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P. Duarte da Cunha
A Europa, os jovens e a Igreja

Em Minsk (Bielorrússia), de 28 de setembro até Domingo, 1 de outubro, estiveram reunidos os presidentes das Conferências Episcopais de todo o continente para a Assembleia Plenária do CCEE (Conselho das Conferências Episcopais da Europa). Trata-se de um encontro anual que o Secretariado do CCEE, do qual, desde há nove anos, sou Secretário Geral, organiza, e que nos tem levado a conhecer um pouco toda a Europa. Cada ano, conforme os convites, é escolhido um lugar diferente. Para além das reflexões e da partilha sobre questões atuais que se apresentem como desafios mais ou menos comuns, os bispos presentes ficam a conhecer algo da Igreja local e mostram às comunidades locais a dimensão católica da Igreja.

Budapeste, Paris, Zagreb, Tirana, St. Galo (na Suíça), Bratislava, Roma, Terra Santa, Mónaco e agora Minsk foram os lugares das últimas Assembleias. Já pela variedade se pode ver que vivemos num Continente onde apesar de haver tanto em comum também há tantas diferenças. Esta é a beleza do nosso continente. E também o grande desafio: reforçar sempre e cada vez mais os laços de comunhão sem impor uma homologação.

No final do encontro deste ano, que tratou dos jovens, em vista do Sínodo dos bispos convocado para o próximo ano, e da missão da Igreja na Europa enquanto continente, os bispos apresentaram uma mensagem dirigida a todas as pessoas que partilho agora com o jornal VOZ DA VERDADE. Mais informações podem ser vistas em www.ccee.eu. Diziam aí os bispos:

A Igreja ama a Europa e acredita no seu futuro: a Europa não é só uma terra, mas uma incumbência espiritual. (...). A missão do Conselho das Conferências Episcopais da Europa é o de promover a comunhão entre os pastores das várias nações, e de descobrir os caminhos que permitam voltar a ressoar no coração do “homem europeu”, da cultura e da sociedade a voz do Senhor Jesus Cristo: a dignidade humana onde poderá ser ancorada com solidez se não em Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem? Este é o contributo específico do cristianismo à identidade europeia, e os dois mil anos de caridade, arte, cultura são disso testemunho. (...) Apesar das invetivas que tendem a separar e isolar, acreditamos naquela unidade de ideais espirituais e éticos que desde sempre é a alma e o destino das Europa. Tal como acreditamos num contínuo caminho de reconciliação que é parte não só da história, mas da vida, e que conduz ao respeito e à valorização das diversas tradições e religiões, para lá de qualquer extremismo.

A abertura à religião, à transcendência, às relações solidárias, à comunhão, adquiriu um rosto no Evangelho, e revelou a dignidade única que tem cada pessoa humana; inspirando deste modo o caminho, nem sempre fácil, da Europa que também viu limites e erros. O próprio fenómeno da imigração é iluminado por esta alma, no acolhimento, na integração e na legalidade temos disso claros sinais, e apesar de dificuldades e temores, estamos conscientes da necessidade do esforço de uma responsabilidade comum.

Aos povos e às Nações exprimimos o nosso encorajamento para reagir às fortes instigações do secularismo que impelem a viver sem Deus ou a confiná-lo no espaço privado, alimentando a semente do individualismo e gerando solidão. Aliás, é sabido que a abertura à vida – em todas as suas fases – é indicativo do nível de esperança, e o índice de natalidade é o melhor sinal do estado de saúde da sociedade.

A realidade juvenil – tema do próximo Sínodo da Igreja – foi o outro tema a que dedicámos a nossa atenção colegial. Uma grande simpatia emerge dos episcopados europeus: simpatia que se traduz em oração, em maior proximidade, e no desejo de escutar e de acompanhar com paciência e amizade a nossa juventude. (...)

Durante os trabalhos emergiram também algumas preocupações, como a cultura liquida que todos respiram, a exasperação individualista muito difundida e que gera incerteza e solidão, e alguns conflitos e injustiças que ainda hoje ferem o grande bem que é a paz. Tudo isto é motivo que confirma o nosso empenho de estar junto aos jovens e de caminhar com eles; de fazer sentir que o Evangelho é o anúncio do grande “Sim” à vida, ao amor, à liberdade, à alegria: é dizer sim a Cristo. (...) Quanto gostaríamos que a palavra de Jesus chegasse ao coração da Europa: “não tenhas medo, eu estou contigo”. Não tenhas medo antiga Europa de ser tu mesma, retoma o caminho dos Pais que te sonharam como casa de povos e nações, mãe fecunda de filhos e de civilização, terra de humanismo aberto e integral. Sim, não tenhas medo, tem confiança! A Igreja “perita em humanidade” é tua amiga: com o olhar fixo em Jesus Cristo, e tendo na mão o Evangelho, caminha contigo em direção a um futuro de reconciliação, justiça e paz.”