Missão |
Alice Santos, Juventude Mariana Vicentina
Um lugar onde o tempo não tem o mesmo tempo
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Alice Santos nasceu em Viseu, em 1984. É licenciada em Psicologia pela Universidade do Minho. Aos 13 anos integrou-se na Juventude Mariana Vicentina e, em 2016, partiu por onze meses para Moçambique.


Lugares mágicos onde pudesse fazer a diferença

Sempre viu o seu nome associado à ‘Alice no País das Maravilhas’, sendo a frase que mais ouviu ao longo do seu crescimento. Considera que o ouvia muito legitimamente “porque como a Alice da história sempre gostei de sonhar e de me imaginar em lugares mágicos onde pudesse realmente fazer a diferença”. “Contudo, nunca sonhei sozinha. Os meus pais e os meus irmãos mais velhos, que embora de origem muito modesta, me ensinaram valores como a persistência, a justiça e a igualdade de oportunidades, caminharam comigo no aprofundamento da minha fé. Ataram o meu coração a Deus e os sacramentos que fui recebendo foram ganhando corpo e mais força com a minha integração na Juventude Mariana Vicentina (JMV) quando tinha apenas 13 anos. Por ser algo que sempre ansiei com muita força, a minha vivência na JMV foi sempre experienciada com muita intensidade. Naqueles momentos partilhados com tantos outros jovens, os sonhos cresciam e a vontade de partir mais além e partilhar a fé por aquele ‘Amor Maior’ ia aumentando”, descreve Alice Santos. “Ao longo da adolescência participei em vários campos de missão, fiz parte de alguns pequenos projetos de voluntariado e recebia, com muita admiração, as histórias que os missionários Combonianos partilhavam em alguns encontros da minha diocese. Quando fiz 16 anos, nasce o meu irmão mais novo e de uma menina cheia de sonhos, nasce uma mulherzinha com uma responsabilidade maternal e que compreende que o sonho de partir teria de esperar”, partilha.

Na altura que entrou na universidade, o grupo JMV da localidade foi extinto, mas continuou a participar na paróquia como catequista de alguns grupos. Quando concluiu o seu curso, teve a oportunidade de trabalhar em alguns agrupamentos de escolas - o que lhe permitiu “viajar e viver em várias cidades, de norte a sul, tendo crescido e amadurecido de uma forma exponencial”. Teve então a “ousadia de fazer renascer a JMV na paróquia e criar um novo grupo, com novos sonhos, tendo começado uma nova fase no meu percurso cristão e no movimento” onde veio a desempenhar vários cargos ao nível local, regional e nacional.

 

Encontrar Deus nos mais pequenos gestos

Sobre a realização do seu sonho de missão em Moçambique, Alice Santos partilha o seu testemunho, na primeira pessoa: “A pequena Alice que vivia cheia de sonhos como a ‘Alice da estória’ cresceu e jamais deixou de sonhar! E, num ato de coragem e alguma loucura (porque não é fácil deixar para trás a família, o trabalho e uma série de expectativas sociais que têm sobre ti), fui à procura do meu ‘País das Maravilhas’! Encontrei-o em Moçambique, aos 33 anos, quando integrei o Projeto Missionário da Juventude Mariana Vicentina ‘Renascer Pra Esperança’. Parti no dia 5 de setembro de 2016 e, ao longo de 11 meses, descobri as maravilhas de um lugar onde o tempo não tem o mesmo tempo, o céu não tem a mesma cor e certamente os pássaros não têm o mesmo canto. A beleza do país aumenta quando conhecemos as suas gentes, que nos ensinam de forma tão dura e realista um novo significado para a palavra ‘coragem’. No meio de tanta miséria, há uma riqueza nos gestos de bondade e na partilha do pouco que têm com o forasteiro que chega. Há uma força inabalável que de forma mágica lhes é concedida desde tenra idade e lhes pauta uma vida de luta, sem medos e com a espontaneidade de um sorriso que nos conquista. No Centro Renascer Pra Esperança, sob a gestão dos Padres Vicentinos do Monte do Chirrundzo em Chinhacanine, onde desenvolvi a grande parte da minha experiência missionária, encontrei pequenos guerreiros que nos ensinam a viver a vida em plenitude. A missão chegava a muitas crianças e velhinhos que, esquecidos por todos, vivem (ou sobrevivem) em condições muito humildes! As palhotas feitas de palha e as camas improvisadas em cima das esteiras são muitas vezes o único conforto que têm para descansarem os corpos da fome e cansados das longas jornadas nos campos secos. E, mesmo com fome ou com os pés feridos de andarem descalços, mesmo sem brinquedos no sapatinho na manhã de Natal, mesmo sem registo de nascimento ou identidade, mesmo sem roupa interior ou outra que não seja rota e rasgada, mesmo sem saberem que carregam já a dura realidade da doença do H.I.V., mesmo assim… estas crianças são felizes sem queixume! Para além da reativação de um Refeitório Social que acolhia cerca de 50 crianças dos 0 aos 12 anos e lhes prestava cuidados ao nível da alimentação, higiene e educação, a missão fez-se também no acompanhamento de alguns jovens que viviam em regime de internato, no Centro. A Escola Agrária onde viemos a dar aulas foi outro desafio que abraçámos com muita alegria e que nos permitiu partilhar tantas experiências enriquecedoras. Nas comunidades Deus fez-se presente em cada celebração, em cada “Hoyo-hoyo” sentido, em cada gesto sincero que as gentes moçambicanas partilhavam connosco. É como se conseguisses tocar o céu… e encontrar Deus nos mais pequenos gestos. Sentir as Suas mãos naquelas pequenas mãos, ver o Seu rosto naqueles sorrisos puros, sentir o Seu amor e misericórdia nos braços que te abraçam de forma tão genuína! É possível ser mais feliz?!”, questiona.

texto por Catarina António, FEC | Fundação Fé e Cooperação
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