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Pe. Alexandre Palma
Curiosidade

Vi, há não muito tempo, uma pequena entrevista a Walter Isaacson, autor de célebres biografias de grandes vultos da ciência e cultura, tais como Albert Einstein, Leonardo da Vinci ou Benjamin Franklin. Mais conhecida e divulgada terá sido a sua investigação sobre a vida de Steve Jobs. Retenho dessa entrevista uma pergunta que julgo decisiva: «O que fez destes homens autênticos génios»? Dela guardo, sobretudo, a resposta de Isaacson: «A curiosidade». Explico: na incrível diversidade de épocas e campos de trabalho, de perfis humanos e contextos culturais de cada um destes seus biografados, num ponto todos eles são incrivelmente semelhantes: a avidez pela descoberta. Este é o seu cromossoma comum. Claro está que para esses seus percursos muito contribuíram outros factores, de que a educação será apenas o mais evidente. Mas foi a curiosidade o impulso decisivo das suas grandes obras e descobertas.

A curiosidade parece ser comummente vista como característica dos percursos científicos. É bom que assim seja. Mas não podemos ficar apenas por aí. Precisamos também de reconhecer na curiosidade o impulso de percursos espirituais – genericamente, de todos os percursos humanos. Porque a curiosidade, antes de pertencer a este ou àquele domínio da actividade humana, pertence ao próprio Homem. Isto mesmo no-lo vêm mostrando tanto a psicologia como as neurociências. A própria palavra parece querer romper com qualquer forma de reducionismo: curiosidade vem de cura, ou seja, do cuidado. Há, pois, uma curiosidade pelo conhecimento que está na base do saber. Mas há também uma curiosidade pelo próximo que está na base de um sadio humanismo. Como há ainda uma curiosidade pelo sentido e alcance da vida que está na base da aventura espiritual. É certo que estas curiosidades são precedidas por algo que as desperta: nuns casos o fascínio do mundo, noutros o cuidado do próximo ou a visita de Deus. Mas sem o élan da curiosidade esses estímulos não encontrariam da nossa parte resposta à altura. Importa, por isso, voltar a olhar a curiosidade não apenas como instrumento técnico, mas como autêntica virtude humana e espiritual. Isto será tanto mais necessário quanto atravessamos uma transformação profunda no modo como procuramos satisfazer a nossa curiosidade.

Corria o ano de 2012 quando, finalmente, a NASA fez descer um veículo sobre a superfície de Marte. Era sua missão explorar o planeta vermelho e ajudar a desvendar os seus mistérios. O seu nome era bem mais que um apontamento técnico. Era um autêntico projecto humano: chamava-se Curiosity. Levado pela força simbólica deste facto, parece que a curiosidade ajuda a desvendar não apenas o que vai na terra, mas também o que viaja pelos céus e, talvez mesmos, quem neles habita! E, depois dessa entrevista feita a Isaacson, também eu fiquei a pensar se não será também a curiosidade a fazer grandes Homens e grandes Santos.