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Crise humanitária no Sudão do Sul afecta milhões de pessoas
Tragédia sem fim
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A guerra com contornos tribais no Sudão do Sul está a provocar uma crise humanitária que afecta já milhões de pessoas. Por causa da violência demente que tomou conta do país, muitos foram forçados a fugir até de suas casas. A maioria dos refugiados são crianças. E, por serem cristãs, sofrem a dobrar. Há relatos de meninos que fugiram para o Sudão mas que só recebem comida se recitarem orações islâmicas…

Primeiro, os números da tragédia. Desde que eclodiu a guerra entre partidários do presidente Salva Kiir e do ex-vice-presidente Riek Machar, milhares de pessoas já perderam a vida e pelo menos 3 milhões tiveram de fugir de suas casas e estão agora em campos de refugiados na região. Esta é, sem qualquer dúvida, uma das maiores crises humanitárias em África. Em confronto estão dois grupos rivais que correspondem às duas principais etnias do país: os dinka e os nuer. O presidente Salva Kiir pertence à etnia dinka, enquanto o seu antigo braço-direito é um nuer. Depois dos números, o horror. Desde Fevereiro que o próprio Governo já declarou que em diversas áreas do Sudão do Sul as populações passam fome. Fome.

 

Atrocidades

Como se não bastasse tudo isto, são cada vez mais os relatos de atrocidades inimagináveis que têm vindo a ser cometidas contra as populações. Mesmo nos campos de refugiados. Até nas igrejas. Ninguém se sente seguro em lugar algum. Todos os dias há novas histórias de violações de mulheres e raparigas, de crianças forçadas a pegar em armas. De massacres. No mês passado, os bispos do Sudão do Sul publicaram uma Carta Pastoral onde denunciam este horror que tomou conta do país. “As pessoas têm medo”, escreveram os prelados, acusando todas as partes envolvidas no conflito de “matarem, roubarem e saquearem” aldeias inteiras, levando à fuga de milhares de pessoas, “muitas para países vizinhos”. Os bispos falam mesmo em “crimes de guerra”. Houve casos – afirmam – de “pessoas trancadas em casa e queimadas” vivas. “Há um total desrespeito pela pessoa humana”, pode ler-se ainda na Carta Pastoral.

 

Chantagem

Uganda, Quénia e Sudão são alguns dos países que mais têm acolhido os refugiados provenientes do Sudão do Sul. Sinal maior da tragédia em curso é o facto de mais de 60 % desses refugiados serem crianças. Tanto a Igreja como as agências humanitárias que trabalham na região sublinham esse facto. E muitas destas crianças estão sozinhas, perderam os pais, a família. Muitas fugiram para o Sudão, um país maioritariamente muçulmano que tem sistematicamente perseguido a comunidade cristã. E ninguém escapa a isso. Mesmo quando são apenas crianças, mesmo quando são órfãos. Relatos que têm chegado à Fundação AIS dão conta de situações de verdadeira chantagem, ocorridos em campos de refugiados, em que crianças cristãs provenientes do Sudão do Sul só recebem alimentos se recitaram previamente orações islâmicas. Se não o fizerem, ficam sem comida.

 

Perseguição

E a Igreja, no Sudão, praticamente não pode fazer nada. O Governo impede que organizações de ajuda humanitária prestem socorro aos refugiados, e os sacerdotes e as congregações religiosas estão incluídos nesse lote. Além disso, o clima de perseguição tem vindo a agudizar-se nos últimos tempos. Um padre, que por questões de segurança não pode revelar a sua identidade, afirmou recentemente à Fundação AIS que “o Governo tem vindo a destruir as igrejas alegando que se trata de medidas de planeamento urbanístico, mas as mesquitas, no entanto, continuam de pé…” A destruição de templos e edifícios paroquiais é uma forma astuta e cruel de se acabar com a presença da Igreja no Sudão. É que a Igreja Católica, além de estar impedida de receber qualquer ajuda proveniente do exterior, está também proibida de adquirir novas propriedades. Por isso, as igrejas demolidas não voltam a ser reerguidas. Há uma tragédia em curso nesta região de África e que afecta profundamente a comunidade cristã. Fome, violência, atrocidades, guerra e perseguição religiosa. Perante esta tragédia sem fim, a Fundação AIS já assumiu como prioritária a ajuda aos refugiados do Sudão do Sul. Será que o mundo não vê o que se está a passar?

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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