seminaristas e diáconos da diocese de La Guaira podem comer graças à vossa contribuição solidária e constante. Muito obrigado!” Na Venezuela, as irmãs e os sacerdotes pedem esmola para ajudarem os mais pobres dos pobres da sociedade. Muitos deles serão até portugueses. Já alguma vez pediu esmola?
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